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Dilma precisará de mais ousadia para fazer reformas, defende diretor do Ibase

Na opinião de Cândido Grzybowski, presidenta reeleita não pode demorar para colocar em prática quatro reformas estruturais: política, agrária, tributária e democratização das comunicações

Cadu Gomes/Dilma 13

‘Sem pressão da sociedade as mudanças mais essenciais não vão acontecer’, diz especialista

São Paulo – Para responder ao fortalecimento do conservadorismo e fazer as reformas estruturais demandas pelos eleitores progressistas, a presidenta reeleita Dilma Rousseff (PT) “precisará de mais ousadia” em seu segundo mandato, avalia o diretor-geral do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), Cândido Grzybowski. “Caso contrário, estaremos caminhando para um empate e teremos uma democracia incapaz de gerar as mudanças que as ruas demandaram. Será uma batalha contra os interesses privados, o agronegócio e a força das igrejas. Dilma tem que ter ousadia.”

“Se Dilma ganhou é porque há confiança de setores da sociedade civil organizada que mais mudanças podem acontecer e porque há demanda por mais avanços. Os movimentos sociais foram decisivos, senão ela não ganhava”, ponderou. “No discurso de vitória, ela falou sobre unidade e disse que a oposição é parte do jogo, mas ela não avançou em falar por exemplo na política externa do país, na reforma agrária ou na universalização das políticas por meio da dubiedade das parcerias público-privadas. Festejamos que temos mais estudantes na universidade, mas são vagas privadas.”

Grzybowski lembrou que alguns movimentos sociais que estiveram ao lado da presidenta no segundo turno já se manifestaram dizendo que intensificarão a militância no ano que vem. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), por exemplo, divulgou uma nota prometendo mobilizações intensas em 2015, quando a bancada ruralista do Congresso crescerá 33%. Em entrevista à RBA, o presidente do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Guilherme Boulos, afirmou que agora eles voltam às ruas para um momento de “grandes lutas para avançar no conjunto de reformas populares, que hoje estão bloqueadas no Brasil”.

“Sem pressão da sociedade as mudanças mais essenciais não vão acontecer. O que a gente espera do novo governo é mais ousadia. É mostrar que não se acomodou e que está lutando”, diz o diretor do Ibase.

Na opinião do especialista, existem quatro reformas principais que Dilma deve tomar como prioridade na nova gestão: a reforma política, a reforma agrária, a reforma tributária e a democratização da mídia. “Temos gargalos fundamentais na nossa frente. A reforma política não é só eleitoral, mas é também a democratização do judiciário, que perpetua uma cultura autoritária e que as vezes emperra a democracia. Sobre a imprensa, não podemos confundir liberdade de expressão com a voz dos que tem dinheiro e que não dá espaço para a diversidade deste país.”

“Para financiar as mudanças precisamos de dinheiro. A carga tributária é muito alta para os mais pobres e para a classe média. Temos que fazer rico pagar imposto, temos que enfrentar isso, nem que leve 10 anos”, disse.