Arte

Grafite, a manifestação artística das ruas

A nova forma de colorir as paredes da cidade, expressando a realidade social

As caveiras mexicanas foram inspiradas em uma de suas artistas preferidas: Frida Khalo (Foto: Billy Art) <span></span>Além de muros, Billy grafita quadros (Foto: Lauany Rosa) <span></span>O segredo do traçado está na mente e nas mãos (Foto: Billy Art)  <span></span>Por meio da arte, Billy recupera materiais que seriam jogados fora (Foto: Lauany Rosa) <span></span>Gato é um personagem frequente nos grafites de Billy (Foto: Billy Art) <span></span>Um dos primeiros trabalhos do grafiteiro (Foto: Billy Art) <span></span>Ele também recicla, pinta e reutiliza as latas de tinta transformando-as em obras de arte (Foto: Lauany Rosa) <span></span>

Nos últimos anos, o grafite ganha cada vez mais destaque nas ruas e espaços públicos. Manifestação artística urbana, ele teve origem na década de 1970, em Paris, mas se desenvolveu em Nova Iorque, nos Estados Unidos: os jovens expressavam, nas paredes da cidade, as críticas à sociedade e estampavam as formas de opressão a que eram submetidos. Aos poucos, as técnicas e desenhos do grafite ganharam estilo único, sempre refletindo a realidade das ruas e dos menos favorecidos.

No Brasil, ele surgiu em São Paulo, no fim dos anos de 1970, e ganhou traços novos, que trouxeram reconhecimento e tornaram o estilo brasileiro um dos melhores do mundo.

Em Limeira, o artista que mais se destaca no grafite é Everton Diego, 23 anos, o Billy. Sua arte está presente em várias ruas da cidade e seus desenhos chamam atenção pelos traçados marcantes e cores vibrantes.

Seu interesse pelo grafite veio aos 12 anos, quando ele andava de skate e participava de campeonatos pelo Brasil. Ao observar os desenhos e gravuras das ruas, teve o desejo de grafitar. Mas, como era uma época em que pouca gente do interior pintava, quem fazia não ensinava os outros. “Eles eram marrentos, não passavam as coisas. Então, como não conhecia ninguém, busquei informações sozinho” – conta Billy.

Como tinha vontade de grafitar e não sabia, Billy pichou prédios até ser pego pela polícia. Foi então que ele percebeu que “as pichações levavam apenas a competições para ver quem pichava em local mais alto”. Billy, então, passou a comprar revistas de artes plásticas e a buscar mais informações sobre o grafite.

As pesquisas fizeram com que ele admirasse o trabalho da artista mexicana Frida Kahlo, que fazia pinturas surrealistas, e de Jean-Michel Basquiat, norte-americano, um dos primeiros grafiteiros do mundo.

Com a influência de ambos, Billy pintou seus primeiros desenhos nas ruas de Limeira. “Não foi fácil, pois o desenho envolve o ambiente em que se está pintando; deixa de ser um trabalho só meu para ser de todos” – revela Billy, ao lembrar-se da dificuldade em explicar à polícia que, agora, ele não pichava, grafitava.

A maior dificuldade para o grafiteiro é o preço das tintas. Cada lata de spray custa de
R$ 13 a R$ 20 e são necessárias no mínimo três cores para se fazer um desenho. A dificuldade técnica também é um problema comum para quem começa. Billy demorou sete anos para aperfeiçoar o traçado do spray e explica o segredo: é o controle.

“O controle do traçado está na mente e na mão, você decide como quer que ele saia” – diz. Os traçados de Billy passaram por vários estilos, até que, em 2005, ele desenvolveu um jeito diferente de trabalhar com o spray.

Ao contrário da maioria dos grafiteiros, que usam traços finos, ele aderiu à técnica mais marcante, que utiliza traços grossos e definidos.

