Reorganização

Estudantes denunciam pressão de diretores contra ocupações das escolas

Estudantes relatam que dirigentes tentam demovê-los da ideia de ocupar as escolas até com ameaças de retenção de certificados; também mencionam boatos que visam a enfraquecer o movimento

Um dos boatos seria que ocupantes da Alves Cruz e Ciridião ocupariam a Alexandre von Humboldt

São Paulo – Das mesma maneira que cresce o número de escolas ocupadas – chegaram a 174 hoje (25) –, aumentam os boatos, ações e manipulações da opinião pública com objetivo de enfraquecer as manifestações estudantis contra a política de reorganização do governo de Geraldo Alckmin (PSDB).

Ontem, um estudante publicou numa página do Facebook que a diretora de sua escola, a Alexandre von Humboldt, localizada na Vila Anastácio, região da Lapa, recebeu ameaças de ocupação “por pessoas que ocuparam a Escola Estadual Alves Cruz, na Vila Madalena”. Outros estudantes chegaram a dizer que circulou também a informação de que o Alexandre, que funciona em tempo integral, estaria na mira dos alunos de uma outra escola ocupada, a Professor Manuel Ciridião Buarque, no Alto da Lapa.

A Alves Cruz é a primeira escola em tempo integral ocupada por estudantes contrários ao projeto de reorganização do governo de Geraldo Alckmin. “A escola está ocupada desde ontem contra a superlotação das salas, que vai aumentar com a chegada de alunos de escolas reorganizadas ou fechadas”, diz o estudante Alex Silva. De acordo com ele, pressões da direção da escola, ameaçando reter os certificados dos alunos das terceiras séries, influenciaram a decisão dos estudantes quanto à ocupação durante as assembleias. Estudantes afirmam ainda que a diretora “finge não saber do momento histórico de luta dos secundaristas e manda mensagens privadas, por celular, pedindo para que os estudantes inviabilizem a ocupação”. A conversa caiu na rede de celulares e foi determinante para a ocupação.

Os ocupantes da Ciridião relataram à reportagem da RBA ameaças desde segunda-feira, quando começou a ocupação. “Professores contra gritaram e ameaçaram. A direção também ficou na escola espalhando terror. Até apareceu uma supervisora de ensino e uma galera da delegacia de ensino”, disse um dos alunos na ocupação.

“Repressão mesmo, mas estávamos em muitos e sabíamos o que queríamos. Depois de muita conversa, assembleia, advogados e polícia, eles ‘cederam’. Nossa advogada pediu para que saíssem da escola, e depois de um dia de discussão, eles saíram. Durante o primeiro dia rolou muita coisa, como a secretaria trancar os portões e não nos deixar entrar e nem sair. Depois de muita luta, tomamos conta dos portões e ocupamos a nossa escola. A direção ainda vem tentar entrar, ronda a escola, pressiona. A polícia vem, pede pra entrar, pressiona, quer nomes, quer números. É claro que não damos nenhum dado. Estamos todos em alerta”, relata.

Os estudantes chamaram de boato a “invasão” da Alexandre von Humboldt e disseram que vão procurar os alunos para esclarecer a situação.

Em Santos, os alunos que ocupam a Escola Estadual Cleóbulo Amazonas Duarte foram surpreendidos pela burocracia estadual. Na página Não fechem Minha Escola, no Facebook, eles relatam que um suposto diretor de obras, que teve o ano todo para isso, resolveu inspecionar a escola depois que foi ocupada.

No último dia 17, o secretário da Educação, Herman Voorwald, editou a resolução número 53. “Pelo texto, as escolas que estão ocupadas estão em recesso já, em férias. E quando acabarem as ocupações estará terminado o ano letivo. Isso significa que o professor terá de trabalhar no mês de janeiro também. Isso para tentar jogar a sociedade contra os estudantes”, afirma o dirigente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), o professor de matemática Luciano Delgado, de Guarulhos. “Até agora não está funcionando, mas isso é muito prejudicial”, diz.

Na segunda-feira (23), os desembargadores da 7ª Câmara de Direito Público, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), decidiram, por unanimidade, que as ocupações são legítimas e estão de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Essas legislações garantem o protagonismo juvenil, a livre manifestação e a participação comunitária.