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Cenário de conflito entre Marina e PSB enfraquece sua candidatura

Paulo Vannuchi entende que comoção pela morte de Campos pode não durar até eleição de outubro, avalia que aversão à 'política tradicional' tem alto custo nas coligações e recorda caso de Russomanno

fotos públicas/psb

Se for eleita, Marina terá a possibilidade de formalizar o seu partido, Rede Sustentabilidade

São Paulo – O analista político Paulo Vannuchi levanta dúvidas sobre o quanto a comoção criada em torno de Marina Silva devido à morte de Eduardo Campos terá influência nas eleições de outubro. Na semana seguinte à queda do avião que levava o candidato do PSB à presidência, a volta à rotina trouxe para o PSB uma série de rachas que evidenciaram fragilidades, e a nova postulante ao Planalto passou a ser submetida a avaliações sobre sua agenda política que levaram a críticas e evidenciaram inconsistências.

“De fato existe nesse momento o que se pode chamar de uma onda Marina. Não se sabe se a onda Marina é uma onda que dura até a eleição ou não”, afirma em seu comentário à Rádio Brasil Atual.

Vannuchi pontua as fragilidades que a ex-senadora está enfrentando pela candidatura e na relação com o PSB. Com histórico de conflitos na relação entre Rede Sustentabilidade e os socialistas, até mesmo na resistência de Roberto Amaral, presidente do partido, em não apoiar o PT nas eleições presidenciais, o analista político considera que a situação de Marina está “muito delicada”.

Durante essa semana, após oficializar a candidatura de Marina, o PSB enfrentou longas reuniões para definir o seu vice, Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara. A escolha de Albuquerque causou insatisfação por parte dos dirigentes mais próximos de Campos e dividiu opiniões. Os integrantes do diretório estadual do PSB em Pernambuco sentem-se desagradados com a escolha de um nome gaúcho. A família de Eduardo apoiou a decisão.

A formalização da chapa na Executiva Nacional do partido ocorreu na quarta-feira (20) e ficou definido que, caso Marina ganhe a eleição, poderá sair do PSB para a formação da Rede Sustentabilidade. A ex-senadora se ofereceu para entrar na sigla depois que seu partido não obteve o número mínimo de assinaturas exigido pela legislação eleitoral. “É muito complicado uma candidata presidencial, forte, fortíssima como Marina, estar em um partido em que ela deixa muito publicamente claro que não é o partido dela”, avalia Vannuchi.

Nesse cenário, Carlos Siqueira, secretário-geral do partido, decidiu na quinta-feira, após reunião da legenda, abandonar a coordenação-geral da campanha dos pessebistas. O analista político diz que Siqueira era “muito próximo” de Campos e demonstrou-se contrário à candidatura de Marina. “Ele foi para a mídia e bateu dizendo ‘ela que vá para a Rede dela, não venha mandar aqui no partido socialista’”, ressalta.

Diante da saída do coordenador, Amaral anunciou a deputada federal Luiza Erundina (SP) como substituta para o cargo. Para Vannuchi, a ex-prefeita de São Paulo é uma política de nome “muito forte” e reconhecidamente uma pessoa com pouca flexibilidade. Neste sentido, ele considera que “não se sabe se ela é capaz de coordenar bem um ambiente delicado como esse”.

Outra fragilidade é o tempo curto que a ex-senadora terá para seu programa eleitoral, dois minutos, contra quatro de Aécio Neves, do PSDB, e onze da presidenta Dilma Rousseff, do PT. Dificuldades de relacionamento com o que Marina chama de “política tradicional” são outro problema sério para a candidatura. Esta semana ela expôs que não subirá em palanques nos quais tinha acordo com Eduardo Campos para não estar. É o caso de São Paulo, onde o PSB tem a vice na chapa do tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. O dono do cargo, Márcio França, ironizou esta semana a situação afirmando que Marina é uma candidata da Rede alojada dentro do PSB.

Com relação à economia, Marina tem criticas ferrenhas ao agronegócio e defende questões ambientalistas, o que desagrada parte dos dirigentes do PSB e de coligações. “O partido mídia não gosta de Marina porque o partido mídia defende o agronegócio, onde há resistência por Marina”, diz. Na avaliação do de Vannuchi, é “difícil” saber qual será o encaminhamento da imprensa tradicional, se apoiará Marina para derrotar Dilma ou se a criticará para que Aécio vá para o segundo turno.

Vannuchi relembra situações políticas parecidas com a atual e diz que “ondas já se esgotaram antes”, como foi a caso da candidatura de Ciro Gomes, em 2002. “Parecia que ia ultrapassar Lula e Serra, não ultrapassou.” Outro caso similar, na visão do analista, é o de Celso Russomanno, que em 2012 liderou a corrida pela prefeitura de São Paulo durante boa parte do primeiro turno, mas acabou perdendo força na reta final e acabou ultrapassado por José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT).

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