Incerteza

Mercado de trabalho esboça reação, mas desempenho ainda é visto como ‘tímido’

Para economista, mercado ainda está 'tateando'. Pela primeira vez em seis meses, ocupação cresce

São Paulo – O mercado de trabalho deu alguns sinais de reação em maio, mas os técnicos do Dieese e da Fundação Seade ainda aguardam para ver essa tendência se concretizar. Até aqui, os sinais ainda são incertos. A economista Ana Maria Belavenuto, do Dieese, por exemplo, diz que o mercado está “tateando” e que o comportamento no mês passado foi “tímido”. O dado mais positivo é de que a ocupação subiu pela primeira vez em seis meses. “Foi um alento”, afirma o coordenador de análise do Seade, Alexandre Loloian.

Isso aconteceu tanto na região metropolitana de São Paulo como no conjunto das sete áreas que fazem parte da pesquisa. No segundo caso, esse crescimento foi modesto, de 0,5% de abril para maio, o correspondente a 91 mil empregos criados. Como o número de pessoas que entraram para a população economicamente ativa (PEA) foi menor (74 mil), o total de desempregados diminuiu, em 19 mil, para 2,472 milhões – mas é maior que o de maio de 2012 (2,330 milhões). É a primeira vez neste ano em que o número de desempregados cai. Mas o ocupação caminha lentamente: em maio, na comparação anual, subiu 0,3%. Em igual mês de 2012, havia crescido 1,4%.

Em São Paulo, a ocupação cresceu 0,4% no mês, com acréscimo de 37 mil vagas, enquanto a PEA incorporou 42 mil. Assim, o número de desempregados, estimado em 1,235 milhão, teve ligeira alta. Todos os setores registraram alta na ocupação em maio. Loloian observou que, segundo dados do Seade, o PIB paulista cresceu 0,6% de março para abril, puxado principalmente pelo setor industrial (2,2%). No ano, a taxa de crescimento é de 1,6%.

Ele explica a estabilidade no mercado de trabalho, ao menos em parte, pelo chamado “efeito retenção”: as empresas não demitiram no período de menor atividade econômico e acumularam certo estoque de funcionários, o que agora faz com que não contratem, mesmo com sinais de reação. Mas com muita incerteza na horizonte, observa o analista, lembrando que as previsões para o ano convergem para um crescimento em torno de 2,5%, bem menos do que o projetado anteriormente. “Pode ser que essa pequena retomada se consolide e se amplie. Mas estamos em uma conjuntura diferenciada”, diz. “As incertezas ainda são muito grandes. Ninguém tem o mapa traçado, interna e externamente.”

Em 12 meses, a PEA cresce mais do que a ocupação (0,9% e 0,3%, respectivamente), fazendo aumentar o total de desempregados. O setor de comércio e reparação de veículos abriu 117 mil vagas, a construção abriu 60 mil e os serviços, 31 mil. Já a indústria de transformação, com indícios de recuperação na ponta (variação mensal), fechou 141 postos de trabalho. Os bons números da construção são resultado, principalmente, do crescimento de 12,5% em Belo Horizonte, 13,2% em Fortaleza e 21,1% em Recife.

O mercado mantém sua tendência de formalização, embora maio tenha mostrado recuo no emprego com carteira assinada: 32 mil a menos, queda de 0,3%. Em relação a igual mês do ano passado, as vagas com registro crescem 1,6% (156 mil a mais). “Um dos dados mais positivos que a gente pode observar no mercado de trabalho nos últimos anos é a formalização do emprego”, diz Ana Maria.

A menor taxa média de desemprego foi apurada na região metropolitana de Porto Alegre (6,5%) e a maior, em Salvador (19,7%). Também está abaixo dos dois dígitos em Belo Horizonte (7,4%) e Fortaleza (8,6%). Recuou em Recife (12,9%) e no Distrito Federal (12,2%) e não se alterou em São Paulo (11,4%).

O rendimento médio dos ocupados, estimado em R$ 1.588, praticamente não saiu do lugar no mês (variação de -0,2%) e mostra tendência de declínio desde o final de 2012. Mas mostrou estabilidade na comparação anual, com pequena alta de 0,3%. Cresceu 9,9% na região metropolitana de Belo Horizonte e 1,8% em Porto Alegre, com quedas de 5,4% no Distrito Federal, 2,1% em Fortaleza, 0,9% em Recife e 0,6% em São Paulo, permanecendo estável (0,2%) em Salvador.

Os analistas seguem aguardando sinalizações mais seguras do comportamento do mercado, que costuma se tornar mais dinâmico a partir do segundo trimestre. Ainda não aconteceu, pelo menos no ritmo que se esperava.