Dilma sinaliza corte de incentivos de montadora que demitir

Em Londres, presidenta afirma que Brasil 'não é uma ilha' e sofre os efeitos da crise internacional, o que levará a um novo pacote de medidas entre agosto e setembro

Dilma afirmou que incentivos à indústria têm como único fim a garantia de emprego e renda (Foto: Roberto S. Filho/PR)

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff avisou hoje (27) as montadoras que demissões levarão ao corte dos incentivos concedidos em maio. “À medida que acontecem esses incentivos, é absolutamente justo que o governo acompanhe o desempenho do emprego. Aliás, só damos incentivo e fazemos uma política anticíclica para garantir o emprego. Não é por outra coisa. Todos os setores que receberem incentivos do governo têm de saber que nós fazemos isso por um único motivo, que é garantir emprego e renda para o povo brasileiro”, afirmou durante conversa com jornalistas em Londres, onde mantém uma série de reuniões bilaterais e assiste à abertura dos Jogos Olímpicos. 

Em 21 de maio, o Ministério da Fazenda zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros populares e reduziu as alíquotas para os demais modelos. O pacote de medidas teve como objetivo ajudar a compensar as perdas provocadas pela redução do dinamismo do mercado internacional, afetado pela crise que assola a Europa. A contrapartida era uma: que não ocorressem demissões. “Damos incentivos fiscais e financeiros e queremos retorno para o país inteiro, não é para o governo. É a manutenção do emprego”, afirmou Dilma. O prazo dado pelo governo termina no dia 31 de agosto, mas é possível que as medidas sejam prorrogadas.

Esta semana, a General Motors (GM) concedeu licença remunerada a 7.200 funcionários na fábrica de São José dos Campos, no interior paulista, o que levantou o temor de que até 2 mil vagas sejam fechadas em breve. Metalúrgicos receiam o fechamento de parte da unidade e até mesmo o encerramento das atividades em São José. Durante reunião, a GM e o sindicato local acertaram que não haverá demissões até 4 de agosto, quando serão apresentadas novas propostas. O tema já havia sido levado ao ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que se comprometeu a encaminhar a questão a Dilma. 

Em Londres, a presidenta reiterou que o Brasil está bem posicionado para enfrentar a crise internacional, mantendo um nível de crescimento considerado bom dentro do atual contexto – o governo trabalha agora com a perspectiva de uma expansão de 3%. “O Brasil não é uma ilha. Todos os países dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) estão sendo afetados pela crise. A redução do crescimento na China impactou no Brasil, impactou na Índia”, afirmou. “A diferença do Brasil para o caso do Reino Unido é que nós temos uma situação fiscal, financeira, bancária diferenciada. O Brasil fez seu dever de casa até porque aprendeu. Não vamos nos esquecer que a gente teve uma crise da dívida soberana que durou 20 anos.”

Ela adiantou que será lançado um novo pacote de estímulos entre agosto e setembro na tentativa de reforçar o ciclo de crescimento. “Estamos muito preocupados em reduzir o custo do país”, apontou, acrescentando que as novas medidas terão como foco a redução do custo da energia, a integração de investimentos públicos e privados em infraestrutura e corte de impostos. “O país está aproveitando essa oportunidade que temos de redefinir as condições de crescimento econômico. Temos certeza que estamos em um caminho de estabilidade. Com a inflação sob controle. Vamos fazer tudo isso mantendo a solidez fiscal e continuando nossas políticas sociais, que são essenciais para nosso país.”

A diretoria da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automorores (Anfavea) preferiu não comentar o assunto, segundo a Agência Brasil. Por meio de sua assessoria de imprensa ressaltou que o último levantamento sobre o desempenho do setor, relativo a junho, indicou uma expansão no número de postos de trabalho, com a criação de 1,9 mil vagas. A base de trabalhadores passou de 145 mil, em maio, para 146,9 mil, em junho, depois de ter ficado praticamente estável nos meses anteriores. Em março, houve um leve crescimento, de 145 mil para 145,1 mil, e em abril, de 145 mil para 145,2 mil. Apesar disso, a entidade vê problemas em alguns setores. 

Já o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Flávio Meneghetti, pediu ao ministro da Fazenda interino, Nelson Barbosa, a manutenção das medidas de incentivo ao setor. Meneghetti participou de uma reunião de trabalho hoje, no Ministério da Fazenda, com outros representantes do setor, exceto das montadoras, e a senadora Kátia Abreu (PSD-TO), presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

A Fenabrave pediu ainda ajuda para o setor de motocicletas que, segundo Meneghetti, tem dificuldade de acesso ao crédito para o consumidor final e tem sofrido mais que outros segmentos. Para ele, o Banco Central (BC) deveria liberar parte do depósito compulsório para o financiamento de motocicletas, assim como faz com os automóveis – medida adotada pelo governo para enfrentar a crise. O depósito compulsório é um valor que as instituições financeiras são obrigadas a depositar no BC.

“Ele [Nelson Barbosa] ficou de conversar com o Alexandre Tombini [presidente do BC], e acredito que a medida deve sair. Para cada 100 propostas de compra de motos, apenas dez ou 11 são aprovadas. Também solicitamos a manutenção do Procaminhonheiro, que tem uma taxa de 5,5% para caminhões, importante para o setor”, disse Meneghetti, ao deixar o ministério. O Programa Procaminhonheiro é mantido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Para Meneghetti, o problema na GM é pontual, e não de todo o segmento automotivo. “Os estoques estão mais confortáveis, e esperamos a retomada na sequência da manutenção das medidas. Acredito que as montadoras terão de entender que este é um momento em que todos devem reunir esforços para manter a economia aquecida e por isso terão de rever suas posições.”

Com informações da Agência Brasil

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