RETRAÇÃO

Queda na produção industrial resulta de falta de planejamento do governo Bolsonaro, diz especialista

Falta de políticas públicas afeta cadeia produtiva e reflete no alto desemprego e baixos salários

CNI/José Paulo Lacerda
CNI/José Paulo Lacerda
Entre 2013 e 2019 o Brasil perdeu quase 30 mil indústrias e 1,4 milhão de vagas, segundo a Pesquisa Industrial Anual do IBGE realizada em 2021

São Paulo – A produção industrial registrou o sexto mês consecutivo de queda, ficando em – 0,2% em novembro de 2021, na comparação com o mês anterior. Para o sociólogo, consultor sindical e ex-diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, os dados são graves, pois a reduzida atividade em um setor vital da economia afeta o nível de empregos e a dinâmica econômica. E o cenário, segundo ele, se relaciona com a falta de ações e políticas públicas do governo de Jair Bolsonaro.

De acordo com os números da Pesquisa Industrial Mensal (PIM) divulgados na última quinta-feira (6) pelo IBGE, se a comparação é feita com o período anterior ao início da crise sanitária do novo coronavírus, a produção industrial segue com um desempenho ainda pior, com queda de 4,3% em relação ao patamar pré-pandemia. O especialista ressalta que o país já enfrentava uma recessão econômica, diante de um governo federal que deixou de lado qualquer política orientada para a organização da atividade produtiva.

“É um resultado esperado por causa dos efeitos da pandemia, mas soma-se isso à incapacidade de retomarmos a produção de maneira organizada, porque não há iniciativas e investimento do governo federal”, explicou, em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual. “Essa ausência de estratégia é deliberada. A política econômica do governo Bolsonaro transfere todas as responsabilidades para que a iniciativa privada faça suas escolhas. Na visão desse governo, não cabe a ele conduzir nenhum trabalho. Sem uma coordenação do Estado, o resultado será este”, acrescentou.

Consequências da desindustrialização

Entre 2013 e 2019 o Brasil perdeu quase 30 mil indústrias e 1,4 milhão de vagas, segundo a Pesquisa Industrial Anual do IBGE realizada em 2021. Um dos principais exemplos foi a saída da Ford, que em 2021 fechou suas fábricas e decidiu interromper a produção no país. Clemente estima que só esta perda tenha encerrado cerca de 120 mil postos de trabalho brasileiros.

O ex-diretor do Dieese explica que, além da falta de incentivo federal, a economia do país também enfrenta outros dois problemas: o alto desemprego e o arrocho salarial – ambos provocados em parte pela reforma trabalhista de 2017. “Isso está afetando a capacidade de consumo das famílias e reduz a demanda da sociedade, leva também o setor industrial a produzir menos. É um conjunto de fatores que confere um baixo dinamismo à atividade produtiva. Estamos numa situação muito grave na indústria, que leva consequências para o emprego e à economia do Brasil”, afirmou ele.

Antes do golpe de 2016 contra ex-presidenta Dilma Rousseff, a Petrobras foi indutora de uma cadeia produtiva na indústria naval, numa ação coordenada com o Estado. Este é um dos exemplos dados pelo sociólogo de como o governo federal poderia impulsionar o setor industrial. Ele lembra que países como a China estão fortalecendo a economia por meio de programas nacionais. “Enquanto isso, a América do Sul não tem feito nada, e o Brasil é um dos responsáveis por isso. A retomada passa pelo investimento e articulação pública, só assim é possível sair dessa crise, o que pode ser por meio das empresas públicas”, criticou.

“Sempre que a dinâmica de um setor não é capaz de sustentar o aumento da produção para atender a demanda, ele sofre uma queda em sua estrutura produtiva. A base industrial brasileira está em queda continuada pelas carências de investimento e também porque não há demanda por parte das famílias. Quando a base industrial perde dinamismo, temos como consequência queda no emprego e nos salários. Portanto, estamos fragilizando o segmento que oferece os melhores trabalhos e remunerações. Isso contribui para que a depressão na demanda seja muito maior”, finalizou o especialista.

Confira a íntegra da entrevista:


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