Diante de 7,5% em 2010, Dilma comemora ‘pibão’ e sindicalistas pedem juros menores

A presidenta Dilma Rousseff (Foto: ABR/Arquivo) São Paulo – As reações ao anúncio do crescimento do PIB nesta quinta-feira (3) foram variadas. A presidenta Dilma Rousseff foi discreta ao comentar […]

A presidenta Dilma Rousseff (Foto: ABR/Arquivo)

São Paulo – As reações ao anúncio do crescimento do PIB nesta quinta-feira (3) foram variadas. A presidenta Dilma Rousseff foi discreta ao comentar os dados, enquanto sindicalistas aproveitaram para reclamar da elevada taxa de juros do país. Representantes da indústria tentaram mostrar que os resultados não representam riscos de superaquecimento e que é preciso agir para conter o câmbio.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país em um ano. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou os dados, o resultado de 2010 é maior resultado desde 1986, quando a economia também teve expansão de 7,5%.

Dilma pronunciou-se informalmente durante a visita do primeiro-ministro do Timor Leste, Xanana Gusmão. Ela caminhava para a rampa do Palácio do Planalto quando foi inquerida por um jornalista sobre o “pibão”. Com bom humor e forçando o sotaque mineiro, a presidente respondeu: “Foi bão”.

Ela destacou a necessidade de o governo buscar o controle da inflação. Na quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou em 0,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia (Selic). O objetivo da autoridade monetária foi conter a inflação, o que despertou críticas de diferentes setores.

As duas principais centrais do país, a CUT e a Força Sindical, consideraram que o crescimento de 2010 poderia ter sido ainda maior se o governo tivesse adotado uma taxa básica de juro menor.

“O PIB de 2010 poderia ser ainda melhor e mais exuberante se as taxas básicas de juros não permanecessem na estratosfera – como insiste o Banco Central, haja vista a alta registrada ontem”, afirmou a CUT, em nota.

“O PIB poderia ser maior se as taxas de juros estivessem menores. O governo precisa entender que juros em patamares estratosféricos funcionam como uma trava para o setor produtivo. Infelizmente, os tecnocratas do governo insistem em se curvar ao capital especulativo. Somente no início deste governo tivemos duas altas consecutivas da taxa básica de juros”, disse, também em nota, a Força Sindical.

Apesar da crítica, as centrais destacaram que a elevação do PIB foi consequência da postura do governo diante da crise econômica internacional, iniciada no final de 2008. “Se o Estado brasileiro tivesse recuado diante dos reflexos da crise econômica, como aconselharam diferentes analistas e consultores, e se, naquele mesmo período, o movimento sindical cutista não tivesse resistido às propostas de flexibilização de direitos trabalhistas, o crescimento de 7,5% do PIB em 2010 não teria acontecido”, afirmou a CUT.

Indústria

Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o crescimento do PIB industrial de 10,1% em 2010 e os 7,5% em média para a economia são resultados “expressivos”. Eles comemoram os dados, com ressalvas. “A retração da atividade industrial no segundo semestre de 2010 preocupa” , informou a entidade, em nota.

No quarto trimestre do ano passado, o PIB da indústria recuou 0,3%, ante o terceiro trimestre do mesmo ano. O resultado foi a segunda queda consecutiva da atividade industrial do país. No terceiro trimestre, o PIB da indústria diminuiu 0,6% em relação ao período anterior.

De acordo com o documento da CNI, a desaceleração ocorrida no último trimestre, deve servir de alerta às autoridades econômicas do país, especialmente o BC, que define a taxa de juros.

“A retração (…) deve balizar a elaboração da segunda etapa da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), em processo de formulação pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”, defenderam os industriais.

Para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf,o crescimento deve ser visto com cautela, ainda que seja uma notícia boa. Ele ressaltou ainda que a base de comparação é baixa. “O Brasil estava saindo da crise econômica mundial em 2009. Não podemos nos iludir.”

Skaf afirmou também que os resultados da atividade econômica já apontam um desempenho próximo a zero nos primeiros dois meses de 2010. “Isso é consequência das medidas de contenção de crédito tomadas pelo governo em dezembro do ano passado e janeiro deste ano.”

Com isso, segundo Skaf, o Brasil corre o risco de perder uma grande oportunidade de crescimento. “É provável que o PIB nacional em 2011 fique entre 3% e 4%. E o crescimento industrial pode estagnar entre 2 e 3%. Isso é lastimável.”

O economista da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) Gabriel Pinto viu o resultado como “excepcional”. Segundo o especialista em desenvolvimento econômico da Firjan, o crescimento foi disseminado em diversas áreas da indústria, com destaque para a construção civil.

“O legal é que (o resultado do PIB nacional) não foi sustentado só no consumo das famílias, como vinha sendo. Foi um crescimento com muita força da formação bruta de capital fixo. Um crescimento de 22% na comparação interanual é  bastante elevado. É um nível ótimo para que a gente continue formando a base para um crescimento sustentado de longo prazo”, disse Gabriel Pinto.

Oposição critica

O líder do PSDB na Câmara, deputado Duarte Nogueira (SP), disse que o crescimento do PIB não é sustentável, porque o governo não aproveitou o cenário de expansão da economia para diminuir os gastos públicos, eliminar gargalos e fazer as reformas estruturantes.

Segundo o tucano, os primeiros meses de 2011 a economia dão sinais de desaceleração. “A inflação está tomando força, a taxa básica de juros foi elevada ontem, o endividamento das famílias preocupa e a gastança do governo continua. Se esse ritmo for mantido, o futuro é incerto.”

Para Duarte Nogueira, o governo não preparou o país para crescer sustentavelmente. “Estamos com o freio de mão puxado pelo que o governo fez, que foi promover a gastança, e pelo que deixou de fazer: investir em infraestrutura, reduzir a carga tributária e os gastos públicos.”

Com informações da Agência Brasil