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Com Lava Jato e crise, emprego na construção caiu 14% em dois anos

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC defendeu que investigações não poderiam ser conduzidas sem legislação para impedir o comprometimento das atividades econômicas

Dênio Simões/ ABr

Cenário começou a mudar entre 2013 e 2014, quando o emprego no setor reduziu-se em 2,4%

São Paulo – Com paralisação quase total de 29 empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, o número de postos de postos de trabalho na construção civil reduziu-se em 14,4% entre 2014 e março de 2016, de acordo com levantamento do Dieese. Soma-se ao quadro a crise econômica, que freou o mercado de imóveis.

De 2004 a 2013, o setor só acumulou crescimento no número de postos de trabalho, atingindo o pico de 3.094.153 empregos diretos no final daquele ano. Em 2014, porém, o cenário começa a mudar: o emprego cai 2,4%, para 3.019.427.

No ano passado e nos primeiros meses deste ano, a desaceleração do setor se acirrou ainda mais e o número de empregos teve retração de 14,4%, chegando a 2.585.595 postos de trabalho formais, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), ambos do Ministério do Trabalho e Previdência Social.

“Essa redução tem a ver com a redução da construção civil pesada, com as empresas na Lava Jato, com a desaceleração dos investimentos em infraestrutura e com a própria demanda do varejo, que reduziu porque o mercado de trabalho está mais enfraquecido, diz o coordenador de atendimento técnico e sindical do Dieese, Airton dos Santos. “Temos de um lado da Lava Jato e de outro a crise. O desemprego aumentou e os imóveis começaram a se acumular, já que vários lançamentos não são vendidos.”

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, defendeu quinta-feira (14), em evento sobre os impactos econômicos da crise política, que a redução de empregos na construção civil se deve ao fato de as empreiteiras nacionais investigadas na operação estarem impossibilitadas de participar de licitações e de pleitear empréstimos em bancos. “Só tem uma explicação: paralisia nas obras, nos projetos de infraestrutura e a impossibilidade de as 29 empresas envolvidas na Lava Jato assumirem obras públicas. E quem sofre com isso? Muitos dos empresários já foram soltos após acordos de delação, mas o trabalhador está pagando na veia, porque está há mais de um ano procurando emprego em empreiteiras e não consegue, afirmou.

Ele defendeu que as investigações da Lava Jato não poderiam ser conduzidas sem uma legislação específica que impedisse o comprometimento das atividades econômicas. “O combate à corrupção é muito importante e tem que continuar, mas não pode custar o emprego do trabalhador.”