Saudade dos anos de chumbo

Clubes militares emitem nota saudando o golpe que apeou Jango do poder

Clubes militares fizeram simpósio, mas não há programação para o 31 de março, data escolhida pelos militares para comemorar o golpe (Foto: Reprodução)

Sem referência direta à decisão do Exército de retirar a comemoração do 31 de março de 1964 de seu calendário oficial, os presidentes dos clubes Militar, Naval e de Aeronáutica divulgaram um manifesto conjunto para lembrar os 47 anos do golpe de estado que tirou do poder o presidente João Goulart e deu início à ditadura, que durou até 1985. A nota diz que relembrar “os acontecimentos” de 64, “sem ódio ou rancor, é, no mínimo, uma obrigação de honra”. 

“Os clubes militares (…) homenageiam, nesta data, os integrantes das Forças Armada da época que, com sua pronta ação, impediram a tomada do poder e sua entrega a um regime ditatorial indesejado pela nação brasileira”, diz a nota, assinada pelo general Renato Cesar Tibau da Costa, pelo vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral e pelo tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista, todos da reserva. 

Com data de 24 de março, o documento da Comissão Interclubes Militares afirma ainda que “as Forças Armadas insurgiram-se contra um estado de coisas patrocinado e incentivado pelo governo, no qual se identificava o inequívoco propósito de estabelecer no País um regime ditatorial comunista, atrelado a ideologias antagônicas ao modo de ser do brasileiro”.

Na sexta-feira passada, os três clubes organizaram o simpósio A revolução de 31 de março de 1964 com os olhos no futuro Militar, no Rio. Não há programação prevista para esta quinta-feira, dia 31, data do golpe militar. 

Presidente do Clube Naval, o vice-almirante Ricardo Antônio da Veiga Cabral disse que a memória do movimento de 64 deve ser mantida porque o assunto continua em pauta, especialmente neste momento em que o Congresso discute a criação da Comissão da Verdade, que investigará os crimes cometidos durante o regime militar. Existe uma controvérsia sobre punir ou não os responsáveis por torturas a presos políticos.

“Tudo tem seu tempo e aos poucos vai caindo no esquecimento. Neste caso, não se deve deixar morrer porque continuam falando no assunto. Nessa história de Comissão da Verdade, só o outro lado fala. Se, pelo menos, nós tivéssemos um representante nessa Comissão… Muito do Brasil que somos hoje, do desenvolvimento econômico, nasceu da revolução. O ensino hoje distorce os fatos e chama de heróis os que não foram heróis”, sustenta o almirante

Ex-presidente do Clube Militar, o general Gilberto Barbosa de Figueiredo diz a História tem que ser feita através do conhecimento”.