‘Somos mesma família’, diz presidente chinês em encontro histórico
Analistas consideram que Partido Nacionalista de Ma Ying-jeou busca aumentar popularidade às vésperas das eleições de 2016
Publicado 07/11/2015 - 20h04
Operamundi – Os líderes da China e de Taiwan, Xi Jinping e Ma Ying-jeou, respectivamente, participam neste sábado (7) em Cingapura de uma reunião inédita, a primeira que os dirigentes têm desde a cisão política em 1949. “Somos família, e o sangue é mais espesso do que a água”, declarou o presidente Xi em alusão à cultura e história dos povos separadas pelo Estreito de Formosa.
O aperto de mão entre as duas Chinas – uma, a República Popular da China, comandada pelo Partido Comunista e a outra, a República da China, mais conhecida como Taiwan – durou cerca de um minuto. Já o encontro teve duração aproximada de uma hora.
Com um rígido protocolo, que incluiu: o acordo de que os líderes não se tratariam por presidente e sim por senhor, o uso de uma mesa redonda para que nenhum deles ocupasse uma posição de maior destaque que o outro e a ausência de bandeiras. O encontro também não resultou em nenhuma declaração conjunta, nem assinaturas de acordos.
Os líderes, no entanto, deram pequenas declarações antes da reunião. Para Xi, China e Taiwan deram hoje “um passo histórico” e ressaltou que é preciso trabalhar em conjunto “sem importar as dificuldades”.
De acordo com ele, os dois países vivem “um momento decisivo” no qual “não se pode repetir a tragédia histórica e não se podem perder os frutos do que já foi desenvolvido”.
Ma, por sua vez, ressaltou que a reunião “marca a história do futuro das relações” e reiterou que, apesar das duas partes terem “diferentes sistemas políticos”, elas desenvolveram “o diálogo e a cooperação”.
Após destacar dados que demonstram a melhora da relação entre os governos durante os últimos 22 anos, Ma salientou que é preciso continuar progredindo. Ele também propôs cinco pontos concretos, entre eles reduzir a animosidade, criar linhas diretas de comunicação e estabelecer os fundamentos para aumentar as relações comerciais.
Análises
A relação entre China e Taiwan melhorou a partir de 2009, quando foram trocadas mensagens entre os governos.
Com eleições periódicas desde 1990, Taiwan tem acompanhado, nos últimos anos, o crescimento do PDP (Partido Democrático Progressista), que defende a independência formal do território. O partido, inclusive, governou a ilha por oito anos (2000-2008). Mas, por ser um governo de coalizão, o partido teve que moderar o discurso separatista.
Acontece que em janeiro do próximo ano serão escolhidos os novos líderes de Taiwan e o PDP desponta como favorito para vencer o pleito.
Assim, “os separatistas acreditam que Pequim quer influenciar o resultado das eleições”, como explicou a editora da BBC na China Yu Wen.
Já o Partido Nacionalista Chinês, de Ma Ying-jeou, mantém a bandeira ideológica de uma reunificação com a China. Assim, muitos veem o encontro dos líderes como uma tentativa de impulsionar a popularidade do Partido Nacionalista às vésperas do pleito.
Há ainda especialistas que avaliam que Xi e Ma buscam um lugar na história como os líderes que intermediaram o fim da disputa de mais de meio século.
Recentemente, a China propôs a Taiwan um processo semelhante ao utilizado com Hong Kong, que se mantém autônoma de Pequim em uma série de aspectos, mas a proposta foi recusada.
Protestos
Manifestantes favoráveis à independência de Taiwan e contrários ao encontro dos líderes protestaram, neste sábado, diante do Parlamento em Taipé. Eles queimaram cartazes com fotos de ambos os chefes de Estado, chamando de Xi de “ditador” e Ma de “traidor”. Diversas pessoas foram presas pelos incidentes.
Os críticos de Ma em Taiwan temem que a aproximação com o Partido Comunista abra caminho para que Pequim tome o controle da ilha.