Desânimo

Desemprego sobe ‘fora de época’, com ajuste feito pelas empresas

Na Grande São Paulo, de janeiro a julho foram fechadas 441 mil vagas, praticamente divididas entre crescimento da PEA e corte de empregos. Só no primeiro semestre, massa salarial perdeu R$ 8,6 bilhões

São Paulo – Até pouco tempo atrás, a taxa de desemprego se mantinha em níveis historicamente baixos parcialmente devido à falta de pressão no mercado de trabalho, pela baixa procura por emprego. O mercado não oferecia vagas, mas o desemprego não crescia porque as pessoas não estavam buscando trabalho. Agora, o cenário mudou, para pior. A procura cresceu e as empresas passaram a fazer cortes, em um período que normalmente mostra números positivos. “No que diz respeito ao emprego, as empresas estão fazendo o ajuste”, diz o coordenador de análise da Fundação Seade, de São Paulo, o economista Alexandre Loloian.

No primeiro semestre, foram perdidos 394 mil postos de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo, sendo quase 70% em razão do crescimento da população economicamente ativa (pessoas que voltaram ao mercado) e 30% por queda na ocupação (vagas cortadas). A situação muda bastante no período janeiro/julho: são menos 441 mil empregos, sendo 48% em razão da PEA e 52% pela eliminação de vagas. “Até agora, o desemprego vinha sendo causado mais pela PEA do que pela destruição de postos de trabalho”, observa Loloian.

A taxa de desemprego na Grande São Paulo foi a 13,7% em julho, ante 13,2% no mês anterior. Esse crescimento de meio ponto percentual de um mês para o outro, nesse período, só tem equivalente a 2009, quando houve alta de 0,6 ponto. E a taxa só não subiu mais justamente porque a PEA recuou – não fosse isso, diz Loloian, superaria os 14%. Os 109 mil ocupados a menos (queda de 1,1%) representaram a maior variação negativa para julho na série histórica.

O Seade e o Dieese estimam em 1,514 milhão o número de desempregados na região. Esse total cresceu 20,4% em 12 meses, o correspondente a 257 mil a mais. O setor que mais fechou vagas foi o da construção civil, com queda de 12,1% (menos 95 mil). Em seguida, vem a indústria de transformação, que eliminou 77 mil postos de trabalho (-4,8%) – só o segmento metal-mecânico, no qual se incluem as montadoras, caiu 17,4%.

“Todos os indícios são no sentido de que as empresas estão jogando a toalha”, diz o pesquisador do Seade. Além da perspectiva de que o ajuste do governo será mais longo do que se esperava, a questão política contribuir para tornar o cenário mais instável, fazendo aumentar a insegurança. O emprego também cai no setor formal, contrariando tendência dos últimos anos. Em 12 meses, foram fechadas 61 mil vagas com carteira assinada (-1,2%).

O técnico chama a atenção também para a perda de massa salarial, com reflexo direto no consumo. Apenas no primeiro semestre, a massa de rendimentos na região sofreu perda de R$ 8,6 bilhões.

Outras regiões

O desemprego subiu, em julho, na maioria das regiões acompanhadas pela Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), do Seade e do Dieese. A taxa cresceu em São Paulo (chegou a 13,7%), Porto Alegre (9,4%), Recife (14%) e Salvador (19%), ficou relativamente estável em Fortaleza (8%) e diminuiu no Distrito Federal (13,6%).