Para analista, incerteza prolongada mantém mercado de trabalho estável

Trabalhador não tem procurado emprego por não ver sinalização de vagas disponíveis, enquanto empresário mostra insegurança pela situação da economia

São Paulo – O mercado de trabalho atravessa momento de certa estabilidade pela cautela dos dois grupos que a compõem, observa o coordenador de análise da Fundação Seade, de São Paulo, Alexandre Loloian. De um lado, o trabalhador tem deixado de buscar emprego por não ver sinalização clara de que há vagas disponíveis. De outro, o empregador se mostra inseguro com as incertezas da economia e não contrata – mas também não demite. “As incertezas estão se prolongando”, afirma.

Para o analista, as políticas oficiais voltadas para o crédito e o consumo não mostram mais tanta eficácia. “Essa receita aparentemente não está tendo o mesmo impacto, a mesma resposta rápida de outros períodos”, diz Loloian, que vê “certo esgotamento” na capacidade de endividamento das famílias. Além disso, a economia externa também sinaliza insegurança. Essas e outras variações se refletem em certa estagnação do mercado de trabalho.

Um dos sinais dessa menor dinâmica está na falta de crescimento da população economicamente ativa (PEA), que segundo Loloian já deveria mostrar expansão neste período do ano. De abril para maio, a PEA recuou 0,2% na região metropolitana de São Paulo, segundo a pesquisa Seade/Dieese divulgada hoje (27). A ocupação também praticamente quase não variou (0,1%).

O pesquisador também vê mudanças na “cultura” dos empresários, abandonando o comportamento “selvagem” de demitir ao primeiro sinal da oscilação do mercado. “Nitidamente, eles estão tendo um comportamento mais cauteloso na hora de demitir. Em um período mais recente, não tenho dúvida de que estaríamos em um processo forte de demissão. Isso está sendo reduzido por causa um mercado de trabalho menos favorável em termos de disponibilidade de mão de obra qualificada.” E as famílias também respondem a isso, acrescenta: “Elas não vão para o mercado de trabalho quando veem que não há oferta”.

Ele também faz ressalvas a políticas de governo de estímulo a determinados setores da economia, vendo uma “obsessão curto-prazista de garantir crescimento a todo custo” e falta de visão de longo prazo. “Sinto falta de políticas industriais mais abrangentes, consistentes e coerentes, de uma visão estratégica do que nós queremos para o país”, afirma. “Os ‘pacotinhos’ são importantes, mas acho que perdemos tempo e energia nesse ‘curto-prazismo’.”  

Segundo a pesquisa, a taxa média de desemprego nas sete áreas pesquisadas (seis regiões metropolitanas e o Distrito Federal) teve leve recuo de abril para maio, de 10,8% para 10,6%. Na Grande São Paulo, a taxa passou de 11,2% para 10,9%. O total de desempregados é estimado em 2,382 milhões, sendo 1,183 milhão em São Paulo.

 

 

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