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Medidas econômicas devem distensionar momento político, dizem economistas

Para Guilherme Mello, governo optou pelo caminho do meio, mas ajuste pesa mais sobre os mais pobres. Belluzzo defende a volta da CPMF

Lula Marques/Agência PT

Ministros Levy (Fazenda) e Barbosa (Planejamento) anunciaram ontem (14) cortes de R$ 26 bi no orçamento de 2016

São Paulo – Para os economistas Guilherme Mello e Luiz Gonzaga Belluzzo, do Instituto de Economia da Unicamp, as medidas econômicas anunciadas ontem pelo governo devem acalmar o momento de tensão política vivida no país. Em entrevista à repórter Marilú Cabañas, da Rádio Brasil Atual, Guilherme diz que o governo tomou o caminho do meio, mas que o ajuste afeta mais diretamente o funcionalismo público e os mais pobres. Belluzzo defende a volta da CPMF.

“O momento não permite, ao governo, tomar lados. Se ele, simplesmente, adotar a agenda pura dos liberais, perde completamente o apoio das centrais sindicais. Se adota a agenda pura das centrais, do campo progressista, perde o apoio dos bancos e dos empresários. Tem que fazer pequenas concessões para cada um dos grupos e fazer uma agenda mista, até para ter viabilidade política, não só no Congresso como na sociedade.”, analisa Guilherme Mello.

“Quem vai pagar mais pesadamente o ajuste, não tem jeito, vão ser os mais pobres e os funcionários públicos”. Guilherme Mello destaca que, ao contrário dizem alguns analistas, o ajuste está sendo feito fortemente a partir do corte de gastos, e não apenas no aumento da arrecadação. O impacto para o funcionalismo se dá por conta do congelamento de reajustes e suspensão de novos concursos. Para os mais pobres, o impacto se deve aos cortes nas áreas sociais, mas que os cortes em áreas como saúde e habitação, por exemplo, podem ser compensados através das emendas parlamentares.

O economista diz que o plano, se bem-sucedido, pode contribuir para a melhora do ambiente econômico, mas aponta que os cortes, ao reduzirem ainda mais o nível de investimento, podem aprofundar ainda mais a crise.

Na opinião de Guilherme Mello, as medidas de cunho recessivo têm por objetivo o apaziguamento das tensões. “Uma parte importante da crise brasileira é alimentada por um certo terrorismo, uma pressão exacerbada dos setores conservadores da sociedade, que querem desmontar os direitos sociais e o estado de bem-estar social. O governo, o que faz? Ele aceita, mas parcialmente, os pedidos desses setores”.

Para o professor e economista Luiz Gonzaga Belluzzo, as novas medidas econômicas abrem espaço de negociação do governo com o Congresso e cita, por exemplo, a proposta de recriação da CPMF, que deverá ter a alíquota definida pelo legislativo.

Belluzzo defende a volta da contribuição que, segundo ele, nunca deveria ter sido extinta.  “A CPMF é um imposto que a gente quase não sente. Se você, por exemplo, der um cheque de 10 mil reais, vai pagar 20 reais de CPMF”, defende o economista. Ele defende ainda o caráter progressivo do imposto, pois incide mais sobre que realiza maior número de transações financeiras, ou de maior monta. Outra vantagem citada pelo economista é que, com uma base de arrecadação bastante ampla, a cobrança permite uma resposta favorável na arrecadação.

O economista também classifica como “corretíssima e justa” a medida anunciada da cobrança de Imposto de Renda sobre ganho de capital das pessoas físicas. Bens acima de 1 milhão de reais pagarão alíquota que pode variar entre 20% e 30%. Belluzzo lembra que medida semelhante foi introduzida, nos EUA, pelo ex-presidente Bill Clinton e contribuiu para o reequilíbrio fiscal do país, que vinha de seguidos resultados negativos.

Ouça a reportagem da Rádio Brasil Atual:

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