Apesar de queda, juros dos bancos seguem acima de 44% ao ano

Índice apurado pelo Banco Central se aproxima de mínima da série histórica, iniciada em 1994. Nova mudança no compulsório é descartada pelo órgão

Juro do cheque especial alcançou 167,3%, menor desde 2008 (Foto: Sanja Gjenero/Sxc.hu)

Um dia depois de alterar normas de recolhimento do compulsório dos bancos, o Banco Central constatou redução dos juros médios cobrados pelos bancos. Para famílias (pessoas físicas), houve queda de 44,9% para 44,1% ao ano, enquanto a taxa geral passou de 36% ao ano, em julho, para 35,4% ao ano, em agosto.

O percentual cobrado das famílias se aproxima da mínima da série histórica, registrada em dezembro de 2007, de 43,9%. No caso do cheque especial, houve redução de 6,3 pontos percentuais, o que significa elevados 167,3% ao ano. Apesar de 20 vezes maior do que a Selic, é o menor desde junho de 2008 (159,1% ao ano).

Na segunda-feira (28), a diretoria do Banco Central aprovou mudanças nas normas que regulamentam a exigibilidade dos bancos recolherem à autoridade monetária uma parcela dos depósitos a prazo. Antes, 60% do compulsório eram recolhidos em espécie e 40% em títulos, e essa relação foi alterada para 55% em espécie e 45% em títulos. Com isso, a instituição ajusta a regulamentação do compulsório bancário, favorecendo os bancos de menor porte, sem alterar a liquidez do sistema.

Outra mudança foi limitar a dedução de depósitos compulsórios de valores empregados para a aquisição de instituições. Depois do início da crise financeira, em setembro de 2008, o BC havia liberado que os gastos com a compra de bancos de patrimônio menor do que R$ 7 bilhões poderiam ser deduzidos. Agora, o patrimônio limite é R$ 2,5 bilhões.

As medidas anunciadas visam tão somente atualizar as regras às condições atuais da economia. O Banco Central avalia que, depois de um ano do agravamento da crise financeira mundial, “o mercado de crédito doméstico dá sinais de paulatina normalização”.

Segundo o presidente da instituição, a mudança tem efeito neutro no mercado em termos de liquidez e que não há novas mudança à vista nesse segmento.

Juros

A taxa cobrada pelo crédito pessoal, o que inclui operações consignadas em folha, passou de 44,8% ao ano, em julho, para 44,3% ao ano, em agosto. No caso das empresas, a taxa geral passou de 26,7% ao ano para 26,4% ao ano.

A inadimplência das operações de crédito, principal justificativa dos bancos para a manutenção de elevados spreads – diferença entre o valor pago a poupadores e o cobrado em empréstimos – se manteve estável, em 5,9% em agosto, mesmo percentual do mês anterior.

A taxa permanece no teto da série histórica do BC, iniciada em junho de 2000, e é calculada a partir do percentual do saldo em atraso acima de 90 dias em relação ao total.

No caso específico das empresas, a taxa chegou a subir 0,1 ponto percentual para 3,9%, variação compensada nas operações a pessoas físicas, em que houve redução para 8,4%.

Volume

O volume total de crédito chegou a R$ 1,3 trilhão em agosto deste ano, aumento de 19,5% no acumulado de 12 meses e 1,5% na comparação com o resultado de julho. A relação entre o crédito e o Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, ficou em 45,2% no mês passado, contra 44,8% em julho deste ano e 36,7% em agosto de 2008.

Segundo a Nota de Política Monetária e Operações de Crédito do Sistema Financeiro, o crédito pessoal (às famílias) apresentou crescimento mais expressivo, relacionado ao crédito consignado. Operações direcionadas, como aos setores rural, habitacional e de infraestrutura, bem como ao capital de giro das empresas, tiveram evolução moderada.

100% BC

Em seminário promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou que permanece à frente da instituição até março de 2010, independentemente de uma eventual filiação a um partido político. Uma adesão ao PMDB é esperada para os próximos dias.

“No momento, estou 100% no BC e essa é uma decisão que tem implicações políticas, caso eu considere a carreira política no futuro”, disse Meirelles. Ele informou que deve decidir sobre a filiação nesta semana. O prazo para desincompatibilização de cargos públicos termina em março do ano que vem. 

Com informações da Agência Brasil e Reuters