Dinheiro curto

Faltam pelo menos R$ 202 bilhões em crédito para pequenas e microempresas

Aversão ao risco impede expansão do crédito pelos grandes bancos. Ações do governo para o setor, que somam R$ 80 bi, também são insuficientes

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Pesquisa do Datafolha mostra que 41% dos pequenos industriais viram clientes falindo ou entrando em recuperação judicial nos últimos meses

São Paulo – Para enfrentar a maior crise econômica dos últimos 100 anos, em função da pandemia, pequenas e microempresas – além dos micro empreendedores individuais (MEIs) –, necessitariam contar com R$ 472 bilhões em crédito, neste ano. Mas, com base na oferta de 2019, que foi de R$ 270 bi, devem faltar pelo menos R$ 202 bilhões. É o que aponta estudo da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Eaesp), divulgado na terça-feira (23).

Esse levantamento considerou a necessidade de capital de giro das empresas, mais as perdas causadas pela quase paralisação das atividades econômicas nos últimos meses. São aproximadamente 17,3 milhões de empreendimentos nessas três categorias, que concentram as maiores perdas causadas pela pandemia. Educação (-63%), Transporte e Armazenagem (-58) e Alimentação (-58) foram os setores que registraram as maiores perdas de faturamento, em relação ao ano anterior.

A construção, setor que menos sentiu os impactos da crise entre MEIs, pequenas e microempresas, registrou queda de 50%. Entre as duas pontas, o varejo, que concentra a maior parte dos empreendimentos, teve queda estimada de 55%, por exemplo.

“Com menores receitas haverá menos recebíveis que poderiam ser antecipados para financiar as atividades de curto-prazo da empresa, ou seja, para financiar a necessidade de capital de giro”, aponta o estudo. Além disso, os pesquisadores afirmam, ainda, que a demanda por crédito pode ser ainda maior, a depender da duração dos efeitos da pandemia.

Sem governo

No entanto, apesar dos lucros recordes ano após ano, os grande bancos evitam tomar risco durante a crise, restringindo a oferta de crédito. Há também a atuação insatisfatória do governo federal. Segundo o economista Marco Rocha, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as novas linhas de crédito oferecidas pelo governo, além de programas de refinanciamento, somam apenas R$ 80 bilhões.

Além de insuficiente para suprir a lacuna, a maioria das pequenas e microempresas se queixam das dificuldades para acessarem essas novas linhas de crédito. Um dos principais motivos é a inadimplência, em função das altas taxas de juros cobradas em empréstimos anteriores.

Ainda em abril, 91% dos pequenos e micro empresários afirmavam que não estavam conseguindo acesso a crédito nos bancos. Ademais, apenas 3% dizem ter conseguido novos empréstimos, e outros 4% dizem que conseguiram renovar linhas que já contavam antes da pandemia. São dados de pesquisa realizada pelo Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi).


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