Em queda livre

Com fechamento da Caoa Chery, Vale do Paraíba perde terceira grande fábrica em 15 meses

Região perdeu recentemente a Ford e a LG. Trabalhadores da Caoa Chery fazem acampamento e sindicatos cobram política industrial

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Caoa Chery têm 600 funcionários em Jacareí. A maioria perderá o emprego

São Paulo – O anunciado fechamento da Caoa Chery em Jacareí vai significar a terceira perda expressiva de uma fábrica e seus empregos na região do Vale do Paraíba, no interior paulista. No ano passado, a Ford e a LG anunciaram o fim das atividades em Taubaté. No caso da montadora, a desativação foi geral, atingindo todas as unidades instaladas no Brasil. Os metalúrgicos criticam os governos paulista e federal, apontando falta de uma política industrial que possam estimular investimentos e preservar postos de trabalho.

Nesta sexta-feira (6), o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região realizou assembleia na subsede de Jacareí. A entidade quer discutir alternativas para ao menos reduzir o impacto da decisão da Caoa Chery. Para pressionar a empresa a negociar, organizou um acampamento diante da fábrica, a partir da tarde de hoje. Os trabalhadores também fizeram passeata até a sede da prefeitura.

O sindicato propôs lay-off (suspensão dos contratos) a partir de junho. A assembleia rejeitou proposta de indenização feita pela empresa. Nova reunião está prevista para a próxima terça (10).

“Ajuste” na produção

A Caoa Chery informou que vai fecha a fábrica para adaptar a produção aos carros elétricos. “A suspensão das atividades tem como objetivo ajustar os processos produtivos da planta para novos modelos com tecnologias híbridas e elétricas, visando a modernização e atualização das linhas de produção”, diz a empresa.

A unidade tem 627 funcionários, sendo aproximadamente 370 na produção e 230 no setor administrativo. As demissões podem chegar a 500, pelo menos, com os demais sendo transferidos para a fábrica de Anápolis (GO).

Demandas econômicas e sociais

A notícia de mais um fechamento reforça o posicionamento dos sindicalistas do setor de que é preciso discutir uma política industrial para o país. “Temos que ter política industrial para melhorar as condições de vida da sociedade, não é só um debate tecnológico e tecnicista. O país tem que ter indústria por uma missão, para atender as demandas sociais e de estrutura de sociedade”, afirma o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC e da IndustriALL-Brasil, Aroaldo Oliveira da Silva, também diretor do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Recentemente, dirigentes da CUT e do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento (TID-Brasil)) aprovaram a atualização do chamado “Plano Indústria 10+ desenvolvimento produtivo, tecnológico e social”. Ao longo do atual governo, o movimento sindical não teve interlocutores no governo para tratar do assunto. Houve apenas uma reunião, com o vice-presidente, Hamilton Mourão, em fevereiro de 2019, no início da gestão.

Fechamentos em 2021

Em janeiro do ano passado, a Ford anunciou que encerraria atividades produtivas no país, fechando as fábricas de Taubaté, Camaçari (BA) e Horizonte (CE). Já havia fechado a unidade de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, em 2019. Em Taubaté, foram 830 demitidos – a fábrica tinha mais de 50 anos.

Em abril de 2021, foi a vez de a LG informar o fechamento da unidade de Taubaté, como parte de uma decisão de acabar com a produção global de celulares. O setor de monitores e notebook foi para Manaus (AM). Ficaram 300 funcionários do call center e serviços. E mais de 700 empregos diretos foram eliminados.

TecToy: mesa-redonda

Em Cotia, na Grande São Paulo, a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego convocou a TecToy para mesa-redonda com o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, na próxima terça (10). A reunião foi marcada a pedido dos metalúrgicos, depois que a empresa demitiu mais de 200 funcionários no início da semana, sem qualquer negociação. O número corresponde à quase totalidade de empregos naquela fábrica.

“A TecToy se nega a negociar com o sindicato, por isso acionamos a Superintendência para mediar o impasse causado pela própria empresa”, afirma o presidente da entidade, Gilberto Almazan. O motivo alegado pela empresa foi falta de componentes. Entre os demitidos, há trabalhadores com direito a estabilidade.

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Com informações dos sindicatos dos Metalúrgicos do ABC, de Osasco e de São José dos Campos