PIB em 2016

Reversão de expectativa negativa do FMI para o Brasil depende da política e de Dilma

Para analistas, confirmação ou não de previsão para o país, que deixou Dilma Rousseff 'estarrecida', está condicionada a ações do Planalto, à superação da crise política e negociações no Congresso

jlmaral / CC Wikimedia

Governo é otimista com recuperação econômica, mas condições para a retomada do crescimento ainda parecem distantes

São Paulo – Em reunião da executiva do PDT na sede do partido em Brasília, nesta sexta-feira (22), a presidenta Dilma Rousseff se disse “estarrecida” com as previsões do Fundo Monetário Internacional para a economia brasileira e as atribui à “duração da instabilidade política e o fato de as investigações contra a Petrobras terem um prazo de duração maior e mais profundo que eles esperavam”. Nas perspectivas para o Brasil, incluídas em documento em que analisa a economia internacional, o FMI faz uma estimativa de quedade 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2016. Em outubro, o órgão previa recuo de 1%.

Para Jorge Mattoso, professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e ex-presidente da Caixa Econômica Federal, e Maria Antonieta Del Tedesco Lins, professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP) e doutora em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, ainda não é possível antever com segurança se as previsões pessimistas do FMI para o Brasil tendem a se confirmar este ano, ou se Dilma tem razões objetivas para basear seu estarrecimento.

“A situação não está favorável a um otimismo desenfreado. Não valorizo tanto a opinião do FMI, mas acho que só no fim do ano saberemos como será”, diz Mattoso.  “Qual é a opinião do governo relativa ao crescimento este ano? Eu não sei. Vi a declaração do (ministro) Nelson Barbosa, em Davos, em que ele diz que a queda diminui no terceiro trimestre, e que vai iniciar um crescimento no quarto trimestre. O que não significa crescimento no ano. Então, acho que vai ser um resultado ruim, ainda, este ano. Mas não sei se tão ruim quanto afirma o FMI.”

Para Maria Antonieta, as projeções do FMI não estão muito longe das feitas pelo mercado financeiro e por agentes financeiros brasileiros. Em sua opinião, é “muito possível” que a economia brasileira não tenha um desempenho muito favorável em 2016. “Com isso não quero dizer que acho que a economia brasileira vai ter um desempenho péssimo. Mas está claro que o governo trabalha com números mais otimistas do que os que são projetados pelos agentes de mercado.”

Ela avalia que os indicadores de investimento, de emprego e consumo durante 2015 deixam claro que a economia brasileira está “num ritmo de aperto grande”. Assim, a saída dessa situação “vai demandar um pouco mais de tempo”.

A taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua chegou a 9% no trimestre encerrado em outubro, ante 6,6% de igual período do ano anterior. Já o consumo de energia elétrica, segundo dados divulgados pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no início do mês, caiu 4,4% em novembro, em relação ao mesmo mês do ano anterior. Segundo a EPE, vinculada ao Ministério das Minas e Energia, a queda se deve principalmente “ao efeito negativo da classe industrial (-8,9%)”. O dado é um termômetro da queda da atividade econômica no país.

Congresso Nacional

Para a professora da USP, se o cenário negativo não significa que a situação não possa se reverter. E isso vai depender, avalia, da superação da crise política, das negociações no Congresso Nacional e de o governo obter sucesso em algumas de suas propostas.

“Quem disser que sabe o que vai acontecer, está supondo. Não dá para saber como vão ser negociados os passos dentro do Congresso Nacional. Talvez meus colegas cientistas políticos tenham alguma ideia mais clara”, diz ela. “A crise econômica tem um componente político muito grande, mas, sem dúvida nenhuma, se for aprovada a CPMF pelo Congresso Nacional, por exemplo, e outras medidas que deem um fôlego fiscal ao Estado, à União, é claro que o ânimo do mercado e do setor privado nacional vai ser diferente e os investimentos podem ser retomados mais cedo”, afirma Maria Antonieta.

Para ela, na medida em que a crise política for sendo equacionada, “ou pelo menos reduzida, ou gerida de alguma forma”, isso se refletiria como impacto “muito positivo sobre a economia”. Mas, devido às constantes mudanças no cenário político, as previsões ficam difíceis. “Não dá para saber, porque a opinião pública tem sido surpreendida a cada momento com revelações de investigações.”

Mattoso acredita que possa ocorrer uma retomada econômica e a consequente reversão do cenário recessivo no final do ano, como preveem alguns economistas. “Isso é possível. Porém, o governo vai ter que fazer algumas coisas de maneira a assegurar que isso ocorra. Por osmose ou vontade divina não vai ocorrer.”

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