'Insanidade'

Lula diz que oposição adota discurso ‘lacerdista’ e cobra respeito à democracia

'Quem ganhar vai governar. Não somos imbecis', afirma ex-presidente em ato de fechamento de campanha no qual acusou revista Veja de 'tentativa de golpe' contra Dilma. 'Não se pode deixar pra lá'

Heinrich Aikawa/Instituto Lula

Lula durante ato em São Bernardo, no fechamento de campanha: recados a opositores e a setores da mídia

São Bernardo do Campo – O último ato em São Paulo em apoio à presidenta Dilma Rousseff, candidata do PT à reeleição, reuniu uma multidão nas ruas do centro de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, na manha deste sábado (25), véspera da eleição. Vestidas de vermelho e portando bandeiras de todas as cores, milhares de pessoas se agitaram ainda mais quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, subiu num carro na avenida Marechal Deodoro, onde já estavam o senador Eduardo Suplicy e o prefeito Luiz Marinho, entre outros líderes políticos.

O ex-presidente não discursou, em atendimento à lei eleitoral. Apenas fez acenos e abraçou eleitores. Porém, ele quebrou o silêncio com jornalistas ao comentar a publicação da revista Veja, da Editora Abril. Criticou a revista por mais uma “tentativa de golpe” contra ele e Dilma, acusados de ter conhecimento de um suposto esquema de propinas usando verbas da Petrobras. A exemplo do que afirmou ontem a presidenta em seu programa eleitoral e no debate da Globo, Lula disse que a semanal passou dos limites.

“O que a Veja fez foi o papel da insanidade da imprensa marrom desse país, de um segmento da imprensa que nós já conhecemos bem, que tenta interferir no processo eleitoral”, afirmou. “Veja chegou ao limite, conseguiu fazer o impossível, que ninguém acreditava que fosse possível ser feito. Conseguiu inventar uma mentira e não tem ninguém devendo absolutamente nada.”

O ex-presidente afirmou que desta vez irá acionar a Justiça contra a semanal por entender que houve o cometimento de um crime. “Acho que o que a Veja fez não se pode deixar pra lá. Ela exagerou. A gente não pode nem chamar de imprensa marrom. Eu não sei como o diretor ou editor consegue colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilamente.”

Na conversa com os jornalistas, Lula comentou ainda o tom de políticos ligados a Aécio, que nos últimos dias têm buscado deslegitimar a eventual reeleição de Dilma ao evocar denúncias de corrupção e a possibilidade de um resultado apertado contra o tucano. O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman chegou a escrever que o Brasil rejeitou o PT. Ao avaliar os resultados do primeiro turno, ele disse que o país dos “trabalhadores e empresários” votou majoritariamente contra o governo, que seria sustentado simplesmente pelos “excluídos”, vistos por ele como ilegítimos para garantir a vitória petista.

Para Lula, trata-se de instalar um clima de instabilidade semelhante ao buscado pelo jornalista Carlos Lacerda, adversário ferrenho do presidente Getúlio Vargas. “O eleito vai ter de governar, construir sua base de governabilidade e vai ter de governar. O que me assusta é o discurso, eu diria, lacerdista, que só falta dizer: pode até ganhar, mas não vai governar. Quem ganhar vai governar. Não somos imbecis. Temos de respeitar a democracia.”

Em comentário semelhante ao de Lula, Padilha afirmou que Veja prestará contas à Justiça. E, apesar do tamanho do ato no centro de São Bernardo e da posição de vantagem de Dilma nas pesquisas, à frente do adversário Aécio Neves (PSDB), evitou o excesso de confiança e o clima de ‘já ganhou’. “Até o final da votação de amanhã não podemos baixar a guarda. A militância tem que calçar as sandálias da humildade porque a eleição ainda não está ganha.”

Para o assessor especial da Secretaria-Geral da Presidência da República, José Lopes Feijóo, ao lotar a rua, o ato foi mais uma resposta à Veja. “Assim como os brasileiros que lotaram as ruas de Recife, e ontem, o centro de São Paulo, os de São Bernardo querem que o país siga mudando, que sua vida continue melhorando. Não querem voltar à vida difícil que tinham antes.”

Clima

Ao som do jingle Coração Valente, misturado à bateria de uma escola de samba do município, estudantes, adultos, idosos, crianças no colo ou no carrinho, pessoas com deficiência e cadeirantes percorreram em festa o trajeto entre a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC até a Igreja Matriz, aproximadamente dois quilômetros.

Pela rua e pelas calçadas, em que se misturavam trabalhadores, jovens, militantes, simpatizantes, lideranças sindicais, políticos e até o ministro da Saúde, Arthur Chioro, fotógrafos disputavam os melhores ângulos. A multidão seguia se espremendo para ficar mais perto do ex-presidente Lula, que se limitava a sorrir, acenar e beijar crianças pequenas que chegavam a ele. Não houve discursos nem palavras de ordem no trajeto e nem na praça em frente à igreja.

Moacyr Lopes Júnior/Folhapress
Para Lula, população, mobilizada, não quer voltar à vida difícil que tinha antes