com sindicalistas

Marina fala em ‘revisitar’ fator previdenciário para encontrar ‘fórmula correta’

Candidata volta a dizer que não retrocederá 'um milímetro' em direitos trabalhistas. Ato com sindicalistas é realizado em São Paulo após críticas de adversários sobre risco de retrocesso no emprego

Fotoarena/Folhapress

Marina e Beto Albuquerque foram recebidos por lideranças sindicais na Casa de Portugal, no centro de São Paulo

São Paulo – A candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, reconheceu hoje (23) durante encontro com sindicalistas em São Paulo o “aumento” no número de postos de trabalho no país e prometeu “revisitar” o fator previdenciário para que não prejudique os trabalhadores. A ex-ministra do Meio Ambiente não se comprometeu, porém, com o fim da base de cálculo que reduz o benefício aos brasileiros que decidem se aposentar por idade – e não por tempo de serviço.

“Vamos revisitar o fator previdenciário, que Fernando Henrique Cardoso criou e que o PT criticou, mas manteve”, discursou Marina, lembrando que nem Lula nem Dilma mexeram na criação do PSDB. “Queremos encontrar uma forma (de cálculo) correta que não penalize o aposentado e o trabalhador, porque a corda sempre rompe do lado mais fraco.”

Criada em 1999, a fórmula de cálculo do valor da aposentadoria é alvo de críticas de centrais sindicais, que buscaram negociar com o governo Dilma Rousseff (PT) alternativas. Uma das possibilidades para substituir o fator é a fórmula 85-95, que daria direito a aposentadoria para mulheres quando a soma de idade e tempo de contribuição previdenciária chegar a 85 anos, e para homens quando a soma atingir 95. Não houve, porém, acordo para a derrubada do modelo em vigor devido ao impacto alegado pela equipe econômica da atual administração.

Marina Silva foi recebida por líderes sindicais na Casa de Portugal, região central de São Paulo. Dirigentes de federações e centrais, como UGT, CGTB, Força Sindical e CTB, manifestaram apoio à sua candidatura. De acordo com o presidente do PSB, Roberto Amaral, é um grupo de sindicalistas que “não se deixou corromper” pelos governos petistas.

No palanque, os representantes dos trabalhadores se queixaram repetidas vezes das poucas oportunidades de diálogo que tiveram com a presidenta Dilma Rousseff nos últimos quatro anos. “Nossa grande questão é discutir, dialogar”, expressou Antônio Carlos dos Reis, o Salim, vice-presidente da UGT.

“Queremos ter relação de respeito com a liberdade sindical e estabelecer o diálogo, que está represado”, respondeu a candidata, ao repetir que sua campanha está comprometida em “não retroceder um milímetro das conquistas alcançadas às duras penas pelos trabalhadores brasileiros”. Marina voltou a criticar as “mentiras” divulgadas a seus respeito pelos adversários e se referiu à presidenta Dilma Rousseff como “exterminadora do presente” por implementar uma política econômica que, em sua visão, mantém taxas baixas de crescimento e altas taxas de juros.

O ato com sindicalistas ocorre após uma quinzena em que Marina esteve sob críticas devido a uma série de propostas contidas em seu plano de governo. Entre outras questões, chamam atenção os trechos que tratam da necessidade de aumentar a produtividade do trabalho, da ideia de modernizar a legislação trabalhista e da defesa de uma ampliação das possibilidades de terceirização para que se atinjam as atividades-fim, nos moldes do defendido pela bancada empresarial no Congresso.

No ato, o vice de Marina, Beto Albuquerque, disse que a inflação – em torno de 6,5% ao ano, limite da meta estabelecida pelo governo – está colocando em xeque as conquistas dos trabalhadores. “Essa gente que se diz defensora dos trabalhadores está acabando com os aposentados”, complementou, reafirmando seu compromisso com os sindicatos. “Jamais estaríamos eu e Marina enfrentando essas mentiras para chegar ao governo e trair a luta e a história dos trabalhadores brasileiros.”

Apesar das críticas, a ex-ministra reconheceu a criação de empregos registrada durante os governos do PT. “É uma questão de justiça reconhecer que aumentamos os postos de emprego, mas na maioria são empregos que não dão ao trabalhador segurança e estabilidade, porque são empregos sazonais.” Marina também elogiou o Pronatec, programa de ensino técnico e profissionalizante do governo federal. “É fundamental para qualificar os trabalhadores e gerar empregos que não sejam precários.”

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, foram criados 5,6 milhões de postos de trabalho ao longo dos quatro anos de mandato de Dilma. Somados os oito anos do governo Lula, o total é de 16,9 milhões de empregos.

“Queremos que você dê exemplo de diálogo social”, insistiu Nair Goulart, dirigente da Força Sindical, à candidata do PSB. “Dilma só recebe representantes do setor empresarial.” Para Carlos Alberto, representante dos profissionais liberais, os trabalhadores desejam estabelecer uma mesa de diálogo permanente com a Presidência da República. “Assim poderemos contribuir para a construção de um país melhor, evitando a precarização de direitos sociais e trabalhistas.”

O encontro de hoje retoma reunião mantida em dezembro pelos líderes sindicais com o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência até morrer em acidente de avião em 13 de agosto. Os dirigentes aproveitaram para entregar uma carta atualizada de reivindicações a Marina. Algumas delas são históricas, como o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanas, sem redução de salários, demandas que não avançaram nos 12 anos de governos petistas com Lula e Dilma.

Os sindicalistas pediram ainda fortalecimento do Ministério do Trabalho e Emprego, que, segundo João Domingos, representante dos servidores públicos, é “estratégico e insubstituível” para mediar as relações entre capital e trabalho no país. O documento entregue a Marina pelos sindicalistas também cobra compromisso da candidata com a manutenção da política de valorização do salário mínimo, iniciado na gestão do ex-presidente Lula, e a regulamentação das terceirizações sem perda de direitos.