ao ataque

Programa de Dilma compara Marina a Jânio e Collor e diz que é hora de pé no chão

Pela primeira vez horário da petista na televisão aposta em desconstrução da imagem da candidata do PSB, afirmando que salvadores da pátria e líderes do partido do 'eu sozinho' sempre acabaram mal

divulgação

Relação entre deputados da coligação de apoio a Marina hoje e o necessário para aprovar mudanças é preocupante

São Paulo – O programa de Dilma Rousseff (PT) na televisão direcionou pela primeira vez esforços integrais na desconstrução da figura da adversária do PSB, Marina Silva, deixando de lado o tucano Aécio Neves e o tom de enumeração de conquistas sociais e econômicas obtidas ao longo dos últimos quatro anos.

O horário da petista na TV hoje (2) aposta na reapresentação de trechos do debate no SBT em que a candidata à reeleição criticou o que considera inconsistências e perigos de Marina, afirma que “numa democracia ninguém governa sem partidos” e argumenta que as eleições de “salvadores da pátria” sempre foram problemáticas para o país. “Sonhar é bom. Mas eleição é hora de botar o pé no chão”, finaliza a inserção.

O programa traz como exemplos do insucesso de salvadores da pátria os ex-presidentes Jânio Quadros (31 de janeiro a 25 de agosto de 1961), que renunciou e fortaleceu a crise institucional que culminou com o golpe de Estado contra João Goulart em 1964, e Fernando Collor (15 de março de 1990 a 29 de dezembro de 1992), que sofreu impeachment após uma série de denúncias de corrupção.

Ambos foram representativos de fins de ciclos políticos transformadores no país: no caso de Jânio, o fim da era desenvolvimentista encabeçada por Getúlio Vargas – iniciada com a revolução de 1930, passando pelo golpe do Estado Novo em 1937, e pela eleição democrática de Vargas, em 1950, até seu suicídio em 24 de agosto de 1954.

No caso de Collor, o ciclo encerrado era a ditadura (1964-1985), sendo ele o primeiro presidente eleito de forma direta após o período. “Duas vezes na nossa história o Brasil elegeu salvadores da pátria, chefes do partido do ‘eu sozinho’. E a gente sabe como isso acabou”, destaca o programa.

Os petistas também dizem que Marina teria apoio de apenas 33 deputados, baseando-se na coligação dela – PSB, PPL, PPS, PHS, PRP, PSL e a ainda não registrada Rede Sustentabilidade – o que dificultaria a realização de suas propostas.

A Câmara Federal tem 513 deputados. Para aprovar um projeto de lei é necessário o voto favorável de ao menos 257 deputados. Uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) precisa de 308 votos.

Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, a Rede tem somente um candidato a deputado federal. Ele concorre sob a sigla socialista (PSB). Marina já anunciou que deixará o PSB quando conseguir o registro da Rede. Isso deixa sua possível base de apoio ainda menor. “Como acha que ela vai fazer isso (cumprir promessas) sem fazer acordos?”, questionam os petistas.

Trechos do debate de ontem são utilizados, como o questionamento feito por Dilma a Marina sobre como pretende cumprir as promessas de campanha – cujo orçamento seria de R$ 140 bilhões – cortando ministérios, reduzindo a importância da reserva de petróleo do pré-sal e a arrecadação de impostos.

A campanha de Marina mantém o mesmo tom dos dias anteriores, igualando “nova política” a “atitude ética, sem ataques aos adversários, com propostas claras”. E destaca duas propostas de seu programa de governo: ensino integral e investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em saúde pública. Quanto ao primeiro, novamente não apresenta valores ou tempo para realização, apenas que em Pernambuco se fez mais do que em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

Sobre o segundo, garante uma articulação política para aprovar a proposta no Congresso, o que vai de encontro às perspectivas da base de apoio que Marina pode ter no parlamento.

A campanha de Aécio revisita programas já apresentados – ressaltando que é preciso tirar o PT do poder, mas que Marina não tem experiência, embora a respeite – e não faz menção ao debate de ontem.