Disputa dura

Próximo de Agnelo, Lula trabalha para mudar panorama da eleição no DF

Presença em comício da Ceilândia foi promessa antiga feita pelo ex-presidente ao governador, com quem mantém relação afetuosa. Petista luta para ir ao segundo turno

instituto lula

A partir da Ceilândia, trabalho de Lula se intensifica para alavancar candidatura de Agnelo à reeleição ao governo do Distrito Federal

Brasília – Nos bastidores da campanha do PT para o governo do Distrito Federal é tido como certo que a ida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Ceilândia na noite desta quinta-feira (25) foi um favor pessoal ao candidato à reeleição, Agnelo Queiroz, e o cumprimento de uma promessa feita ao governador ainda no ano passado. Lula nunca escondeu que mantém com Queiroz uma relação afetuosa desde os tempos em que ele foi seu ministro do Esporte.

O ex-presidente, segundo deputados petistas, teria se empenhado junto a líderes do Distrito Federal para que participassem da coalizão para reeleger o governador, demonstrando preocupação com a posição dele junto ao eleitorado.

Também foi iniciativa de Lula, no início do governo do ex-ministro, a ida de um assessor de confiança para encabeçar a Secretaria da Casa Civil do Governo do Distrito Federal (GDF), o técnico Swedenberger Barbosa. Barbosa teria sido levado com a missão de ajudar nos contatos entre Agnelo Queiroz e integrantes do governo Dilma Rousseff, na busca de investimentos para obras e projetos para o DF.

“O presidente tem demonstrado muita vontade em nos ajudar”, afirmou o governador, em tom agradecido, no início da semana, mas sem esconder o abatimento com a situação e tentando estimular a militância a não esmorecer, diante do resultado das intenções de votos e da possibilidade de não conseguir chegar ao segundo turno. Conforme a última pesquisa, ele está empatado tecnicamente com o candidato Jofran Frejat (PMDB-DF), na segunda posição, e atrás de Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).

Muito por fazer

O governador repetiu no discurso realizado na Ceilândia o que já tinha afirmado em várias entrevistas e no horário eleitoral: que fez bastante, mas reconhece que “ainda há muito por fazer”. E culpou o fato de ter recebido o Distrito Federal prejudicado pelas más administrações que antecederam a sua.

“Pegamos um DF arrasado, inadimplente em todas as áreas. Enfrentamos o cartel dos transportes e fizemos uma licitação para regularizar o sistema de ônibus, coisa que nunca tinha sido vista em 50 anos. Também atuamos de forma absolutamente sintonizada com o governo federal, inclusive com programas como o DF Sem Miséria, em parceria com o Brasil Sem Miséria”, destacou.

“Durante minha gestão, Brasília foi a primeira cidade do Brasil a receber o selo de território livre de analfabetismo e o DF passou a ser campeão nacional de transplantes. Um lugar que possui um serviço público ruim não pode ter esses méritos. Sabemos que fizemos muito, mas esse governo foi atado de forma insidiosa desde o primeiro dia em que assumimos. Nós lutamos e continuaremos na luta”, frisou.

Um dos momentos mais aplaudidos foi quando ele chamou o médico Cícero Batista ao palanque. Ex-catador de lixo, negro e morador de Ceilândia, Batista contou que entrou na universidade por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni).

Cícero subiu ao palco trajando o jaleco que usa durante o trabalho. “O curso de medicina, que antes era para rico, branco e abastado, agora pode ser feito pelo pobre. Eu sou prova disso e consegui chegar lá por causa dos que estão aqui hoje, que abriram as portas para mim”, ressaltou, abraçando o governador.

Investimento no esporte

“Um dos problemas do Agnelo Queiroz foi ele ter feito um investimento alto no Esporte, talvez por ter sido a pasta que comandou e onde teve mais facilidade de obter recursos, apesar do apoio do governo federal”, avaliou a estudante universitária Ana Miranda. Segundo ela, o retorno de velhos nomes ligados a escândalos políticos no DF nestas eleições tem tudo para ser prejudicial. “Se isso acontecer, vai ser um retrocesso grande”, disse.

Na opinião da estudante, um dos problemas do desgaste do governador pode ter sido “o gasto exorbitante no estádio nacional Mané Garrincha (considerado um dos mais caros do país construídos para a Copa do Mundo) e a construção de vários centros esportivos”. “São obras que até podem trazer um retorno de longo prazo para Brasília, mas o povo precisa entender isso direitinho”, afirmou.

“O governador citou muitas coisas que fez e não mentiu, mas o problema é que o povo não esqueceu de fazer comparações com o que poderia ter sido investido com esse mesmo dinheiro em outros setores. Além disso, ele fez como a Dilma fez com os ministérios: criou várias secretarias e as loteou entre políticos de muitos partidos. Isso está pesando agora”, salientou o comerciante Jairo Brandão, morador da cidade-satélite de Sobradinho.

Brandão disse ainda não saber em quem vai votar e ter ido ao local apenas para sentir o clima do comício. “Eles têm razão, estes últimos dias são os mais importantes”, completou.