Governo estuda linha de financiamento para inovação no setor automobilístico

Órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia vai destinar até R$ 3 bilhões para que as empresas possam investir em novas tecnologias, que possibilitem atender às exigências feitas pelo Inovar Auto, lançado em 2012

Durante o encontro foi apresentada uma carta de reivindicação de estímulos ao setor de autopeças (Foto: Flickr José de Filippi)

São Bernardo do Campo – O governo federal estuda lançar uma nova linha de crédito para empresas do setor automobilístico, com recurso variando de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões. A notícia foi dada hoje (24) pelo técnico da superintendência regional da da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) em São Paulo, José Santana, durante seminário realizado na sede da Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

O Inova Auto, como deve ser chamado o projeto, fará parte do programa Inova Empresa, que tem o objetivo de conceder crédito com condições facilitadas para que empresas nacionais desenvolvam planos de investimentos em inovação. As linhas lançadas até agora, para saúde e energia, preveem linhas de financiamento de R$ 5 bilhões. “Temos as linhas mestras, mas precisamos criar subtemas e seria muito melhor se as indústrias e os sindicatos pudessem dizer quais são os temas de interesse. Eles estão no dia a dia, sabem as tendências e as dificuldades”, disse Santana. 

Trata-se de uma sequência às medidas anunciadas em setembro de 2012 no Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar Auto). A Finep, subordinada ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, será uma das responsáveis por garantir que o setor atinja os padrões exigidos pelo governo federal. 

As empresas que utilizarem e desenvolverem tecnologia nacional terão acesso a incentivos. As montadoras que conseguirem melhorar o rendimento do automóvel em relação ao consumo de combustível, com aumento de 12,08% sobre a performance atual, terão desoneração tributária a partir de 2017.

Válido para o período entre 2017 e 2020, esse desconto na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) será de um ponto percentual no caso de uma redução de consumo de 15,46% e de dois pontos percentuais no caso de uma redução de 18,84%. 

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, lembrou que é importante que o crédito seja facilitado inclusive para empresas com dívidas. “Uma empresa que teve dificuldades e não está em dia com os tributos não consegue acessar o crédito e esse ciclo leva a um momento difícil para a indústria. A configuração atual do setor é oportuna e exitosa. O que falta é que ela seja dividida entre um número mais amplo de trabalhadores e empresas”, disse. “O setor automobilístico é o que mais emprega e o que mais inova. É um dos que mais se articula e que vai dar linha para outros setores produtivos.”

Durante o evento, representantes de sindicatos e de agências de fomento do ABC paulista apresentaram uma carta de reivindicações que vão entregar ao governo federal para incentivar a produção de autopeças por empresas nacionais. A ideia é que o programa não fique restrito às montadoras e beneficie as menores empresas da cadeia produtiva. Entre os pedidos estão políticas de redução das despesas com importação de peças, crédito para diversificar cadeia automotiva, renegociação de dívidas de pequenas e médias empresas, linhas alternativas de crédito. “Acho oportuno reivindicarmos o Inovar Peças, mas queremos também o Inovar Ferramentaria, Inovar Máquinas… Queremos fortalecer o que tem de melhor no Brasil”, afirmou Rafael Marques, que também preside a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC. 

O presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), Paulo Cayres, concordou. “Poderíamos ter vários ‘inovares’, mas temos de pensar em um programa perene, que nos leve cada vez mais a fomentar a indústria nacional”, disse. “Queremos uma indústria forte e competitiva, que gera emprego de qualidade para os trabalhadores. É possível ter mais contrapartidas e avançar não só na região do ABC, mas no Brasil como todo.”

O secretário-geral do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, Sinval da Silva, afirmou que as contrapartidas devem, prioritariamente, beneficiar os trabalhadores. “Muitas vezes eles não conseguem estudar porque não há incentivo. Nossos filhos não podem continuar apertando parafusos. Eles têm de ir para a universidade. Temos de desenvolver principalmente os trabalhadores para fazer desse polo industrial um polo de tecnologia.”

O prefeito de Santo André, Carlos Grana, ex-dirigente metalúrgico, afirmou que além de produzir veículos é preciso preparar as cidades para recebê-los. “Semana que vem vamos apresentar para a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, um programa regional de mobilidade urbana para o ABC. Esse será um estímulo para a produção. Não vamos abrir mão dessa vocação do ABC.”

Diretores de multinacionais do setor automobilístico, presentes no seminário, reconheceram que o Inovar Auto vai permitir que as empresas não apenas aumentem a produção de veículos, mas também desenvolvam tecnologia nacional, o que é um dos principais caminhos para o crescimento do país.

“A ideia é que as empresas não façam simplesmente adaptação do que existe fora, mas sim que consigam criar suas próprias tecnologias e concorrer no mundo com elas”, afirmou o vice-presidente mundial de desenvolvimento de sistemas e componentes de motores do grupo Mahle, Ricardo Simões de Abreu. “Temos de trabalhar com as escolas de formação. O que reduz o tempo de produção são os trabalhadores.”