Abstenção do Brasil no Conselho de Segurança da ONU divide especialistas

Opção por não intervir é recorrente do ponto de vista do país, mas opção foi por abstenção (Foto: Paulo Filgueiras/ONU Divulgação) São Paulo – A escolha do Brasil de se […]

Opção por não intervir é recorrente do ponto de vista do país, mas opção foi por abstenção (Foto: Paulo Filgueiras/ONU Divulgação)

São Paulo – A escolha do Brasil de se abster na votação que adotou uma zona de exclusão aérea na Líbia gerou polêmica entre especialistas consultados pelo OperaMundi. Na quinta-feira (17), o Conselho e Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a medida por dez votos a favor e nenhum contra. Cinco integrantes do órgão se abstiveram (Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha). A resolução possibilita que a comunidade internacional adote “todas as medidas necessárias para proteger a população civil”.

Apesar da embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Viotti, ter garantido que a posição do Brasil “não significa uma aceitação do comportamento do governo líbio”, o professor de História das Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Williams Gonçalves, acredita que essa atitude vai contra o regime de Muammar Khadafi, porque inevitavelmente favorece um lado, o dos rebeldes.

“É lamentável que o Brasil tenha se abstido dessa decisão. Ela  contraria as diretrizes do país, que sempre se pautou pela defesa da autodeterminação dos povos”, disse Gonçalves. Para ele, o Brasil deveria ter votado contra a zona de exclusão. A abstenção significa uma “aceitação pacífica à ideia de intervenção e fere a soberania do Estado líbio”. E argumentou: “A zona e exclusão aérea é uma declaração de guerra à Líbia que, de agora em diante, está proibida por terceiros de utilizar seu próprio espaço aéreo”.

O professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Fagundes Vizentini, por sua vez, acredita que o Brasil acertou em não se posicionar em relação a aprovar a zona de exclusão aérea. “O posicionamento do Brasil era totalmente esperado. Desde 1961 votamos assim por defendermos a não intervenção externa em questões internas”, justificou.

Vizentini discorda de Gonçalves e acredita que o estabelecimento da zona de exclusão aérea dá “equilíbrio militar para que os rebeldes possam estar em uma situação menos desfavorável em relação às tropas pró-governo”. 

Já Gonçalves encara a determinação como uma “tentativa de derrubar o governo da Líbia”. “Cada vez fica mais claro que a revolta no país, ao contrário do que aconteceu no Egito, não é uma manifestação popular, mas sim uma manifestação estimulada por aqueles que têm interesse na queda do governo de Kadafi. Coincidentemente, são os mesmos que se colocam a favor dessa zona de exclusão aérea”, argumentou o professor da Uerj.

Para ele, a aprovação da resolução é um “sinal verde” para uma invasão ou intervenção de grande porte na Líbia por parte das forças internacionais, que têm o petróleo como principal interesse na região. “O objetivo é fazer da Líbia o novo Iraque”, acrescenta.

Durante a sessão do Conselho de Segurança da ONU, Viotti garantiu que “o Brasil não acredita que o uso da força seja o caminho para resolver os problemas da Líbia”. A representante permanente do Brasil na ONU acredita que “as medidas adotadas podem gerar mais danos do que benefícios” e que os problemas estão no texto aprovado. “Os movimentos no mundo árabe têm crescido internamente, e uma intervenção externa alteraria esta narrativa, tendo repercussões na Líbia e em outros países”, concluiu.

Fonte: OperaMundi