G-20 se compromete a cortar gastos e a estimular consumo

Toronto (Canadá) – Depois de dois dias de discussões, no sábado e domingo (26 e 27), os líderes dos países mais ricos do mundo e de alguns emergentes, que integram […]

Toronto (Canadá) – Depois de dois dias de discussões, no sábado e domingo (26 e 27), os líderes dos países mais ricos do mundo e de alguns emergentes, que integram o G-20, concluíram a declaração final da cúpula. O esforço foi para indicar à comunidade internacional que uma série de medidas deve ser adotada como prevenção às crises financeiras.

A ordem é buscar a recuperação econômica. No entanto, não há especificações nem detalhamento. O tom foi de recomendação. O G-20 reúne as principais economias do planeta, o que inclui os países mais ricos e alguns emergentes. 

Houve uma tentativa de contemplar a todos – países ricos e emergentes. O item mais controvertido foi a redução do déficit pela metade até 2013, medida da qual o Brasil discordava por considerar ousada demais. A orientação incluiu para isso todos os países, com exceção do Japão.

Em 27 páginas, com três anexos, o G-20 traça uma série de metas e orientações que devem ser seguidas como princípio pelos países. A consolidação dessas medidas, porém, só deverá ocorrer depois da reunião do grupo em Seul, na Coreia do Sul, em novembro.

“O G-20 tem como maior prioridade garantir e fortalecer a recuperação e lançar as bases para um crescimento forte, sustentável e equilibrado, incluindo o fortalecimento do nosso sistema financeiro contra os riscos”, diz o documento.

A busca pelo tom equilibrado ressalta a necessidade de que todos contribuam com os planos de estímulo, fortalecimento e apoio para a recuperação econômica mundial. As “recuperações econômicas” são destacadas repetidas vezes.

Os emergentes, inclusive o Brasil, conseguiram anexar um item no documento sobre a reforma das instituições financeiras internacionais – no caso o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. Não há uma fixação de datas nem prazos. Mas o tema foi definido como a “ser concluído”.

“Um número de membros do G-20 aceitou formalmente promover as reformas”, diz a declaração final. “Outros participantes irão completar o processo de aceitação na próxima reunião [do G-20] com os ministros da área econômica e presidentes dos bancos centrais. Apelamos a todos os participantes que façam o mesmo”, acrescenta o documento.

O comunicado destaca os esforços da comunidade europeia para combater os efeitos da crise financeira, que atingiu principalmente a Grécia, Espanha e Portugal. É mencionada indiretamente a China por ter valorizado o yuan (moeda chinesa), que até então era criticada por manter de forma irreal a baixa valorização da moeda para beneficiar a indústria do país e prejudicar as demais.

Os Estados Unidos conseguiram adiar, mais uma vez, os debates sobre o fim do protecionismo. O presidente norte-americano, Barack Obama, reconheceu ter dificuldades internas para promover o debate sobre a liberalização do comércio. Por essa razão, houve apenas uma citação à disposição de retomar as discussões.

“Por isso, reiteramos o nosso apoio para levar a Rodada Doha na busca por uma conclusão equilibrada e ambiciosa, logo que possível”, informa o comunicado. Instruímos nossos representantes que utilizem todas as vias de negociação para alcançar esse objetivo”, conclui o documento.

Emergentes

Na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que representou o presidente Lula nos debates do G-20, a conclusão das negociações foi positiva para Brasil e outros emergentes. O ministro disse que o documento final esclarece responsabilidades e compromissos, livrando os emergentes da obrigação de sustentar os demais países, se houver crises econômicas.

“Os emergentes foram plenamente contemplados”, comemorou Mantega. “Eles (os países ricos) têm de fazer a parte (que lhes cabe). Do contrário, o ajuste fica só nas costas dos países emergentes”.

Mantega referiu-se ao item, da declaração final, que impõe a meta de que todos os países terão de associar medidas de ajuste fiscal a alternativas de estímulo ao consumo interno. Segundo ele, foi uma mensagem para o Japão, a Alemanha e a China, países que concentram boa parte da economia em exportações.

“O Brasil não tem problema de estimular o mercado interno porque já está ‘bombando'”.

De acordo com o ministro, o temor dos países emergentes era que fosse estabelecida uma meta sem incluir uma política de estímulo ao consumo. A defesa veemente dos Estados Unidos em parceria com os emergentes surtiu efeito, porém. Mantega também comemorou a inclusão do item sobre regulação do sistema financeiro.

Tensão popular

As reuniões do G-20 geraram vários protestos na Toronto. Manifestantes das mais diversas correntes – defensores do Irã, do meio ambiente e pacifistas – promoveram momentos de tensão. Houve confrontos com a polícia.

O plano de segurança, organizado pelo governo canadense, envolveu 20 mil homens. Pelo menos 600 pessoas foram presas nos últimos dias. O Canadá gastou cerca de US$ 960 mil para promover a reunião.

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