Paulo Vannuchi

Alta de juros é mais que erro, é ‘quase burrice’ da equipe econômica

Para colunista da rádio, alta da Selic não se aplica a conter inflação que não é de demanda. Dieese vê transferência de recursos públicos para os rentistas. E CUT quer centrais e setor produtivo no Copom

Joélcio Santana/ Força Sindical / Fotos Públicas

Centrais sindicais organizam ato contra alta dos juros pelo BC, em São Paulo: políticas equivocadas

São Paulo – A política de juros adotada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) do Banco Central não é apenas um erro da equipe econômica: é “quase uma burrice”. A avaliação é do jornalista e analista político Paulo Vannuchi, em sua coluna de hoje (3) na Rádio Brasil Atual. Segundo ele, há quem aposte que a alta seja de 0,25 ponto percentual e também circularam rumores de que a presidenta Dilma Rousseff tenha pressionado a equipe para que não promova nenhuma alteração e mantenha a Selic como está, em 13,25%. Mas a tendência predominante apontada por analistas é de que o Copom, na reunião que se encarra hoje (3), eleve a taxa básica de juros, que corrige os títulos com que o Tesouro Nacional e faz a rolagem da dívida pública, em meio ponto percentual, para 13,75% ao ano.

Vannuchi aponta essa política como contraditória, num momento em que o próprio governo promove um ajuste que o obriga a cortar uma série de gastos públicos numa ponta, enquanto na outra eleva as despesas com o serviço da dívida. Segundo o colunista, o pretexto de que os juros são necessários para conter a inflação não se aplica a uma inflação que não é de demanda, “quando a loja tem dez geladeiras para cada 30 interessados em comprar”, explica. A inflação, observa, foi pressionada sobretudo pelos chamados preços controlados, como tarifas de energia e preços dos combustíveis – medidas que tiveram impacto nos primeiros meses e que não terão nos próximos.

O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, considera que os juros altos diminuem os investimentos do empresariado na produção, o que conduz à uma redução da renda e dos empregos. “O empresariado está investindo em títulos do governo. Quem está enfrentando muitos problemas este ano são os trabalhadores. Uma parte dos empresários até passa por dificuldades, mas outra parte está aguardando sinais mais positivos e, enquanto isso não acontece, ganha dinheiro com aplicação financeira. A alta da Selic é bem-vinda pra eles. Quanto maior melhor”, afirmou Rafael à repórter Camila Salmazio, da Rádio Brasil Atual, durante protesto de ontem de centrais sindicais contra a política de juros.

“Infelizmente, mais uma vez, o Banco Central decidirá aumentar a taxa de juros, conferindo um custo social e econômico muito alto para a economia brasileira e fazendo uma transferência do orçamento da União para os rentistas de forma acentuada”, afirmou o economista Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese, também à Rádio Brasil Atual.

Ouça a reportagem de Camila Salmazio:

Unidade das centrais

Para Paulo Vannuchi, portanto, foi acertada a decisão de algumas centrais sindicais de promover um protesto diante do prédio do Banco Central, ontem (2), embora cômoda para a Força Sindical e a UGT. Vannuchi avalia que “ficaria mal” para a Força e a UGT se omitirem, depois de se ausentarem de um dia de lutas que promoveu manifestações e todo o país no último dia 29. “Então improvisaram um evento fácil de fazer diante da sede do BC contra o aumento de juros”, disse, acrescentando que foi acertada também a presença no ato de importantes dirigentes da CUT, como o secretário-geral nacional, Sérgio Nobre, e o presidente estadual em São Paulo, Adi dos Santos Lima.

Vannuchi aponta o “caráter” do presidente licenciado da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), como o de um “oportunistas, de um sindicalismo de negócios”, mas ressalva a conduta do atual presidente da central como “equilibrada” e que ajuda a construir a unidade. “Portanto, a presença da CUT no ato convocado pela Força e a UGT é muito positiva. A unidade das centrais é necessária, mesmo quando há colossais divergências políticas.”

Sérgio Nobre defendeu a participação de representantes do empresariado e das centrais sindicais no Copom. “O que acontece é que são pessoas ligadas ao mercado financeiro que se reúnem para tomar essa decisão que impacta todo mundo. Então, a composição desse conselho tem de ser revista. Há anos as centrais reivindicam que o setor produtivo faça parte desse conselho, e acho que temos de retomar essa agenda.”

Ouça o comentário de Paulo Vannuchi na Rádio Brasil Atual: