Nova aristocracia

É preciso parar a máquina corporativa que produz desigualdade, diz Campanha

Campanha Tributar os Super-Ricos cobra ação global para tributar os bilionários que alimentam a desigualdade, exploram trabalhadores e destroem o planeta

James Duncan Davidson/CC
James Duncan Davidson/CC
Elon Musk atua em movimentos em outros países com jazidas de litio para derrubas governos e afrouxar a legislação

São Paulo – O novo relatório Desigualdade S.A., lançado nesta semana (15) pela Oxfam, revelou que a fortuna dos cinco homens mais ricos do mundo mais que dobrou desde 2020, de US$ 405 bilhões para US$ 869 bilhões. Assim, somados, Jeff Bezos (Amazon), Bernard Arnault (Louis Vuitton), Larry Elisson (Oracle), Elon Musk (Tesla, SpaceX) e Warren Buffett (Berkshire Hathaway) viram suas fortunas aumentarem 114%.

Ao mesmo tempo, 60% da população mundial, cerca de 5 bilhões de cidadãos, ficaram mais pobres no período. Foram anos marcados pela pandemia de covid-19, guerras e avanço da fome em todo o mundo. A Oxfam também prevê que o mundo poderá ter seu primeiro trilionário nos próximos 10 anos. Enquanto isso, o fim da pobreza poderá levar mais de dois séculos.

O relatório também aponta que sete em cada dez das maiores empresas do mundo têm bilionários como CEOs ou principais acionistas. Além disso, em termos globais, os homens possuem US$ 105 trilhões de dólares em patrimônio a mais do que as mulheres. Essa diferença é equivalente a mais de quatro vezes a economia dos Estados Unidos.

O dados também mostram que o 1% mais rico do planeta emite tanta poluição de carbono quanto os dois terços mais pobres. Por outro lado, apenas 0,4% das mais de 1.600 maiores e mais influentes empresas do mundo se comprometeu publicamente com o pagamento de salários dignos a seus trabalhadores.

Nova aristocracia

Para a Campanha Tributar os Super-Ricos, “é preciso uma ação global para frear essa nova máquina corporativa de produzir desigualdade e que flagela a maior parte da humanidade”. Nesse sentido, as mais de 70 organizações sociais, entidades e sindicatos que compõem o movimento destacam que não é o mérito que está por traz dessas enormes fortunas.

“Esses bilionários evitam o pagamento de impostos, privatizam o Estado, alimentam as desigualdades, pressionam trabalhadores, negam direitos e destroem o planeta”, alertam. “Essa nova aristocracia econômica monopolista controla a economia dos países, gera pobreza, fome, guerras e austeridade econômica”, acrescentam.

Mais impostos

No entanto, o abismo social é tamanho que uma parcela dos super-ricos não consegue mais esconder o constrangimento com o avanço da desigualdade. Nesta semana, durante reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, um grupo de bilionários entregou aos líderes mundiais uma carta aberta solicitando aumento de impostos sobre eles.

“Nosso pedido é simples: pedimos que nos taxem, os mais ricos da sociedade. Isto não irá alterar profundamente a nossa condição de vida, privar os nossos filhos ou prejudicar o crescimento econômico dos nossos países. Mas transformará a riqueza privada extrema e improdutiva em um investimento para o nosso futuro democrático comum”, diz o documento.

A carta é assinada por 250 super-ricos que integram o movimento Proud to pay more (Orgulho de pagar mais). Dentre os signatários, estão a herdeira do império Disney, Abigail Disney; Valerie Rockefeller, herdeira da dinastia de magnatas ligados ao petróleo e Ise Bosch, neta do industrial alemão Robert Bosch. O único brasileiro na lista é João Paulo Pacífico, fundador do grupo de investimentos Gaia.