Em ‘Brüno’, Baron Cohen tira piadas do preconceito

Comédia de Cohen critica culto às celebridades instantâneas. Seu novo personagem - Brüno - não mede esforços para conquistar a fama

(Foto: Divulgação)

São Paulo – Se Borat foi considerado engraçado, transgressor, nojento ou abusivo, era porque ninguém conhecia ainda Brüno, personagem também criado por Sacha Baron Cohen, que chega aos cinemas no filme homônimo, na sexta-feira.

O protagonista é um homossexual austríaco, apresentador de um programa de televisão especializado em moda, obcecado por celebridades e fama.

A sua demissão, por conta de alguns incidentes, serve de desculpa para Brüno sair em busca do mundo e conquistá-lo. Dos Estados Unidos ao Oriente Médio, com uma rápida parada na África, o personagem leva por onde passa o humor sem limites — muitas vezes hilário, outras, grosseiro – do criador de Borat.

Em 2006, com “Borat – O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América”, Baron Cohen elevou o patamar do politicamente incorreto e do ofensivo com seu repórter cazaque numa cruzada pelos Estados Unidos a fim de compreender e desvendar o American way of life.

“Brüno” não é muito diferente, mas, em alguns momentos, o ator parece ter perdido completamente o limite. O personagem quer ser “o maior superstar austríaco desde Hitler”.

Dirigido por Larry Charles, o mesmo de “Borat”, a comédia é precisa ao criticar o culto às celebridades instantâneas — um fenômeno que atingiu proporções assustadoras nos últimos tempos. Aqui, novamente, boa parte da graça vem de pessoas que não são atores reagindo às provocações de Brüno — todas feitas num tom muito sério, como se fosse real.

Na fashion week da Áustria, antes de ser demitido, o personagem entrevista uma modelo e pergunta sobre as dificuldades da profissão – entre as quais, a de colocar o pé direito na frente do esquerdo, e vice-versa, ou seja, o simples ato de andar. A moça seriamente concorda que, realmente, é muito difícil.

Vivemos num mundo fútil que cultua o superficial e, ciente disso, Baron Cohen não poupa ninguém. Em sua escalada rumo à fama, Brüno lança um programa de entrevista e convida a cantora Paula Abdul para falar sobre seus trabalhos humanitários e como eles são vitais para ela – tudo isso enquanto está sentada nas costas de um mexicano que lhe serve de cadeira.

La Toya Jackson também estava no talkshow, mas, após a morte de Michael Jackson, sua cena foi cortada. Em outros momentos, o rapaz tenta estabelecer a paz entre israelenses e palestinos, que culmina num canto, cujo refrão é algo como Brüno, a pomba da paz.

Nem políticos americanos são poupados. Ron Paul, aspirante à Presidência dos EUA, certamente não sabia com quem se envolvia ao aceitar participar de uma entrevista com Brüno, que termina num quarto de hotel com o entrevistador tentando fazer um filme pornográfico com o ex-candidato.

É uma máxima maquiavélica: os fins justificam os meios. Se, por um lado, Brüno encarna um clichê atrás do outro, por outro, seu objetivo – o de expor, entre outras coisas, a homofobia norte-americana – parece desculpar esse mesmo sentimento do próprio filme.

Talvez, o que pese contra o longa é que, ao contrário do ingênuo personagem Borat, Brüno não mede esforços para conquistar a fama e acaba sendo tão desnecessário quanto o preconceito que ele quer expor.

No Brasil, como na Austrália, “Brüno” é exibido numa versão um pouco mais curta do que a lançada nos Estados Unidos. Numa das cenas, por exemplo, não são mostradas todas as peripécias sexuais do personagem e seu amante nanico – ficou, na versão brasileira, apenas uma garrafa de champanhe presa em seu traseiro.

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