Dança

Espetáculo propõe reflexão sobre o que se rouba na nossa sociedade

Em produção de 'O que se Rouba', grupo de danças urbanas Zumb.Boys dialogou com ladrões, policiais, sociólogos, advogados e filósofos. 'Para muitos, as oportunidades são poucas ou quase nunca vêm'

Kelson Barros/Divulgação

‘O desejo de tornar esse assunto um espetáculo veio de algumas conversas com jovens infratores e ex-ladrões’

Roubos imateriais. Este é o tema do espetáculo O que se Rouba, que o grupo de danças urbanas Zumb.Boys estreia nesta sexta-feira (23), às 20h, no Teatro Flávio Império, na zona leste de São Paulo. Durante sete meses, eles fizeram oficinas, treinamento, investigação corporal, além de uma pesquisa minuciosa sobre o assunto. Mas esta não é a primeira vez que eles propõem uma reflexão sobre o ato de roubar.

Em 2014, o grupo estreou a peça Ladrão, que tem como fio condutor os fatores que determinam as ações desses infratores. “O desejo de tornar esse assunto um espetáculo veio de algumas conversas com jovens infratores e ex-ladrões da região onde sou morador e arte-educador, na zona leste. Eles apresentaram em seus discursos uma inteligência única de planejamento e estratégias, ou seja, grande propriedade lógica de alguns fatos. Essas conversas deram início a uma primeira investigação. Trouxemos um pouco desse contexto e sensações que nele está inserido para o processo de pesquisa e criação do trabalho”, afirma o diretor do espetáculo Márcio Greyk.

Contemplado pelo 17° Edital de Fomento à Dança de São Paulo, o grupo deu continuidade à sua pesquisa sobre o ladrão, mas desta vez com uma perspectiva diferente. “Tivemos a oportunidade de trazer a ideia de roubos imateriais, como o roubo das possibilidades, da igualdade. O caminho para conseguir e construir alguma coisa não é igual para todos, para muitos, as oportunidades são poucas ou quase nunca vêm, para outros, elas já estão”, opina Greyk.

Dividindo a pesquisa em segmentos, os Zumb.Boys dialogaram com ladrões, policiais, sociólogos, advogados e filósofos e propuseram uma reflexão sobre o que se rouba hoje em nossa sociedade, ponderando as várias possibilidades de roubo para além do material. “Roubos imateriais certamente são roubos concretos e de reverberações tão violentas quanto qualquer outro. O grande roubo nesse caso, para nós, é o roubo do possível. Quando a sociedade diz a um indivíduo onde ele precisa chegar, mas não apresenta condições e recursos para que ele possa ir, como uma educação de qualidade, hospitais, segurança pública, ela está roubando o desenvolvimento desse indivíduo.”

O cenário do espetáculo é uma prisão imaginária que remete o público às várias prisões imateriais com as quais lidamos no cotidiano: “Você não está preso fisicamente, mas está preso a um modo de existir, que muitas vezes não te permite arriscar e se libertar de amarras abrigadas em demarcações invisíveis”, afirma o diretor. A correria, que em Ladrão aparecia como a fuga, em O que se Rouba é apresentada como uma grande corrida para não ficar atrás, o movimento para encurtar a distância de quem sempre esteve à frente nas oportunidades.

O grupo traz em sua formação os bailarinos Márcio Greyk, Danilo Nonato, David Xavinho, Guilherme Ferreira e Vinicios Silva Costa. Juntos, eles apresentam o resultado dessa investigação corporal e social em forma de dança urbana, com ênfase na cena do breaking e hip-hop.

Confira a programação completa da temporada de O que se Rouba na página do Grupo Zumb.Boys no Facebook ou no site www.zumbboys.com.

O que se Rouba
Teatro Flávio Império
23, 24 e 25 de outubro
Sexta e sábado às 20h. Dominho às 19h
Rua Professor Alves Pedroso, 600, Cangaíba, São Paulo
Grátis

CEU Três Lagos
29 de outubro, quinta-feira, às 10h e às 16h
Estrada do Barro Branco, S/N., Jardim Três Corações
Grátis

Teatro Alfredo Mesquita
20, 21 e 22 de novembro
Sexta e sábado às 20h. Dominho às 19h
Avenida Santos Dumont, 1770, Santana
Grátis

Centro Cultural São Paulo
8, 9 e 10 de dezembro
Terça e quarta-feira às 21h. Quinta-feira às 19h
Rua Vergueiro, 1000, Paraíso
Grátis

Ficha técnica
Direção geral: Márcio Greyk
Ensaiadora: Silvana de Jesus
Intérpretes criadores: Danilo Nonato, David Xavinho, Márcio Greyk, Guilherme Ferreira e Vinicios Silva Costa
Colaborador no processo coreográfico: Eddy Guedes
Colaboração artística: Ana Teixeira
Professores de técnicas: Flávio Rodrigues, Hugo Campos e Maristela Estrela
Trilha sonora: Ana Fridman
Figurino: João Pimenta
Sonoplasta: Alex Araújo
Desenho de luz: Alexandre Zullu
Iluminador: Renato Lopes
Cenografia: Benedito Nunes, Clibio Fernando, Márcio Greyk e Kelson Barros
Design gráfico: Juliana Santos
Fotos: Mari Turco e Kelson Barros
Assessora de imprensa: Luciana Gandelini
Produção: Cazumbá Produções Artísticas
Produção geral: Kelson Barros
Duração: 45 minutos 
Classificação: livre