Morre Leon Cakoff, criador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Crítico, que tinha 63 anos, lançou um dos mais tradicionais eventos culturais do país; 35ª edição começa daqui a uma semana

Cakoff criou a Mostra em 1974, quando trabalhava no Masp (Foto: Mário Miranda/ Agência Foto)

São Paulo – Fundador e alma da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o crítico Leon Cakoff morreu nesta sexta-feira (14), aos 63 anos, em São Paulo. Desde dezembro, ele lutava contra um câncer. O velório será realizado no Museu da Imagem e do Som (MIS).

Nascido na Síria, Leon Chadarevian, seu nome de batismo, chegou ao Brasil aos 8 anos. Na segunda metade dos anos 1960, começou a escrever sobre cinema para jornais dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Em 1968, chegou a ser secretário particular do cantor e compositor Geraldo Vandré – após o AI-5, Leon Cakoff perdeu o emprego e largou o cursinho. Em vez de físico, tornou-se jornalista.

Nome fundamental na história da promoção e divulgação do cinema de vários países e diferentes culturas no Brasil, Cakoff começou a idealizar a mostra em 1971 e a concretizou em 1974, quando passou a trabalhar para o departamento de cinema do Museu de Arte de São Paulo (Masp), onde ela foi realizada por três anos até ganhar autonomia e novos espaços. Quem tiver interesse em conhecer a história da Mostra, uma opção é a leitura do livro “Cinema Sem Fim”, que narra os 30 primeiros anos, edição a edição, e foi lançado em 2007 pela Imprensa Oficial. Ele também é o autor de livros de entrevistas com os cineastas Gabriel Figueroa e Manoel de Oliveira, e outro, Ainda Temos Tempo, com crônicas de viagens relacionadas ao cinema.

“Ao longo dos 35 anos de Mostra, Leon introduziu no Brasil o cinema de grandes autores que de outra forma não teriam chegado ao público nacional. Todos esses diretores tornaram-se também seus amigos pessoais. É o caso do português Manoel de Oliveira, o cineasta mais velho do mundo em atividade, hoje com 102 anos, de quem a Mostra apresentou regularmente os filmes a partir de Amor de Perdição (1979, na 3ª Mostra); o iraniano Abbas Kiarostami, diretor de Gosto de Cereja e Cópia Fiel; e o israelense Amos Gitai, diretor de Kadosh e Alila. Todos vieram inúmeras vezes a São Paulo como convidados ou membros do Júri internacional da Mostra”, informou a assessoria do evento.

Em 1999, ele estreou como realizador cinematográfico, dirigindo com a esposa, Renata de Almeida, o filme “Volte Sempre, Abbas”, a respeito da vinda do cineasta iraniano Abbas Kiarostami à Mostra. Outro filme dele, também em parceria com Renata, é “Bem-vindo a São Paulo”, de 2004, que é composto por 17 episódios a respeito da capital paulistana filmados por cineastas como o israelense Amos Gitai. O último projeto foi “Mundo Invisível”, também em episódios em que cineastas, entre eles o egípcio Atom Egoyan e o alemão Wim Wenders, filmaram a volta dele a terra dos pais, a Armênia.

Wenders foi outro dos cineastas que participaram da Mostra. Além dele, Quentin Tarantino (Cães de Aluguel, em 1992), Pedro Almodóvar (A Flor do meu Segredo, em 1995) e Dennis Hopper (O Último Filme, em 1984) passaram pelo evento paulistano.

A ministra da Cultura, Ana de Hollanda, lamentou a morte de Cakoff. “Estou chocada, é uma perda irreparável. Em toda minha vida e formação, ele foi nome de referência. Acompanhei as suas mostras, ele orientava  para o que havia de mais importante no cinema do mundo todo”, afirmou.