Banco Central indica juros abaixo de 10% ao ano por causa da crise na Europa

Inflação controlada em 2012 permitem ao Copom ver como 'elevada' a possibilidade de redução da Selic a menos de 10% ao ano

Copom cortou dois pontos da taxa nas últimas quatro reuniões, levando a Selic a 10,5% ao no (Foto: Valter Campanato/Arquivo Agência Brasil)

São Paulo – Juro abaixo de 10% ao ano é o cenário apontado como muito provável pela ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgada nesta quinta-feira (26). Com poucos riscos de inflação e diante de efeitos indiretos da crise que atinge a Europa e os Estados Unidos, a autoridade monetária enxerga um cenário de “mudanças estruturais significativas na economia brasileira” que permitem caminhar para novas reduções na taxa básica de juros, a Selic.

No dia 18, o Copom promoveu o quarto corte concecutivo de 0,5 ponto percentual na Selic, trazendo-a a 10,5% ao ano. Ao vislumbrar uma taxa em “patamares de um dígito”, a ata, divulgada sempre na quinta-feira da semana seguinte à reunião, os diretores do Banco Central deixam claro que novos cortes serão realizados. É cedo para afirmar quando isso aconteceria. No ritmo de redução atual, seriam necessárias mais duas reuniões, mas bastaria um corte de 0,75 ponto percentual para o cenário se concretizar.

A última vez em que a Selic ficou abaixo de 10% ao ano foi entre julho de 2009 e julho de 2010. O período é o único da série histórica do Copom, iniciada em 1996, a permanecer em patamares assim.

A redução na taxa de juros tem resultados importantes sobre o crescimento da economia. Com percentuais mais baixos, há mais incentivos ao consumo das famílias – importante motor da evolução do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos últimos anos – e, principalmente, a investimentos. Juros em níveis elevados, como os com que o país conviveu a partir da década de 1990, trazem dificuldades à indústria e à agricultura, que depende de financiamento para ampliar a capacidade produtiva.

Na visão do Copom, uma “solução definitiva para a crise financeira europeia” deve demorar ainda mais. Países como Grécia, Itália, Portugal, Espanha e França vivem atualmente cenários de desconfiança das agências de classificação de risco e de operadores do chamado mercado.

A capacidade de esses Estados nacionais honrarem os compromissos e dívidas assumidos motiva dúvidas. A resposta adotada até o momento tem sido ajustes fiscais nesses países, com cortes de investimentos do setor público e redução de direitos sociais – ações que tendem a esfriar a atividade econômica e a agravar a recessão vivida atualmente.

Inflação

Como uma das tarefas do BC é conduzir a política monetária para assegurar que a meta de inflação seja cumprida, a oscilação de preços é o centro de parte da ata. O Copom avalia que, diferentemente de 2011, ano que começou com pressões sobre a inflação, neste ano a situação mostra-se mais controlada. Enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou próximo do teto da meta, para 2012 ele deve ficar perto do centro (4,5% ao ano).

A ata lembra que a meta de inflação, fixada com dois anos de antecedência pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), foi cumprida pelo oitavo ano concecutivo. A última vez em que a autoridade monetária ultrapassou o limite previsto foi em 2003. Sem previsão de aumento em itens como combustíveis e gás de cozinha e com a perspectiva de cumprimento de uma política fiscal rígida com superávit primário cumprido (com economia do Executivo para pagamento de juros da dívida), a perspectiva é de melhora também em relação aos preços.