só pensa naquilo

Campos Neto ‘só pensa no lucro dos rentistas’, diz Gleisi

“Facilitar acesso à casa própria é pra ele um problema”, critica a deputada, após presidente do BC atacar crédito subsidiado para justificar juros altos

Raphael Ribeiro/BCB/Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Raphael Ribeiro/BCB/Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados
Campos Neto comparou crédito direcionado com juros mais baixos à meia-entrada

São Paulo – Para justificar a manutenção das mais altas taxas de juros do mundo, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, atacou o crédito subsidiado. Ele comparou o crédito direcionado – linhas de empréstimo com juros mais baixos para habitação, veículos e produção rural – à meia-entrada no cinema. A presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann reagiu, nesta terça-feira (18) pelas redes sociais. Para ela, Campos Neto “só pensa no lucro dos rentistas”.

“No crédito direcionado, a gente pode fazer a análise do cinema que vende a meia-entrada. Se eu vendo muita meia-entrada e quero ter o mesmo lucro, a entrada inteira eu tenho que subir o preço. O crédito funciona um pouco assim”, afirmou Campos Neto, em encontro com empresários na semana passada, de acordo com reportagem do portal g1.

Apesar de comportamento em defesa dos interesses privados, o comandante da política monetária afirmou que “problema dos juros é de todos, do BC, da sociedade, do governo”. A solução, segundo ele, é mais “crédito livre”.

“A taxa de juro real é alta, mas tenho 42% de crédito direcionado, não só do BNDES. Se eu tiver mais crédito livre, a potência da política monetária aumenta e o juro é mais baixo. Se quer dar crédito subsidiado para todo mundo, a taxa será mais alta.”

Conveniência

Em nome dos interesses do mercado financeiro, Campos Neto vem mudando as “desculpas” apresentadas para o descalabro dos juros, de acordo com a situação. Cálculos do professor José Luis Oreiro, do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), apontam que toda vez que o BC eleva a taxa básica de juros – Selic – em 1 ponto percentual, os gastos anualizados com o pagamento de juros da dívida pública aumentam em R$ 36 bilhões.

Primeiramente, para justificar a escalada dos juros, a autoridade monetária citava a necessidade de conter a inflação. Assim a Selic chegou a 13,75% a partir de agosto de 2022, permanecendo inalterada desde então. Com a inflação em 4,65% ao ano atualmente, a taxa real está em 9,1%. Neste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comprou a briga, alertando para o óbvio: a alta dos preços não se dá por aumento de demanda.

Mesmo durante a escalada dos juros, economistas já alertavam que a inflação era resultado dos impactos da pandemia e, principalmente, da dolarização dos preços dos combustíveis, política adotada pela Petrobras desde o governo Temer e mantida por Bolsonaro. Dessa maneira, a elevação dos juros não apenas não surtia o efeito pretendido, como também estrangulava a economia, por conta do encarecimento do crédito.

A partir daí, Campos Neto e os analistas de mercado passaram a bater na tecla do descontrole fiscal. Nesse sentido, os juros altos seriam resultado da incerteza dos investidores frente à possibilidade de um aumento desordenado dos gastos públicos. No entanto, esse argumento também caiu por terra, quando o ministro da Fazenda apresentou as diretrizes do Novo Arcabouço Fiscal, no fim do mês passado. As regras, encaminhadas hoje pelo governo ao Congresso Nacional, atrelam o crescimento das despesas federais à receita, e preveem superávit já a partir de 2025.