Futebol

Brasil investe R$ 28 bilhões na Copa, com 80% de verbas federais

Boa parte do dinheiro público foi repassada como empréstimos do BNDES, que 'serão reembolsados com juros'. Banco já empenhou R$ 8,7 bilhões em obras

tânia rêgo/abr

Há sete áreas beneficiadas com investimentos federais, estaduais, municipais e privados liberados por causa da Copa

São Paulo – Mais de R$ 28 bilhões foram investidos na realização da Copa das Confederações, que terminou ontem (30) com a vitória do Brasil, e da Copa do Mundo de 2014, a ser realizada em 12 cidades brasileiras. Os valores estão expressos no último monitoramento de gastos realizado pelo Ministério do Esporte, e foram divulgados em resposta às manifestações populares das últimas semanas.

Gritos ouvidos nos protestos denunciam a elevada soma de dinheiro destinada à preparação do país para os eventos da Fifa. “Copa o caralho, quero escola, saúde e trabalho”, bradavam alguns manifestantes, enquanto cartazes criticavam as escolhas do governo federal. Segundo alguns grupos, em vez de despender seus recursos em saúde e educação, o Planalto estaria alocando em estádios as verbas disponíveis. Por isso, traziam mensagens como “Queremos hospitais padrão Fifa”.

No entanto, a União não é responsável pela totalidade dos investimentos. Dos R$ 28,1 bilhões gastos até agora, o Ministério do Esporte afirma que não mais de R$ 6,5 bilhões saíram do Orçamento federal. Boa parte disso seria fruto de renúncia fiscal e subsídios. “É algo que o governo distribui de forma ampla e generosa”, defendeu o titular da pasta, Aldo Rebelo, em entrevista conjunta com o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, concedida na última segunda-feira (24) no Rio de Janeiro.

Parte significativa desses R$ 28,1 bilhões, porém, provém de fontes públicas. Aos R$ 6,5 bilhões de recursos federais diretos, é possível somar mais R$ 7,3 bilhões oriundos de estados e municípios que sediarão jogos da Copa. O dinheiro público também se manifesta na forma de linhas de crédito oferecidas a juros reduzidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para governos estaduais, municipais e para a iniciativa privada.

De acordo com o Ministério do Esporte, esses financiamentos alcançaram o valor de R$ 8,7 bilhões. O poder público brasileiro, em todos os níveis, colocou R$ 22,5 bilhões na organização da Copa do Mundo, valor que corresponde a mais de 80% dos investimentos já realizados para sediar os jogos da Fifa. Fecham as contas parciais do governo os R$ 5,6 bilhões que teriam sido desembolsados pelas empresas privadas na realização do megaevento.

Investimentos

Há basicamente sete áreas beneficiadas com os investimentos federais, estaduais, municipais e privados liberados por causa da Copa. Até o momento, as obras que mais receberam recursos foram as de mobilidade urbana, com R$ 8,9 bilhões, seguidas pela construção, reforma e ampliação de aeroportos, que já consumiram R$ 8,4 bilhões. Em terceiro lugar na destinação de recursos estão os estádios, com R$ 7,6 bilhões.

Os maiores destinatários de recursos diretos da União têm sido os aeroportos, que, apesar da ampla participação de empresas, já demandaram o desembolso de R$ 3,3 bilhões do governo federal. Logo atrás aparecem segurança, com R$ 1,9 bilhão; portos, com R$ 700 milhões; telecomunicações, com R$ 400 milhões; e turismo, com R$ 200 milhões. Os empréstimos federais se destinam prioritariamente às obras de mobilidade urbana e aos estádios, rubrica que também consome a maior parte de recursos estaduais e municipais.

Em seu último pronunciamento em cadeia nacional de rádio e tevê, na sexta-feira (21), a presidenta Dilma Rousseff garantiu à nação que a maior parte dos investimentos da Copa se deram na forma de empréstimos do BNDES a estados, municípios e empresas, e que esse dinheiro será devolvido ao Tesouro ao longo dos anos. À RBA, o banco enfatizou que “os recursos aplicados nos estádios são reembolsáveis e voltarão ao banco, com juros”.

“O BNDES não está deixando de atender, em função dos financiamentos às arenas, aos bons projetos relacionados aos setores de saúde, educação, saneamento, mobilidade urbana ou qualquer área relevante para o desenvolvimento do país”, disse a instituição. “O banco também concede apoio não reembolsável a alguns projetos sociais (como a inclusão socioprodutiva de catadores de material reciclável), ambientais, culturais e tecnológicos.”

Linhas

O BNDES explica que em 2010 disponibilizou duas linhas de crédito para financiar as obras de preparação para o evento da Fifa: o ProCopa Arenas, lançado em janeiro daquele ano para a construção e reforma de estádios nas 12 cidades-sede da Copa; e o ProCopa Turismo, instituído em fevereiro para auxiliar na modernização do parque hoteleiro do país. Também em 2010, o banco assinou com os entes federativos a Matriz de Responsabilidades, que definem as competências da União, estados, municípios e iniciativa privada na condução das obras de infraestrutura.

Apenas para a reforma e construção de estádios, o BNDES disponibilizou R$ 4,8 bilhões, dos quais R$ 3,4 bilhões já estão prontos para ser liberados. Na linha do ProCopa Turismo, podem ser emprestados até R$ 2 bilhões, dos quais R$ 832 milhões foram aprovados. Outros R$ 628 milhões estão em análise. Esse dinheiro se destina basicamente à reforma de hotéis, a maioria deles administrada por grandes cadeias internacionais, como Ibis, Hyatt, Mercure e Hilton.

“Além do apoio às arenas e ao setor hoteleiro, o BNDES financia outros empreendimentos, por meio de suas linhas tradicionais, que terão impacto positivo na realização tanto da Copa do Mundo de 2014 quanto das Olimpíadas 2016”, disse o banco, citando obras como a construção dos corredores de ônibus BRT Transcarioca; as reformas dos aeroportos de Campinas (SP), Brasília e São Gonçalo do Amarante (RN); e a adaptação do Riocentro para abrigar o Comitê Organizador da Copa.

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