Ensino Médio

Alunos e professores de escolas particulares pegam covid-19 após 15 dias de aulas

Mesmo tendo alegado contar com melhores condições de proteção e segurança, escolas particulares registram contaminação por covid-19 e suspendem aulas

Arquivo/EBC
Arquivo/EBC
É preciso aumentar os recursos públicos para a educação pública e implementar um conjunto de critérios que assegurem a excelência das condições oferecidas conforme previsto na Constituição

São Paulo – Após detectar estudantes e professores contaminados com covid-19, as escolas particulares Gracinha e Graded suspenderam as aulas do ensino médio que foram liberadas 3 de novembro pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB). Mesmo realizando poucas atividades, com máximo de 20% dos estudantes por turma e protocolos de segurança alegadamente melhores que os da rede pública, a rede privada não foi capaz de conter o avanço do coronavírus em suas unidades, como indicava, ainda em agosto, um estudo feito por pesquisadores de três países. Mas que foi ignorado pelos governos municipal e estadual.

Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, as escolas particulares Gracinha e Graded confirmaram que houve casos de covid-19 entre os estudantes. Já o colégio São Luís não informou se houve confirmação, mas também comunicou os pais da suspensão do ensino médio e das atividades extracurriculares para os alunos da educação infantil e dos anos iniciais do fundamental (do 1º ao 5º ano).

Na Graded School, que fica no Morumbi, foram confirmados casos de covid-19 em seis estudantes. Além disso, 17 professores estão com suspeita de contaminação. “Os casos positivos em nossa comunidade aumentaram e, consequentemente, impediram nossa capacidade de permanecer totalmente operacional para o ensino presencial”, informou a escola em comunicado aos pais.

O colégio Gracinha, que fica no Itaim Bibi, teve a confirmação de um estudante do 2º ano do ensino médio com covid-19 e outros casos suspeitos. “Diante do aumento do número de casos de covid-19 na cidade, dos casos confirmados na escola, dos casos suspeitos entre funcionários e alunos e da necessidade de isolamento das pessoas contaminadas, bem como de todas as que tiveram contato com elas, optamos por suspender as atividades de acolhimento, o reforço e as aulas presenciais da escola”, informou o colégio.

Apesar do registro de casos de covid-19 entre professores e estudantes das escolas particulares, o Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado (Sieeesp) ingressou com uma ação civil pública, no último dia 10, para que a prefeitura de São Paulo seja obrigada a liberar as aulas regulares em todas as etapas de ensino, com pelo menos 50% dos estudantes.  

Riscos já apontados

Ainda em setembro, o promotor Daniel Augusto Gaiotto, do Ministério Público do Trabalho de São Paulo (MPT-SP), já havia apontado que os protocolos de segurança preparados pelas escolas particulares para prevenir a covid-19 na volta às aulas eram “fracos, bem superficiais“. Gaiotto também disse que “o documento de providências deveria ser algo bem mais elaborado. Parece mais preocupado com os alunos, nada fala do professor”.

Além disso, pesquisadores do grupo interdisciplinar Ação Covid-19 e da Rede Escola Pública criaram um simulador indicando que, mesmo com todos os protocolos de segurança sendo seguidos, a volta às aulas em São Paulo causaria contaminação pela covid-19 em até 46,35% dos estudantes e professores após três meses. Isso considerando apenas estudantes dos ensinos fundamental e médio. Mesmo seguindo as regras estabelecidas pelo governo João Doria (PSDB), de até 35% dos alunos participarem das atividades presenciais de cada vez. E partindo de apenas uma pessoa infectada.

Segundo a pesquisa, seria necessário um limite de presença de 6,86% dos estudantes para garantir a segurança da comunidade escolar, o que tornaria a reabertura das escolas inviável. Os testes consideraram que a maioria das pessoas respeitaria as regras de higiene, o uso de máscaras e o distanciamento social de 1,5 metro. E que só haveria três cruzamentos entre elas por dia: na entrada, na saída e no recreio. Mesmo assim, a contaminação tinha um potencial alto.