Combustível

Para professor da Unesp, Alckmin poderia ter minimizado crise do setor sucroalcooleiro

Segundo Sebastião Neto Ribeiro Guedes, descontentamento da indústria recai indevidamente sobre o governo federal

Rafael Neddermeyer/ Fotos Públicas

Governo Alckmin não propôs nenhuma iniciativa de incentivo ao setor, pois não conta com um banco estadual

São Paulo – Em entrevista à Rádio Brasil Atual nesta terça-feira (24), o professor da Unesp Sebastião Neto Ribeiro Guedes afirmou que a crise que afeta o setor de produção de álcool e açúcar a partir da cana poderia ser menor se o governo de São Paulo fosse mais efetivo na condução de política agrícola paulista.

O Noroeste paulista é a região com as principais indústrias sucroalcooleiras. Pelas cidades da região, trabalhadores seguem ameaçados de perder seus empregos, fornecedores estão apreensivos com a possibilidade de não receber pelos serviços prestados, e arrendatários de terras usadas para a plantação receiam ser passados para trás. Porém, o descontentamento recai sobre o governo federal.

Para Ribeiro Guedes, o problema foi provocado por uma série de fatores, e para entendê-lo, é necessário voltar ao passado. “No começo governo do Lula, foi levantada a bandeira de viabilizar uma estratégia de exportação de etanol, acenando para o setor uma perspectiva de crescimento. Foi um momento em que as indústrias responderam a essa iniciativa com muito investimento. Em seu segundo mandato, descobriu-se um volume imenso de potencial de petróleo com o pré-sal, gerando uma inversão de estratégia na questão energética. No governo Dilma, ela seguiu essa mudança estratégica, e investiu bastante no pré-sal. Esse é o fator, a mudança estrutural, que não foi provocada pelo governo Dilma.”

Segundo o professor, o governo estadual não consegue propor nenhuma iniciativa de incentivo ao setor, pois o Banespa, que seria o principal canal de estímulo à agricultura, foi privatizado. O banco foi federalizado pelos governos tucanos de Mario Covas e Geraldo Alckmin, e foi vendido ao banco espanhol Santander. José Serra era então ministro do Planejamento de FHC.

“O governo de Alckmin poderia tomar providências, mas ao privatizar o Banespa ficou sem instrumento de crédito, portanto, o maior estado da União não tem um banco estadual, e sem ele não se consegue fazer políticas de crédito especificas e complementares. Ao perder este meio, a margem para o governo do estado intervir é muito pequena”, explica o professor.

Segundo Ribeiro Guedes, a crise já foi superada, porém a recuperação terá um médio prazo para ser percebida. Houve a iniciativa do governo federal, que elevou o preço do combustível e o valor do etanol. São medidas que aumentam a rentabilidade e demanda do setor, mobilizando o BNDES para discutir o endividamento das sucroalcooleiras. A desvalorização do real auxilia as usinas que exportam açúcar, independente do preço internacional das commodities.

De acordo com o professor, é preciso acabar a ideia de que os efeitos da crise são de inteira responsabilidade do governo Dilma. “A adversidade no setor já tem cinco anos e nesse período não foi feito nada no estado de São Paulo para poder discutir a questão da indústria canavieira. Então, não há um movimento político para discutir os problemas do setor e encaminhar soluções, porque os municípios pequenos, onde não há indústria, são os mais penalizados, pois possuem apenas a cana, que tem um valor agregado baixo. Portanto, quando a crise bate na indústria, ela rebate muito forte nessas cidades, e não há nenhuma proposta do governo estadual para ajudar as cidades com dificuldades”, conclui.

Ouça a entrevista completa da Rádio Brasil Atual: