Arte em luto

Rita Lee, a Rainha do Rock brasileiro, morre aos 75 anos em São Paulo

Irreverência foi a marca da cantora paulistana, desde a formação dos Mutantes

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São Paulo – “Ainda não havia para mim Rita Lee/ A sua mais completa tradução”, canta Caetano Veloso em Sampa, sua eterna criação dos anos 1970 com as impressões de São Paulo. A mutante Rita Lee, a Rainha do Rock brasileiro e ícone da capital paulista, morreu nesta terça-feira (9), aos 75 anos, após longa batalha contra o câncer. Ela foi diagnosticada com a doença, no pulmão, em 2021.

“Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, no final da noite de ontem (segunda-feira), cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”, informou a família. O velório será aberto ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, amanhã (10), das 10h às 17h.

Rita Lee Jones de Carvalho nasceu em 31 de dezembro de 1947, em São Paulo. Era filha de Charles Jones, dentista e filho de imigrantes dos Estados Unidos, e da italiana Romilda Padula, que era pianista e incentivou a então futura mais importante rockeira do país.

Rita já integrava um trio vocal feminino aos 16 anos: as Teenage Singers. Apresentou-se em festas de escolas e foi descoberta pelo cantor e produtor Tony Campello, que chamou o trio para participar de gravações como backing vocals.

Desde 1976 vivia com o também músico Roberto de Carvalho. Eles tiveram três filhos: Beto, João e Antônio. Antes, foi casada com Arnaldo Baptista, criador do grupo Os Mutantes ao lado de seu irmão Sérgio Dias.

Ouça Rita cantando Ovelha Negra

Surgem os Mutantes

Os Mutantes são um capítulo na vida de Rita e na história da música brasileira. O nome surgiu de um almoço na casa de Ronnie Von, que estava lendo O império dos mutantes, um livro de ficção científica. Segundo o jornalista e pesquisador Carlos Calado, autor de A divina comédia dos Mutantes, o produtor Alberto Helena Jr. estava tão irritado de ouvir o cantor falar em “mutantes” o tempo todo que sugeriu – talvez ironicamente – o nome a Ronnie Von, que gostou e repassou.

Eles estrearam em outubro de 1966, no programa apresentado pelo cantor, na TV Record, e imediatamente chamaram a atenção.

O resto é história. O grupo cunhou uma página de irreverência e criatividade na música. Como se pode ver na apresentação de Domingo no Parque na final do festival da Record em 1967. O autor, Gilberto Gil, tentara primeiro o Quarteto Novo, que recusou, mas foi apresentado aos meninos pelo maestro Rogério Duprat.

A voz de Rita Lee aparece no lendário disco Tropicalia ou Panis et Circencis (1968), na canção “Panis Et Circenses”, que ela interpreta ao lado dos Mutantes.

Ouça Os Mutantes com Gilberto Gil em Domingo no Parque (1967).

Carreira solo e hits

Depois de um casamento tumultuado, Rita saiu também dos Mutantes para a carreira solo. Primeiro, com o grupo Tutti Frutti. Depois, na virada dos anos 1970 para 1980, explodiu com hits como Lança Perfume e Mania de Você. Os Acústicos da MTV também tiveram grande vendagem.

A irreverência sempre foi marca registrada da inquieta Rita Lee, como mostra, entre outras, a irônica faixa Arrombou a festa, de 1977 (um ano antes de a artista, grávida de Beto, ser presa sob acusação de uso de drogas). Nem o reservado Milton Nascimento escapou, em icônica interpretação de Mania de Você, no show Acústico, de 1998.