Entrevista

Universidade Federal do Sertão, em Alagoas, é uma das mais de 900 ocupações no país

Contra as perdas na educação causadas pela PEC 241, universidade reforça tradição de luta: alunos não aceitam recuo

Conexão Jornalismo

‘Sabemos que várias escolas ocupadas estão sofrendo represálias, mesmo sendo um movimento pacífico’

Conexão Jornalismo – Fica no sertão de Delmiro Gouveia um dos focos de resistência contra o projeto que tenta submeter o ensino público a PEC 241 – projeto do governo ilegítimo de Michel Temer que ganhou a alcunha de PEC do Fim do Mundo. A Universidade Federal de Alagoas (UFAL), um oásis numa das regiões mais castigadas do país, foi inaugurada ainda inacabada em 2010, no final do governo Lula. Com cursos de Engenharia Civil, Engenharia de Produção, Letras, Pedagogia, História e Geografia, a UFAL é uma das 968 escolas e universidades ocupadas por alunos que não aceitam recuo em um dos setores considerados estratégicos para qualquer nação que pretenda livre e soberana: a Educação.

Fernanda Telles Meimes, 26 anos, aluna do curso de História, uma das lideranças do movimento de ocupação, disse em entrevista via e-mail a Conexão Jornalismo que os estudantes da UFAL aprenderam desde 2011 o quanto era importante incorporar a luta ao ensino universitário:

“A precarização no nosso campus é enorme, enfrentamos problemas como a falta de professores, estrutura ruim, o restaurante universitário não funciona, não temos moradia estudantil, bolsas foram cortadas, não temos transporte adequado visto que o campus é localizado em uma região afastada da cidade e não temos transporte público, esses e outros problemas. Desde sua inauguração o campus sofre com a precarização da educação, o prédio da universidade só foi construído depois de uma paralisação que os alunos fizeram em 2011, então o campus evolui a partir de um histórico de lutas estudantis.”

 

 

Houve perda de qualidade recente ou nos últimos tempos que tenham levado a decisão de ocupação?

Travamos uma luta estudantil a muito tempo para conquistar melhorias para o campus, mas essa ocupação entra em uma pauta mais ampla, que é a questão da PEC 241 que visa congelar os gastos públicos, afetando diversos setores, incluindo a educação. Decidimos ocupar para agregar a luta dos estudantes secundaristas contra a PEC e demais medidas do governo atual que visa sucatear mais ainda a educação, sem falar nas consequências dessas medidas para a sociedade e para a vida dos trabalhadores e da população pobre do país, que serão os prejudicados com as ações retrógradas e reacionárias desse governo.

São quantos os alunos que ocupam a Universidade e há quanto tempo?

Somos cerca de 150 alunos ocupando o campus, para um campus pequeno e com poucos cursos, é uma conquista enorme, estamos no campus desde quarta-feira, dia 19, e não temos previsão para sair.

Como vocês tem feito para conseguir a infraestrutura que garanta a ocupação – como alimentação, água, roupas, enfim….

Estamos recebendo muitas doações de comidas, remédios, produtos de limpeza e outros itens necessários para o dia-a-dia da ocupação, nos organizamos em comissões para dividirmos as tarefas necessárias para manutenção no campus, como limpeza, comida, comunicação, segurança, atividades…

A professores e a população tem sido solidária aos estudantes?

Os professores estão apoiando a ocupação e colaborando com palestras nas atividades, com doações de comidas e presença no campus, não tivemos problemas quanto à isso, nem com o restante da comunidade acadêmica (técnicos, direção, reitoria…).

E a relação com o universo político, especialmente sabendo se tratar de uma Universidade Federal? O governo Temer tem batido forte no movimento estudantil e nas manifestações contrárias ao golpe…

Em relação ao governo ‘Fora Temer’, sabemos que várias escolas ocupadas estão sofrendo represálias, mesmo sendo um movimento pacífico, a perseguição aos estudantes foi claramente defendida pelo governo, que exigiu das reitorias que informassem os nomes dos alunos que estão participando das ocupações, essa medida nos remete à ditadura, onde estudantes eram perseguidos, inclusive, várias medidas do governo nos remete à ditadura, o que é assustador e nos faz ter certeza que a luta é necessária. 

Qual a opinião de vocês sobre o atual momento político do país?

Meu pai não lutou contra a ditadura à toa, em nome dele e de tantos outros camaradas, perseguidos, presos e torturados, não podemos deixar que a luta deles tenha sido em vão, não podemos deixar a história de repetir de braços cruzados.

Duas das principais lideranças políticas de Alagoas (Renan e Collor) aparecem como envolvidos nos escândalos da Lava-Jato. Como vocês veem este envolvimento e o perfil político local?

Alagoas tem na sua história a desigualdade, a dominação de poucas famílias, donas de quase todas as terras do Estado, sobre o restante da população, isso se reflete na política, com figuras como Collor e Renan que fazem parte dessa elite dominante e trabalham para manter essa situação e garantir seus privilégios e o aumento do seu poder e sua fortuna, o povo Alagoano fica a mercê dessa elite, tendo seus direitos arrancados, por isso a importância das reivindicações através das greves, ocupações, manifestações, protestos…

Esta luta de vocês é a luta de estudantes de todo o Brasil. Qual é a escola ideal para os estudantes brasileiros? Você acredita que verá esta escola dos sonhos implantada no país?

Para nós, uma educação justa seria uma educação que englobasse todas as classes igualmente, ou seja, que os filhos dos pobres trabalhadores também tivessem acesso à educação de qualidade, que fosse uma educação humanizadora, que incentivasse o raciocínio, o questionamento, a convívio em comunidade, a igualdade… muito diferente da educação pública que temos hoje.