Inspirações

Ao contrário de muitos grafiteiros que fazem rascunhos em papel antes de pintar os muros, Billy deixa as ideias livres. “Não gosto de limitar o que vou fazer. Prefiro deixar as coisas acontecerem, gosto de chegar no muro e descarregar na hora. Tem de ter sentimento para pintar, não é só desenhar no papel e jogar no muro” – conta.

Além de improvisar nos desenhos, ele inova no trabalho fazendo pinturas em objetos diferentes, como garrafas velhas, latas de spray, fitas cassete, vinis e telas, etc. O que seria jogado fora, ele reutiliza. “Meu trabalho é o grafite, mas não me limito apenas a ele. Gosto de artes plásticas e tento inovar por meio dela” – afirma.

Entre os personagens presentes em seus grafites estão as caveiras mexicanas, corujas, gatos, pássaros, corações e sereias. Ele explica que a escolha desses personagens foi natural, pois prefere desenhos simples, parecidos com os que as crianças fazem, que envolvem sentimento e qualquer pessoa compreende a mensagem que ele deseja passar.

As temáticas de seus grafites têm quatro núcleos: amor, meios de comunicação, religião e política. Billy explica que o grafite envolve sentimento e, por isso, ele pinta temas relacionados ao amor. Também se utiliza dos grafites para criticar a mídia, especialmente a televisiva, o governo e a religião. “A religião engana muita gente e faz com que pessoas vivam uma realidade que não existe.”

A arte urbana

O grafite é uma arte que surgiu como um movimento cultural das minorias e ganhou respeito pela estética diferenciada e por ser uma sofisticada arte urbana, que se desenvolve no espaço público das cidades de forma democrática.

Os grafiteiros mais famosos do mundo são Banksy (Inglaterra), Kurt Wenner e Edgar Mueller (Alemanha), Eric Grohe (Estados Unidos) e Smug (Escócia). Entre os brasileiros, destacam-se Eduardo Kobra, os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo (que assinam suas obras como Os Gêmeos) e Ramon Martins, todos entre os melhores do mundo.

O americano Jean-Michel Basquiat talvez seja o mais célebre de todos. Ele marcou a geração dos anos 1970 com as mensagens poéticas que deixava nas paredes dos prédios abandonados de Manhattan. Basquiat foi reconhecido como um dos artistas mais significativos do final do século XX e seu trabalho foi classificado como neoexpressionista.

Escolha de lugares

Billy explica que a escolha de local para grafitar é aleatória. O artista prefere pintar em lugares abandonados ou esquecidos, pois acredita que, por meio do grafite, chamará atenção para um local que poderia ser usado em prol da população – e faz as pessoas refletirem a esse respeito.

O grafite dá a liberdade ao trabalho. “Para grafitar não é preciso saber desenhar bem; o essencial para um bom grafiteiro é criar uma identidade e desenvolver os traços para, aos poucos, ir se aprimorando.”

Billy sobrevive da arte que faz. Ele é contratado para pintar paredes de lojas comerciais, participa de eventos, faz quadros e objetos de decoração – em Limeira é comum ver lojas e vitrines grafitadas por Billy, que desenvolveu uma técnica para usar o spray no vidro sem deixar escorrer.

Ele também realiza seus trabalhos em cidades vizinhas como Araraquara, Sorocaba, Rio Claro, Americana e São Paulo, entre outras. O artista explica que, com a Internet, ficou mais fácil divulgar seu trabalho e levá-lo para outros lugares. Atualmente, em sociedade com amigos, Billy abriu um espaço chamado Rocky, na Avenida Doutor Trajano. No local são vendidas camisetas, chaveiros, quadros, bolsas e objetos de decoração grafitados por ele.

Além disso, o espaço é dividido em loja, estúdio de tatuagem e bar. O grafiteiro também possui Facebook (Arte Billy Billy) e Flicker, por meio dos quais dá para ter acesso aos seus trabalhos e entrar em contato para contratar seus serviços.