Análise

Base da pirâmide social segue protegida dos efeitos da crise global

Em plena crise global, rendimento dos mais pobres cresce duas vezes mais que o dos ricos. Grau de desigualdade cai de 0,53 em 2007 para 0,50 em 2013. E taxa nacional de desemprego, de 8,15% para 6,53%

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População mais vulnerável segue protegida pelas opções do governo em defesa da produção, do emprego e da renda

A partir de 2008, o desenrolar de uma crise econômica gerada nos países ricos passou a produzir efeitos negativos em dimensão global. Segundo o Relatório da Organização Internacional do Trabalho (Global Employment Trends: Risk of a Jobless Recovery), divulgado recentemente, o mundo perdeu 62 milhões de empregos entre 2008 e 2013. Ao mesmo tempo, outro estudo apresentado pela Oxfan (Working for few: capture and economic inequality) detectou o crescimento da concentração da renda e da riqueza no mundo.

Em seis anos de manifestação da mais grave crise desde a década de 1930, os efeitos devastadores sobre a produção, o nível de emprego e a distribuição da renda seguem fazendo mais vítimas. A opção dos governos de vários países de procurar salvar os interesses dos ricos terminou transferindo o ônus maior da crise para os segmentos pobres, mais vulneráveis.

Ao contrário disso, o Brasil registra no período recente, desempenho inédito, pois tem conseguido manter simultaneamente a trajetória de queda na desigualdade dos rendimentos e a elevação do nível de emprego dos trabalhadores. Ou seja, a população mais vulnerável de menor rendimento segue protegida pelas opções do governo em favor da defesa da produção, do emprego e da renda.

Em conformidade com os novos dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra a Domicílios (Pnad), do IBGE, para o ano de 2013, constata-se que o rendimento médio real dos 40% mais pobres da população ativa de 15 anos e mais de idade cresceu 30,7% entre os anos de 2008 e 2013, enquanto o dos 10% mais ricos aumentou 14,5%.

Em plena crise de dimensão global, o rendimento dos mais pobres cresceu duas vezes mais que o dos ricos. Por força disso, o grau de desigualdade pessoal do rendimento caiu 4,9%, pois passou de 0,53, em 2007, para 0,50, em 2013. Para o índice de Gini, quanto mais distante de 1, menor a desigualdade na repartição da renda de um país.

Se comparar ainda a evolução do rendimento médio real dos 10% mais pobres da população economicamente ativa houve 27,5% de aumento entre 2008 e 2013. Já o 1% mais rico teve elevação do seu rendimento médio real de 16,3%, o que significa dizer que a população que vive com até R$ 181 mensais (R$ 5,84 por dia) aumentou o poder aquisitivo mais rapidamente do que aqueles com rendimento mensal a partir de R$ 19.943 (R$ 643,32 por dia).

Com base no rendimento médio do 1% mais rico no Brasil, nota-se que somente o valor de um mês de remuneração equivaleu a 9,2 anos de rendimento dos 10% mais pobres no ano de 2013. Em 2007, a mesma relação equivalia a 9,84 meses.

Por outro lado, considerando a situação do mercado de trabalho percebe-se que a proteção dos trabalhadores por parte das políticas públicas se manteve efetiva e eficiente. Entre 2008 e 2013, por exemplo, o país criou 6,7 milhões de novas ocupações, enquanto 3,7 milhões de pessoas ingressaram no mercado de trabalho.

Ademais de absorver a todos os brasileiros que ingressaram no mercado de trabalho, a economia criou novas ocupações capazes de absorver maior parcela das pessoas que se encontravam na situação de desemprego no mesmo período de tempo. Em plena manifestação da crise de dimensão global, a taxa nacional de desemprego caiu 19,9% em cinco anos, passando de ser 8,15% da força de trabalho, em 2007, para atingir 6,53%, em 2013.

O processo de inversão de prioridades perseguido no plano federal tem rendido ao conjunto dos trabalhadores, em especial os mais pobres, uma proteção inédita frente aos impactos da crise de dimensão global. Desemprego em baixa e a elevação real dos rendimentos, sobretudo na base da pirâmide social, permite seguir reduzindo a desigualdade de renda no Brasil, uma referência internacional.

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Marcio Pochmann é professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas. É colunista da RBA