Desafio

Para Belluzzo, reconstrução brasileira depende mais da política do que ‘engenharia econômica’

Para professor e economista, que elogiou Lula, país precisa consolidar a democracia, renovar o Congresso e preparar um projeto de industrialização

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Na opinião do ex-ministro, o atual não tem capacidade de gestão

São Paulo – Sem enxergar, pelo menos neste momento, mudanças significativas de cenário até 2022, o economista e professor Luiz Gonzaga Belluzzo acredita que a tarefa de “reconstrução” do país “é muito mais política do que de engenharia econômica”. Trata-se, segundo ele, de construir e reforçar os fundamentos da democracia. Com paciência e persistência, disse, lembrando ainda de Ulysses Guimarães. “Não só a eleição do presidente, a eleição do Congresso é fundamental”, acrescentou, quase ao final de evento promovido ontem (16) à noite pelo escritório Crivelli de advocacia.

Belluzzo fez menção ao nome do ex-presidente Lula, a quem chamou duas vezes de “meu amigo Luiz Inácio”. Contou ter conversado ainda ontem com o petista. E criticou a “demonização” em torno de seu nome. “Conheço o Lula desde 1970, ainda no regime militar, eu ia lá em São Bernardo fazer palestra para os trabalhadores. Ele é o homem da negociação. Querer transformá-lo num radical é uma coisa ridícula, só no Brasil mesmo”, comentou o economista.

Reindustrialização

Para Belluzzo, frente ao desafio de reconstrução, o país precisa de um projeto de industrialização, de uma relação “mais sistemática” entre os setores privado e público. ‘Temos um atraso no nosso sistema de transporte ferroviário. Nossa malha ferroviária encolheu”, exemplificou.

Embora reconheça a relevância do agronegócio, Belluzzo afirmou que a exportação de commodities não é capaz de sustentar um país urbanizado como o Brasil. Segundo ele, a agricultura tem “efeito sistêmico modesto” em relação ao emprego, por exemplo.

“Não há como sustentar sem uma economia mais complexa, que significa uma economia industrial. Quando eu falo industrial, não estou me referindo a (apenas) um conjunto de fábricas, mas uma série de atividades interconectadas que se distinguem pela forma de produzir.” E é preciso planejamento. “´Não há nenhuma possibilidade de reindustrializar o Brasil sem que você dê força ao setor de ciência e tecnologia. Pesquisa e desenvolvimento supõe continuidade.”

Liberalismo das cavernas

O também ex-ministro fez críticas ao modelo dos chamados Chicago boys, incluindo Joaquim Levy, chefe da Economia no segundo governo Dilma, e suas política de “ajustes”. “A ideia deles é como se a política econômica fosse uma espécie de alfaiataria. Mas a crítica principal foi ao atual governo. “Esse liberalismo deles é das cavernas. É inacreditavelmente tosco.”

Ele ainda citou o atual titular da Economia. “Eu não diria que o Paulo Guedes é um dos economistas mais bem formados para tratar… Pode ser até conservador, conheci muitos, mas não tem essa capacidade de gestão.” Assim, diz Belluzzo, “a situação é mais grave ainda porque não vejo no governo capacidade de construir uma alternativa”.

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Mudanças de cenário sempre são possíveis, ressaltou o economista, mas pelo menos agora Belluzzo acredita que o governo chegará “muito desgastado” até a eleição. Ele vê também pouca probabilidade de um impeachment, inclusive pela postura dos presidentes das Câmara e do Senado.