A Bento 16, Raúl Castro critica bloqueio econômico dos Estados Unidos

14 anos após João Paulo 2º, líder da Igreja Católica saúda mudanças na ilha, mas ouve do presidente que situação provocada por embargo está ainda mais grave

São Paulo – A visita do papa Bento 16 a Cuba, a primeira de um líder da Igreja Católica à ilha em 14 anos, teve início hoje (26) com um discurso cheio de referências a questões sociais e críticas ao capitalismo por parte do anfitrião, o presidente Raúl Castro, que enfatizou o embargo imposto há cinco décadas pelos Estados Unidos.

“O bloqueio econômico, político e midiático contra Cuba persiste e, inclusive, se endureceu no setor financeiro”, disse Castro, citando um memorando norte-americano em que se indica que a intenção da proibição às negociações comerciais de outras nações com a ilha é causar “fome, desespero e a derrocada do governo”.

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O discurso lembrou ainda a previsão feita por Fidel Castro, 20 anos antes, de que o atual sistema levaria a sérios problemas humanos por conta do uso indiscriminado de recursos naturais. O presidente fez relação com o atual quadro mundial, de crise financeira nas nações mais ricas, com consequências para os mais pobres. “Em vez de solidariedade, gera-se uma crise sistêmica, provocada pelo consumo irracional das sociedades opulentas. Uma ínfima parte da população acumula enormes riquezas enquanto crescem os pobres, os famintos, os doentes sem atendimento e os desamparados.”

Raúl Castro fez menção aos movimentos dos “indignados” da Europa, reunidos sob o mote “99% contra 1%”, referência aos lucros obtidos por uma ínfima parcela da população mediante o trabalho da grande maioria. “É certo que a crise global tem também uma dimensão moral e que prevalece a falta de conexão entre os governos e os cidadãos a que dizem servir. A corrupção da política e a falta da verdadeira democracia são males de nosso tempo.”

Dirigindo-se a Bento 16, o presidente disse ainda que os cubanos souberam se adaptar a frequentes problemas, fazendo mudanças que lhes garantiram a manutenção dos “ideias e dos objetivos”. Desde que assumiu a presidência, após a renúncia do irmão Fidel, Raúl vem conduzindo reformas que aumentam as possibilidades do mercado privado na ilha, como na compra de automóveis. 

Foi este o tema da fala do líder da Igreja Católica, que chegou a Santiago de Cuba, no sudeste, para uma visita que será encerrada na quarta-feira. “Estou convencido de que Cuba, neste momento tão importante de sua história, está olhando para o amanhã e, por isso, se esforça para renovar e ampliar seus horizontes”, declarou.