Existe amor em SP

Marina descumpre promessa, sobe em palanque tucano e troca afagos com Aécio

Tucano esquece acusações contra adversária, agora vista como parceira de uma 'mudança extremamente qualificada'. Ex-senadora volta a comparar Aécio a Lula por compromisso com política social

Marcos Fernandes/ Coligação Muda Brasil

O presidenciável tucano Aécio Neves celebrou aliança com ex-candidata do PSB Marina Silva como um “momento muito marcante e histórico”.

São Paulo – O candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves (PSDB), encontrou-se no final da manhã de hoje (17), em São Paulo, com a ex-senadora Marina Silva (PSB), terceira colocada no primeiro turno das eleições presidenciais. Foi a primeira vez que os dois políticos apareceram em público juntos desde que ela anunciou apoio ao ex-adversário tucano, no domingo passado. O encontro ocorreu em um saguão do E Business Park, na zona oeste da capital paulistana, local usado algumas vezes durante a campanha da candidata do PSB, e foi acompanhado por integrantes de ambas as candidaturas, como Aloysio Nunes, vice-presidente na chapa de Aécio, Beto Albuquerque, que disputou o primeiro turno como vice de Marina, e Walter Feldman, da Rede Sustentabilidade.

“A forma como Marina participa desse projeto é o que mais dignifica a política brasileira. De forma altiva, contribuindo com nosso programa. Isso me dá um conforto muito grande”, destacou Aécio durante entrevista coletiva, classificando o encontro como “momento muito marcante e histórico”.

“Estou extremamente agradecido à generosidade da candidata Marina, que não fez qualquer tipo de exigência, apenas propôs o aprofundamento de algumas questões que nós, inclusive, já tratávamos em nosso programa de governo”, acrescenta o tucano, que representa a maior chance de vitória presidencial do PSDB nos últimos 16 anos.

Aécio esquivou-se de responder qual papel Marina poderia desempenhar caso seja eleito o novo presidente da República, no próximo dia 26, tampouco se a ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula iria subir no palanque tucano nestes últimos dias de campanha. “Não se falou até agora de futuro governo, mas sim da construção de um novo projeto para o Brasil, e caberá a ela (Marina) decidir de que forma ela ainda participará. A forma como ela participou até agora, para mim, já é um apoio absolutamente extraordinário.”

Durante o primeiro turno, o senador mineiro partiu para críticas contra a atual aliada, atendendo aos apelos de integrantes de sua campanha, quando estava ameaçado de ficar fora de um eventual segundo turno nas eleições. “O Brasil não aguenta mais uma nova aventura, uma incerteza no seu horizonte”, disparava Aécio,à época em que Marina era a candidata com a segunda maior intenções de votos. A propaganda do tucano afirmava ainda que Dilma Rousseff e a ex-senadora tinham candidaturas iguais em termos de corrupção, já que ambas integravam o governo Lula quando da denúncia do mensalão.

Os ataques do tucano cessaram poucas semanas antes do primeiro turno, por orientação direta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, intermediário da aliança, que argumentou que as críticas direcionadas a Marina Silva acabavam por favorecer a candidata à reeleição.

Aécio também desqualificava a ex-senadora, que construiu sua trajetória política ao longo de mais de vinte anos no PT, reforçando que jamais havia sido filiado ao partido e que Marina havia se colocado no passado contra a política econômica do PSDB.

Durante um tempo, até a equipe montada em torno da Marina Silva era atacada por Aécio, que a qualificava como um time de segunda divisão”, enquanto os tucanos tinha em seu campo político uma seleção brasileira”.

Mas com o passar de algumas semanas fez Aécio mudar o discurso e dizer, agora, que a equipe de Marina é qualificada. “Agora eu estou tendo o privilégio de liderar uma mudança extremamente qualificada. Basta olhar o nosso entorno aqui, é uma amostra, é um extrato da qualidade dos companheiros com os quais nós vencemos as eleições”, gaba-se Aécio, chegando ao ponto de colocar os apoios conquistados de PPS, PSC, PV e PSB para sua candidatura no mesmo patamar da convergência partidária em torno da Aliança Democrática de Tancredo Neves e José Sarney, que derrotou a chapa de Paulo Maluf e Flávio Marcílio nas eleições indiretas para presidência da República de 1985.

Ao encerrar, o candidato tucano aproveitou a deixa de uma pergunta sobre o debate presidencial promovido pelo SBT, ontem (16), para acusar a presidenta Dilma Rousseff de fazer uma campanha suja e sem propostas. “Talvez é a pior eleição, do ponto de vista ético, dos últimos tempos. A verdade é que o desespero dos nossos adversários está levando eles a perder a noção, a sensatez de que a disputa política não é uma guerra”, diz, atribuindo que os ataques são exclusividade dos petistas e que ele apenas reagirá a “todas as ofensas, as calúnias e as mentiras”.

De sonhática à programática

Antes da coletiva do presidenciável tucano, Marina Silva conversou com os jornalistas presentes no encontro em São Paulo e justificou como um movimento da mudançasua adesão à candidatura de Aécio. Não é mudança pela mudança, mas é a mudança qualificada, que preserva as conquistas, que encara os desafios”, frisa. É por isso que, neste momento, eu estou aqui como parte desse movimento que se dá em cima de um compromisso que, no meu entendimento, pode ajudar a melhorar o Brasil para todos nós e a unir o Brasil pelo bem de todos nós.

No final de junho, Marina, então pré-candidata a vice-presidente na chapa de Eduardo Campos, havia prometido que tanto ela como a Rede Sustentabilidade, seu grupo político, não subiriam em hipótese alguma no palanque do PSDB, em resposta ao apoio do PSB, seu partido oficialmente, ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

Não vamos apoiar a aliança. O melhor caminho seria o da candidatura própria. Não sendo, a Rede está discutindo se participará com a candidatura ao Senado, disse à época para o programa “É Notícia”, na Rede TV.

Hoje, ao justificar seu apoio ao tucano, Marina chegou novamente a compará-lo com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em junho de 2002 divulgou a Carta ao povo brasileiro”, na qual propunha um pacto com a população e de que assumiria uma série de compromissos para garantir a estabilidade econômica do país caso fosse eleito.

Doze anos depois, você (Aécio) faz o mesmo gesto. Diz que vai recuperar o que se perdeu no atual governo, que é a estabilidade econômica e diz que vai manter as políticas sociais que foram ampliadas e aperfeiçoadas durante o governo do presidente Lula”, associou Marina, em referência a uma carta com compromissos que o presidenciável do PSDB apresentou no último sábado (11), no Recife, no qual promete, entre outros, fazer uma política ambiental sustentável, priorizar o ensino integral no país e trabalhar para que o Congresso Nacional aprove o fim da reeleição para cargos executivos.