Relações Internacionais

Para Mattoso, viagens de Dilma mostram que Brasil é ‘potência global’, como disse Obama

Depois dos Estados Unidos, presidenta viaja, nesta terça-feira, à Rússia, onde participa da Sétima Cúpula dos Brics, após anúncio de entrada em vigor do acordo de criação do Novo Banco de Desenvolvimento, o NBD

Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

Depois de Obama, agenda movimentada inclui presidente russo, Vladimir Putin, e líderes dos Brics e da Itália

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff embarca amanhã (7) para a Rússia, onde participa da sétima cúpula dos Brics, grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, na cidade de Ufá. Há um ano, na chamada Cúpula de Fortaleza, os países anunciaram a criação do Banco dos Brics. Na última sexta-feira (3), nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores anunciou terem sido “cumpridos todos os requisitos referentes ao depósito dos instrumentos de aceitação, ratificação ou aprovação do Acordo sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), assinado em 15 de julho de 2014”. O governo disse que o acordo entrou em vigor no mesmo dia.

A viagem de Dilma se dá uma semana depois da visita oficial aos Estados Unidos, o que demonstra que a agenda da política externa brasileira é hoje menos ideológica do que pragmática. “Como disse o presidente Barack Obama, o Brasil é um ‘player’ global, e age como tal. Articula os interesses desse conjunto de países que têm importância estratégica na economia e na sociedade mundial”, avalia Jorge Mattoso, professor aposentado do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da Caixa Econômica Federal entre 2003 e 2006. Na sexta-feira (10), Dilma vai à Itália, onde se reúne com o primeiro-ministro, Matteo Renzi, e com o presidente italiano, Sergio Mattarella, em Roma.

Para Mattoso, a concretização do Banco dos Brics é importante economicamente, mas não por resultados de curto prazo. “Não acho que terá efeito imediato, mas é imediatamente demonstrativo da importância que o Brasil e esse conjunto de países está dando a sua articulação”, diz.

Embora não vá, na opinião do economista, “alterar a conjuntura”, o Banco dos Brics “é muito positivo do ponto de vista do médio e longo prazos”, por ter o potencial de abrir novos instrumentos de financiamento para infraestrutura, entre outros motivos. “Haverá recursos disponibilizados de forma mais rápida e de maior valor, inclusive, do que FMI e Banco Mundial, e é um elemento importante do ponto de vista da constituição de um mecanismo novo desse conjunto de países chamados de Brics. É positivo para o futuro, para a infraestrutura, para o Brasil, para a história futura da economia e da sociedade brasileira.”

Na opinião de Mattoso, a criação de instrumentos como o NBD, que apontam para a consolidação de relações mais estreitas entre os países, é significativa também pela importância dos países do bloco. “A iniciativa tomada pelo governo e pelos governos desse conjunto de países (de formar o banco) tem uma importância extraordinária na história recente da economia e do mundo. Estamos falando da China, da Rússia, da África do Sul, do Brasil e da Índia. Isso pode estreitar as relações econômicas, além das relações diplomáticas importantes, que já existem entre esses países”, afirma Mattos.

No dia 3 de junho, o plenário do Senado aprovou acordo que constitui o NBD, que havia sido aprovado pela Câmara em maio. O novo banco contará com capital subscrito inicial de US$ 50 bilhões e capital autorizado inicial de US$ 100 bilhões.

Segundo o Ministério da Fazenda, os países que compõem os Brics representam 42% da população mundial, 26% da superfície terrestre e 27% da economia global.

Logo após a aprovação do acordo pelo Legislativo, o ministério divulgou nota na qual afirma que o banco deve mobilizar recursos para projetos de infraestrutura e de desenvolvimento sustentável não apenas nos países do Brics, mas também “em outras economias emergentes e países em desenvolvimento, complementando a atuação de outros bancos multilaterais, regionais e nacionais de desenvolvimento”.

Grécia

Na opinião de Jorge Mattoso, a Grécia pode vir a se beneficiar da criação do Banco dos Brics, “mas o banco vai estar preocupado com consertar recursos para seus membros, inicialmente, mas não exclusivamente”.

Embora a situação grega seja muito difícil, a vitória do “não” no referendo do fim de semana pode criar um cenário melhor, politicamente, já que pode levar a uma nova negociação com os credores. “(O ‘não’) pode ser positivo, se eles conseguirem fazer com que a Europa reconheça a necessidade de fazer nova negociação, em novos termos – apesar de que eles vão ter que adotar medidas duras, internas, não tem como fugir disso.” Para Mattoso, a Grécia não deve sair do euro. “Acho que seria uma trapalhada se saíssem, mais para os gregos do que para os europeus.”

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