Sapucaí

São Jorge gigante e 200 anos da Independência na Bahia marcam segunda noite de desfiles

Com Rei Momo passeando de carro por entre as alas e mega bandeira que propõe “um novo nascimento” para o Brasil, Vila Isabel e Beija-Flor foram os destaques

RioTur/Fotos Públicas
RioTur/Fotos Públicas
Com 15 metros de altura, São Jorge futurista da Vila Isabel deslumbrou espectadores

São Paulo – Muita história, fé e homenagens aos gigantes marcaram o samba na segunda noite de desfiles do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro teve. A Vila Isabel levou à Marquês de Sapucaí um São Jorge gigante. Toda espelhada, a escultura reluziu na avenida para contar um enredo sobre festas e religiosidade. O carnavalesco Paulo Barros, um dos mais inventivos, fechou o desfile da Vila com um Rei Momo que desceu do carro alegórico num calhambeque passando entre as alas para saudar os foliões.

Outro destaque foi a Beija-Flor, que trouxe altas doses de política para contar os 200 anos do 2 de julho na Bahia, que marca a consolidação da independência do Brasil. Assim, o enredo lembrou dos excluídos e marginalizados, saudando a luta contra o racismo e machismo.

A cantora Ludmilla dividiu com Neguinho da Beija-Flor a responsabilidade por levar o samba da escola de Nilópolis. A escola fechou com o carro “Por um novo nascimento”, com uma bandeira de 176 metros, tecida por uma baiana, representando os excluídos que a história oficial renegou. No início do desfile, o carro abre-alas sofreu um princípio de incêndio, mas não houve feridos.

Primeira a desfilar, a Paraíso do Tuiutí viajou da Índia até o Pará para contar a chegada dos primeiros rebanhos de búfalos à Ilha de Marajó. A escola apresentou mais de 30 esculturas com animais amazônicos e indianos, além de seres mitológicos.

Centenário portelense

A Portela levou para a avenida o enredo “O Azul que Vem do Infinito”, em homenagem aos 100 anos da escola. Um show de drones escreveu nos céus os nomes dos personagens históricos da escola, como Paulo da Portela, Clara Nunes, Monarco e Candeia. A águia, símbolo da escola, brilhou em azul e dourado, no abre-alas, que trazia também Marisa Monte, Tereza Cristina, Zeca Pagodinho e Paulinho da Viola ao lado de outros nomes da velha-guarda da escola.

A comemoração do centenário, no entanto, foi afetada por problemas técnicos. O terceiro carro, nomeado “Carnavais de guerra”, travou no início do desfile. Sem conseguir andar em linha reta, a alegoria quase atingiu uma frisa próxima à cabine dos jurados. O incidente provocou um buraco no desfile, atrapalhando a evolução e a harmonia. O último caro também teve um problema parecido.

A Imperatriz Leopoldinense apresentou um “xaxado-enredo” para contar a história de Lampião. No enredo da escola, após sua a morte, o “rei do cangaço” não consegue adentrar nem ao céu nem ao inferno. De volta à Terra, ele reencarnou em grandes gênios, como o sanfoneiro Luiz Gonzaga. A literatura de cordel deu o tom da fábula. Expedita Ferreira, de 90 anos, filha de Lampião e Maria Bonita, foi um dos destaques.

“Santa africana” marca desfiles

Fechando a noite de desfiles, a Viradouro fez um retrato fantástico de Rosa Maria Egipcíaca. Trata-se da primeira mulher negra a escrever um livro no Brasil. Conhecida como “santa africana”, ela é autora da Sagrada Teologia do Amor Divino das Almas Peregrinas, que narra revelações que recebia do menino Jesus. Nascida no continente africano, ela desembarcou no Rio de Janeiro em 1725, aos seis anos de idade. Mais tarde, foi vendida a uma senhora de Minas Gerais.

Escrava de ganho, amealhou posses e fama como prostituta, até ter uma epifania aos 30 anos, quando abriu mão dos seus bens e passou a adotar uma vida religiosa. Rosa causou a ira da Igreja Católica ao narrar experiências extrasensoriais com Jesus e mesclar suas raízes africanas aos ritos cristãos. Esse incômodo terminou em perseguição, e Rosa Maria foi presa e levada pela Inquisição para Lisboa, onde permaneceu até sua morte, em 1771.