GUERRA

Resolução da ONU contra Rússia não serve para chegar à paz, afirma especialista

Professor da Universidade Federal do ABC diz que texto das Nações Unidas pode aumentar ofensiva das tropas russas

Sputnik / Mikhail Voskresensky
Sputnik / Mikhail Voskresensky
O oitavo dia da guerra da Rússia contra a Ucrânia registrou uma nova onda de ataques, após os russos tomarem a cidade de Kherson ontem (2)

São Paulo – A guerra entre a Rússia e a Ucrânia já completa oito dias, e embora entidades como a Organização das Nações Unidas (ONU) tenham se manifestado de maneira contrária, não há sinais de que o conflito será encerrado. Para o professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC (UFABC) Giorgio Romano Schutte, a resolução da ONU contra a ofensiva russa na Ucrânia não ajudará a promover a paz no Leste Europeu.

Em entrevista à Rádio Brasil Atual, nesta quinta-feira (3), o especialista diz que o documento da ONU não tem impacto econômico ou militar sobre a Rússia, considerado apenas uma “articulação política” para mostrar apoio à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O texto das Nações Unidas teve o voto favorável de 141 países e cinco contrários, além de 35 abstenções.

“Um grande bloco de países se absteve da votação e é contra o uso da ONU para condenar a Rússia. Estamos numa fase em que é preciso apresentar uma solução, não só mandar recado. Essa resolução não serve para chegar à paz. Essa pressão toda, na verdade, vai criar uma necessidade de chegar mais rápido aos fatos consumados. Tudo indica que Putin tinha imaginado mais divisão no campo ocidental, além dele ter subestimado Volodymyr Zelensky (presidente da Ucrânia)”, afirmou Giorgio.

Embora o desejo do Ocidente fosse o de a Resolução “condenar” a Rússia pela invasão, o texto mudou o verbo e apenas “deplorou a ação militar”. Em seu item 2, o documento  afirma que a Assembleia Geral: “Deplora, nos termos mais fortes, a agressão da Federação Russa contra a Ucrânia em violação com o Artigo 2 da Carta da ONU”. A resolução aprovada “reafirma o compromisso com a soberania, independência, unidade e integridade territorial da Ucrânia dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas estendendo a suas águas territoriais”. O texto “deplora o envolvimento da Belarus nesse uso ilegal da força contra a Ucrânia”.

Futuro da guerra

O oitavo dia da guerra da Rússia contra a Ucrânia registrou nova onda de ataques. Após os russos tomarem a cidade de Kherson ontem (2), as cidades portuárias de Mariupol e Odessa são hoje alvo de avanços das tropas. Ainda hoje, está prevista uma segunda reunião de negociações entre os dois países, na fronteira entre Bielorússia e Polônia. O primeiro encontro entre os dois países desde o início da guerra aconteceu na segunda-feira (28), mas terminou sem nenhum acordo ou avanço após mais de cinco horas.

O professor diz que os próximos passos do presidente Vladimir Putin são difíceis de serem previstos. “Nem os analistas russos sabem dizer onde o Putin quer chegar. Não há uma intenção explícita. A Rússia não colocou sua ideia na mesa, não disse se vai parar se indexar Donbas. A exigência até agora é para a Otan se afastar do leste europeu e também pela desmilitarização da Ucrânia”, explicou.

Ainda ontem, analistas internacionais chamaram a atenção para o baixo desempenho das forças militares russas. “Também não está claro o motivo do atraso das operações da Rússia, porque eles têm uma força militar muito superior. Eles tentam cercar a capital, Kiev, mas sem realizar grandes bombardeios. Enquanto isso, o Zelenski conseguiu reverter o quadro de impopularidade em seu próprio país”, acrescenta o especialista.

Confira a entrevista