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Jogadores da seleção brasileira vão usar uniforme preto contra o racismo no futebol. Preconceito tem raiz histórica

Amistoso contra Guiné, neste sábado, marca protesto depois de ataques sofridos por Vini Jr. Que estará em campo

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Presidente da Fifa conversou com Vini Jr. e prometeu 'medidas duras'

São Paulo – Ainda com técnico interino (Ramon Menezes), a seleção brasileira entra em campo amanhã (17) para enfrentar Guiné usando pela primeira vez camisas pretas. Será um protesto contra o racismo no futebol, mazela que ganhou repercussão global com o episódio vivido recentemente pelo atleta Vini Jr., do Real Madri. O amistoso, por sinal, será disputado na Espanha, onde ele sofreu seguidos ataques racistas. Vini Jr. estará em campo.

Ontem (15), o presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Gianni Infantino, visitou a seleção brasileira no hotel onde a delegação está hospedada, em Barcelona, e falou em “medidas duras” contra o racismo. Ele se reuniu com o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, e com atletas da seleção, especialmente Vini Jr. O treinador convocou 23 atletas para dois amistosos, o deste sábado, às 16h30, em Barcelona, e o da próxima terça (20), às 16h, em Lisboa, contra Senegal.

Muitos não têm voz

“É uma manifestação muito importante, não só pelo caso do Vinícius, mas por todos os casos”, afirmou Rodrygo Goes, também convocado para os amistosos e companheiro de Vini Jr. na equipe madrilenha. “A gente sabe que muita gente passa por isso e às vezes não tem voz. Nesse caso do Vini, eu acompanhei, estava ali dentro de campo, eu vi como foi realmente. Foi um dia muito triste. Eu também senti isso na pele. Por isso, essa ação é muito importante e eu espero que o mundo inteiro dê continuidade nessa manifestação”, acrescentou o jogador, em declaração ao site da CBF.

Para ele, a Espanha não é um país racista. O problema é global, ressaltou. “O racismo está no mundo inteiro. Pode haver pessoas aqui que sejam racistas, mas a Espanha não é. Eu estava ali dentro de campo e ouvi o estádio todo gritando mono (macaco, em espanhol). Eu acompanhei de perto, eu sou negro também como o Vinícius, e ter vivido isso de perto foi bem complicado pra mim. Então eu acho que esse amistoso é uma manifestação muito grande e muito necessária.”

Racismo e homofobia

O próprio Brasil é um país com histórico de racismo, que continua presente, em todos os setores, inclusive no seu esporte mais popular. Clubes rejeitavam negros em suas equipes. Campeão carioca há exatos 100 anos, em 1923, o Vasco da Gama, por exemplo, sofreu pressão de outros clubes para expulsar seus atletas negros. Havia “teses” de que jogadores negros não tinham estabilidade emocional. Mesmo governantes se pronunciaram contra a presença de jogadores negros, porque isso iria contra suposta “identidade europeia”. Muitas dessas histórias estão relatadas, em pormenores, no livro clássico O Negro no Futebol Brasileiro, de Mario Filho, cuja primeira edição é de 1947.

O episódio envolvendo Vini Jr. repercutiu, mas não é isolado. Casos de racismo se repetem pelos campos afora. Em 2014, ficou famoso um caso envolvendo o então goleiro Aranha, que defendia o Santos em partida contra o Grêmio, em Porto Alegre, e ouviu insultos de parte da torcida.

Além do racismo, a homofobia faz parte do cotidiano do futebol. Nesta semana, o Corinthians foi condenado a jogar uma partida sem público em seu estádio porque parte de sua torcida entoou cantos homofóbicos durante partida contra o São Paulo, no mês passado.


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