‘Direito de Amar’ encontra força em papel de Colin Firth

(Foto: Divulgação) São Paulo – Em um certo momento no filme “As Horas”, a personagem de Nicole Kidman, a escritora Virginia Woolf, faz comentários a respeito do livro que está […]

(Foto: Divulgação)

São Paulo – Em um certo momento no filme “As Horas”, a personagem de Nicole Kidman, a escritora Virginia Woolf, faz comentários a respeito do livro que está escrevendo, “Sra. Dalloway”, que narra um único dia na vida de uma mulher. “E aquele dia é a vida inteira dela”, conclui. Isso serve como fio condutor para o filme inteiro, que conta um só dia na vida de várias personagens.

“Direito de Amar”, que estreia em todo o país, tem muito em comum com aquele filme, e não apenas pelo fato de ter Julianne Moore no elenco e de a ação se passar num único dia na vida do protagonista.

“Direito de Amar” encontra sua força, porém, na interpretação melancólica e contida de Colin Firth (de “Mamma Mia!”), premiado no Festival de Veneza do ano passado, vencedor do Bafta e um dos favoritos ao Oscar de melhor ator – seu único adversário de peso é Jeff Bridges por “Coração Louco”, que também estreia no Brasil nesta sexta-feira.

O inglês compõe um personagem cheio de nuances e contornos dramáticos e, por isso mesmo, muito crível. Como “As horas”, “Direito de Amar” tem como protagonista um personagem homossexual, mas nunca transforma esse fato na sua razão de existir ou em uma bandeira a ser hasteada.

George (Colin Firth) é um professor universitário que sofre com a morte de seu amante, Jim (Matthew Goode, de “Match Point – Ponto Final), num acidente de carro. Devido aos preconceitos da época, os anos 50, ele nem mesmo pode assistir ao seu funeral, o que foi expressamente proibido pela família de Jim.

George planeja como será seu último dia de vida (em nova coincidência com alguns dos personagens de “As Horas”).

Para ele, o suicídio não é uma saída, mas sua única opção, depois da morte do namorado. Mesmo assim, tenta levar normalmente suas últimas horas, como se fosse um dia qualquer: vai à universidade, dá aulas e combina um jantar com sua amiga Charley (Julianne Moore).

As melhores cenas acontecem na companhia de Charley, quando vêm à tona dores do passado e do presente e a força da amizade parece capaz de superar os problemas. Mas, como o amigo, Charley é um desastre emocional ambulante. Abandonada pelos filhos crescidos, vive isolada em sua casa refinada, desesperada por um pouco de carinho e atenção.

George esconde-se por trás de uma máscara que criou para si. O mundo o vê como um homem bem-resolvido, sem problemas, sem que ninguém imagine realmente os conflitos e a solidão que o dominam.

Kenny (Nicholas Hoult, de “Um Grande Garoto”) é um aluno que se interessa por ele, mas George vê no garoto mais uma projeção do seu passado do que interesse emotivo ou sexual.

“Direito de Amar” também marca a estreia na direção do estilista norte-americano Tom Ford, que financiou o filme com recursos próprios, e mostra que conhecimento de cinema, especialmente do contemporâneo, evocando Wong Kar-Wai – no tempo fragmentado e na fotografia – e Pedro Almodóvar – uma foto gigantesca de “Psicose”, ao fundo de uma cena, remete diretamente ao cartaz da peça “Um Bonde Chamado Desejo”, em “Tudo Sobre Minha Mãe”. Apesar de bem utilizadas, são referências que nem sempre se encaixam perfeitamente no filme.

Não se sabe ainda se Ford irá seguir carreira como cineasta. Sua escolha do tema e do elenco mostram que ele pode ser um diretor destemido e ousado.

Fonte: Reuters

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