Heath Ledger se despede das telas em ‘O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus’

Terry Gilliam retorna à direção com o imagético e controverso filme

Valentina (Lily Cole) e Tony (Heath Ledger) (Foto: Divulgação)

São Paulo – O último filme de Heath Ledger (Batman – Cavaleiro das Trevas) é recheado de imagens non-sense, personagens intrigantes e direção primorosa. A direção é de Terry Gillian, o único norte-americano do famoso grupo cômico inglês Monty Python.

A produção do filme quase foi cancelada por causa da morte de Ledger (em janeiro de 2008 ) que só havia filmado cerca de um terço das cenas. Gilliam foi convencido por Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel, amigos do diretor, a continuar as filmagens. Os três fizeram as cenas que faltavam. Essa resolução rendeu uma ótima sacada na história e fez sentido já que essas cenas se passam dentro de um mundo mágico em que você pode ser quem quiser.

Dr. Parnassus (Christopher Plummer) e sua companhia de teatro itinerante oferecem ao público a possibilidade de extrapolar a realidade e adentrar em um universo da imaginação por meio de um espelho mágico. Cada pessoa imagina o mundo pós-espelho de uma maneira particular e única e as consequências de sua visita a esse mundo são extremas, ou felicidade abundante ou um destino cruel. Acompanhando o Dr. temos a sua filha angelical Valentina (Lily Cole), o anão Percy (Verne Troyer), o mágico Anton e o mais novo integrante da trupe, o desmemoriado Tony (Heath Ledger).

O Dr. não contente em ter feito o pacto com o diabo para obter a vida eterna e rejuvenescer para conquistar a mãe de Valentina, aceita outro acordo para salvar a filha. Quem conseguir conquistar cinco almas no tempo mais curto, ganha a nova aposta.

A cena em que Tony aparece pela primeira vez é ao mesmo tempo extasiante e chocante, assim como a maioria do filme. Sua sombra reflete no rio como se houvesse alguém dançando sobre as águas. E não podemos esquecer o excepcional Sr. Nick/o Diabo (Tom Waits) atormentando o Parnassus e cobrando seu prêmio, a Valentina. Seu visual, o ar de mistério e mesmo o politicamente incorreto cigarro, compõem um anti-herói pelo qual temos uma ponta de simpatia.

Parnassus e o diabo

Gilliam retoma alguns elementos de seus filmes com o Monty Python. Em “A Vida de Brian” parodia a vida de Jesus e em outros filmes diversas figuras históricas. Tony parece “dançar” sobre o rio, assim como Jesus andou sobre as águas; já o fato de estar enforcando nos remete ao apóstolo Judas. Os policiais dançando para os mafiosos russos é uma descarada homenagem aos insanos musicais nas comédias do grupo inglês.

A disputa de Anton e Tony pelo coração de Valentina nos mostra o caráter de cada um e como as pessoas são complexas e ao mesmo tempo previsíveis. As lições e conselhos de Percy parecem saídos da própria consciência de Parnassus, que não se cansa de dizer o quanto o anão é importante em sua vida.

O visual surreal do filme pode não agradar a todos os gostos. Vale a pena conferir o elenco afiado e o Tony em suas quatro vertentes, a do próprio Heath e as do mundo da fantasia com Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel.

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