Massacre na Palestina

Israel intensifica bombardeios em Gaza horas antes de Conselho da ONU discutir cessar-fogo

Conselho de Segurança se reúne a partir das 12h de Brasília para tentar votar resolução da Argélia que exige cessar-fogo imediato, mas há ameaça de veto dos EUA, que quer mudança no texto. Mais de 29 mil palestinos já foram mortos

UNOCHA/Samar Elouf
UNOCHA/Samar Elouf
Na semana passada, Israel anunciou que está preparando um ataque terrestre de grande escala à Rafah. O plano preocupa a comunidade internacional

São Paulo – O governo de Benjamin Netanyahu intensificou, nesta terça-feira (20), o ataque de mísseis contra a Faixa de Gaza. Ao longo da madrugada, os bombardeios atingiram principalmente o leste da cidade e o território Khan Younis, no sul palestino. Os ataques ocorreram horas antes de o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) iniciar sessão às 10h (12h no horário de Brasília), que pode aprovar uma resolução que exige cessar-fogo imediato no conflito entre Israel e o Hamas.

Iniciada no último dia 7 de outubro, em resposta à morte de 1.160 israelenses, a ofensiva militar de Netanyahu já provocou ao menos 29.092 mortos no lado palestino. A maioria das vidas perdidas são de mulheres, adolescentes e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde local. Há ainda quase 1,5 milhão de refugiados palestinos em Rafah, cidade do sul que fica na fronteira com o Egito. Na semana passada, Israel anunciou que está preparando um ataque terrestre de grande escala a Rafah, que poderá invadir até o início do Ramadã, caso o Hamas não liberte os reféns em seu poder.

Considerado um mês sagrado para os muçulmanos, o Ramadã começa em 10 de março. E o plano de Israel vem preocupando a comunidade internacional. Principalmente por atingir a cidade que tem sido o ponto de entrada da ajuda humanitária e o único ponto de saída da população de Gaza, que há quatro meses está sob cerco total de Israel. De acordo com a agência da ONU para os refugiados palestinos, a UNRWA, os bombardeios israelenses vêm impedindo as operações humanitárias e o abastecimento de alimentos e suprimentos de primeira necessidade nas demais cidades palestinas.

Debate no Conselho de Segurança

Nesta terça, outras duas agências das Nações Unidas alertaram que a escassez de alimentos e as doenças no território podem causar uma verdadeira “explosão” de mortes infantis, o que motivou a reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta terça. No sábado (17), a Argélia pediu para que fosse votada uma resolução, redigida por seus representantes, exigindo um cessar-fogo imediato por razões humanitárias.

O texto opõe-se “ao deslocamento forçado da população civil palestina”, em referência à evacuação de civis de Rafah exigida por Israel. Os Estados Unidos, principal aliado do governo sionista, ameaça, no entanto, vetar a proposta. A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, sinalizou que a proposta de resolução da Argélia coloca em risco as negociações sobre a libertação dos reféns que ainda estão sob controle do Hamas.

Com 15 membros, o conselho demanda que uma resolução, para ser aprovada, precisa que 9 deles votem a favor e que nenhum dos cinco membros permanentes (EUA, França, Reino Unido, Rússia e China) vete a proposta. Caso o texto de hoje seja vetado, essa será a terceira proposta rejeitada por voto dos Estados Unidos. No lugar, o país defende uma proposta alternativa, de sua autoria, que destaca um “cessar-fogo temporário em Gaza”. O rascunho, contudo, alerta que uma ofensiva terrestre em Rafah “causará mais danos aos civis e mais deslocamentos”.

Sem meias palavras

Ontem (19), especialistas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos (ACNUDH) pediram uma investigação sobre a suspeita de abusos contra mulheres e meninas palestinas cometidos por Israel. A partir de relatos, o grupo apresentou “alegações confiáveis de graves violações dos direitos humanos”. Incluindo assassinatos, estupros e outras agressões sexuais que teriam sido perpetradas por israelenses contra palestinos em Gaza e na Cisjordânia.

O massacre na Palestina também ganhou repercussão no Brasil com as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à ofensiva de Netanyahu. Durante coletiva na 37ª Cúpula da União Africana, em Adis Abeba, na Etiópia, Lula equiparou os assassinatos em série em Gaza ao Holocausto comandado por Adolf Hitler contra os judeus na Segunda Guerra Mundial. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o líder brasileiro.

O primeiro-ministro declarou o presidente brasileiro como persona non grata. Lula, no entanto, foi apoiado por autoridades e entidades. Além do Brasil, Canadá, Nova Zelândia e Austrália também tornaram pública uma declaração conjunta que pede ao primeiro-ministro de Israel que suspenda a operação militar.

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Redação: Clara Assunção, com informações da AFP, O Globo e Reuters