No Paraná

Ratinho Jr. quer privatizar a Copel; ganhos aos acionistas e perdas aos consumidores

Valor arrecadado com a venda de ações da Copel equivaleria a dois anos de lucro da empresa. Conta de luz deve subir, alertam trabalhadores

Copel/Divulgação
Copel/Divulgação
Trabalhadores e deputados da oposição tentam barrar privatização da Copel

São Paulo – O governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD-PR), enviou nesta segunda-feira (21) à Assembleia Legislativa um projeto de lei para tornar a Companhia Paranaense de Energia (Copel) empresa de capital disperso (sem acionista controlador). A operação será por meio da oferta de ações. Hoje, a participação acionária do governo é de 31% –  69,7% em ações ordinárias (com direito a voto) e 12%, preferenciais. A intenção é reduzir essa posição total do estado para cerca de 10%. Na prática, seria a privatização da principal empresa pública de energia do estado.

De acordo com especialista consultado pelo Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), o governo paranaense arrecadaria cerca de R$ 4,98 bilhões com a venda das suas ações. Esse montante é o equivalente ao lucro da Copel nos anos de 2020 e 2021, ainda durante a pandemia.

Apenas no primeiro trimestre deste ano, a Copel gerou R$ 1,5 bilhão em Ebtida (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização). O lucro líquido foi de R$ 669,8 milhões de reais. Além disso, no ano passado, a empresa aumentou de R$ 2,5 bilhões para R$ 3,08 bilhões os dividendos pagos aos acionistas.

Nesse sentido, como regra nos processos de privatização, os investidores devem ser os principais beneficiados. Somente ontem, após o governo anunciar que pretende abrir mão do controle da empresa, as ações da Copel se valorizaram 22,07%.

Por outro lado, os principais prejudicados devem ser os consumidores. Atualmente, a tarifa cobrada pela Copel – R$ 0,559/kWh – está na 20ª posição entre as mais baratas do país, numa lista com 104 distribuidoras de energia. As concessionárias privadas são as que mais cobram dos seus consumidores, segundo ranking elaborado pelo Coletivo Sindical dos Empregados da Copel (CSEC).

Estelionato eleitoral

Durante a campanha eleitoral, Ratinho Jr. escondeu a intenção de privatizar a Copel. Em vídeo que circula nas redes sociais, ele chegou estabelecer um “compromisso” de que a Copel continuaria a ser dos paranaenses.

“Enquanto afirmava que manteria o controle acionário, (ele) movimentava suas equipes em sigilo para deixar todos os documentos prontos para serem encaminhados, numa clara tentativa de atropelar o processo”, afirmou o presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Paraná (Senge-PR), Leandro Grassmann, em entrevista ao Brasil de Fato.

Ontem, o deputado estadual Requião Filho (PT-PR), durante sessão na Assembleia Legislativa, denunciou os planos do governador.

“Acredito que o Ratinho deva estar fazendo um bom negócio… para alguém, mas não para o Estado do Paraná. Já sabemos que houve uma movimentação atípica na compra de ações da Copel na última semana. Alguém está enchendo os bolsos de dinheiro. Alguém sabia e ganhou muito dinheiro com essas especulações do mercado financeiro.”

Ele também ressaltou que a venda da Copel vai na contramão da tendência mundial, quando diversos países reverteram privatizações nas áreas de saneamento e energia.

Adversário de Ratinho Jr. nas eleições, Roberto Requião (PT-PR) afirmou, pelas redes sociais, que a Copel está sendo roubada. “Uma empresa estratégica não pode ser privatizada. Se ela estiver na mão de um grupo de investidores, eles vão querer a tarifa mais alta possível sempre, para conseguir aumentar os seus lucros”.