'causos'

Em novo livro, Ferréz escancara violenta realidade das periferias brasileiras

Obra de ficção do mais emblemático escritor da chamada literatura marginal, 'Os ricos também morrem' mostra, em contos urbanos, o cotidiano rude das cidades do país

Alexandre de Maio/ Divulgação

Ilustrações de Alexandre Maio compõem a força do livro de Ferréz

São Paulo – O escritor Ferréz recebe amanhã (5), a partir das 19h, os leitores e amigos na livraria Martins Fontes da Avenida Paulista, para o lançamento do livro Os ricos também morrem, editado pela Planeta. O autor irá fazer a leitura de alguns contos que estão no livro e serão apresentadas as ilustrações de Alexandre de Maio, feitas exclusivamente para a obra. Ferréz traz o cotidiano de personagens fictícios que povoam a vida real de muitas cidades brasileiras.

No livro, Bolonha, Mauro Maurício, Nêgo Jaime, Júnior, Dona Néia e Sebastião são heróis e anti-heróis que Ferréz criou para histórias curtas que apresentou em palestras e saraus realizados nas periferias brasileiras e também em grandes festivais literários no Brasil e no exterior. Neste livro inédito, o escritor mais emblemático da chamada literatura marginal transforma estas breves histórias em contos.

A linguagem ágil, próxima à do rap, transforma-se em literatura. Os “causos” urbanos do cotidiano rude das cidades compõem em Os Ricos Também Morrem um mosaico do Brasil real. Para os fãs da verve ácida, direta e reta desse autor reconhecido em todo o mundo, este livro dá o recado: as injustiças e a desesperança moram ao lado e não do outro lado do Atlântico.

Realidade cortante

Arquivo/EBCferréz
Linguagem ágil, próxima à do rap, e “causos” da periferia são marcas do autor

Para quem já foi a uma palestra do escritor, ler os contos de Os Ricos Também Morrem é como ouvi-lo conversar com os jovens da periferia. Com histórias curtas, o livro transborda oralidade. Ferrez testou se suas histórias “funcionavam” nos eventos que participava: “Lia o conto assim que escrevia, em palestras, escolas, faculdades, nas quebradas, e assim ia de lugar para lugar e me acostumei com os pedidos. A minha literatura estava viva de novo, com a cara do povo”, afirma no prefácio. Esta literatura viva e pulsante é resultado da história do autor e de sua relação com seu público e sua quebrada. Mais uma vez, ele levou suas histórias a lugares que geralmente não são pisados por nenhum herói da literatura brasileira.

Mesmo sendo um livro de contos, Os Ricos Também Morrem acaba tendo mais verdade que a maioria dos noticiários nacionais. É a realidade “das vielas que foram ocupadas por gente que não quer mais o que a caixa de mentiras lhes passa, (de) gente que procura a palavra como arma.” É uma ficção que mostra a conspiração da mídia, que desconstrói o caminho homogêneo da massificação, que se bate contra o consumismo: “Mostrar a verdade do ser em vez do ter. Trazer o amor à família, o valor da periferia, a nossa autoestima, a importância cultural que temos, o valor da nossa cor e da nossa história, autovalorização, e mostrar o plano maquiavélico que sempre beneficiou a elite e nos massacra financeira e culturalmente nesses anos”, pontua Ferréz na abertura.

Em uma das histórias, Bolonha, Ferréz relembra um assassinato cometido pela polícia na periferia de São Paulo, quando uma moradora de Ferraz de Vasconcelos, ligou para o telefone de emergência da Polícia Militar e informou que tinha presenciado uma execução cometida por dois PMs dentro de um cemitério. No conto A admiração de Adamastor, a situação é bem conhecida dos moradores da periferia: um líder comunitário vai até o gabinete de um vereador cobrar pelas promessas feitas durante a campanha eleitoral, num diálogo que seria cômico se não fosse trágico. O país das calças bege mostra a decepção do primeiro dia de liberdade de um detento.

Cadeia, família, religião, violência, trabalho, amizade, preconceito, revolta, velhice, infância. Na quebrada de Ferréz, a temática é farta e a linguagem, bruta como o sistema. Como é de praxe na obra do autor, a palavra é arma da vez.

Antes de se dedicar exclusivamente à escrita, atividade que faz parte de sua vida desde os 12 anos, e se tornar um dos expoentes da literatura marginal, o paulistano Ferréz trabalhou como balconista, auxiliar-geral e arquivista. Seu primeiro livro, Fortaleza da Desilusão, foi lançado em 1997, mas foi após Capão Pecado (2000) que ele se firmou como um dos mais reconhecidos escritores de sua geração. Entre seus livros de maior repercussão estão o romance Manual prático do ódio e Deus foi almoçar (ambos editados pela Planeta). Ferréz vive no bairro do Capão Redondo, periferia de São Paulo, com a esposa e a filha.

capaOs Ricos Também Morrem
Autor: Ferréz
Gênero: ficção
Páginas: 192
Editora: Planeta
Preço: R$ 29,90

Lançamento com leitura e sessão de autógrafos
Quando:
terça-feira, 5 de maio, a partir das 19h
Onde: Livraria Martins Fontes
Avenida Paulista, 509 – Bela Vista, São Paulo (SP)
Quanto: grátis